Plastino fazia delivery de dinheiro até a residência de Cícero e Walter Gomes

20/09/2017 07:43:00

Documentos deixados por empresário mostram entrega de valores nas casas de ex-vereadores em Ribeirão Preto

Weber Sian/ A Cidade
Marcelo Plastino era um dos investigados na Operação Sevandija (foto: Weber Sian/ A Cidade)

 

Além dos cafezinhos em locais públicos, Marcelo Plastino também atuava como delivery, entregando dinheiro nas residências de Walter Gomes (PTB) e Cícero Gomes (PMDB). A informação consta em documentação entregue na delação premiada da namorada e do sócio do empresário.

As defesas de Cícero e Walter negaram veementemente o recebimento de valores, e colocaram em xeque a credibilidade dos documentos. Eles apontam desde anotações feitas a lápis a informações desencontradas.

Na delação premiada, Paulo Roberto e Alexandra Martins entregaram ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), 689 páginas de documentação, entre manuscritos inéditos de Plastino e relatórios impressos.

Em um documento impresso, há a afirmação de que Plastino manteve “poucos encontros” com Cícero, “inclusive quando levava dinheiro em sua residência em 2015”.

O mesmo documento afirma que também ocorreram “vários encontros na casa do Walter (condomínio – quase todos os meses), postos de gasolina, Câmara, na Atmosphera”, em contexto sobre os repasses a Walter Gomes.

Cafezinho

Em 11 de agosto, a Polícia Federal interceptou conversas de Plastino agendando um café com os ex-vereadores.

Às 16h, o empresário se encontrou com Walter Gomes e entregou um envelope pardo escondido dentro de uma revista.

Em seguida, foi ao Shopping Iguatemi e se sentou com Cícero Gomes. Novamente, uma revista recheada com envelope foi entregue.

Em depoimento ao juiz nas audiências, um delegado e um agente da Polícia Federal afirmaram que Plastino, ao ser preso, assumiu informalmente que os envelopes tinham dinheiro – seria, segundo o empresário, ajuda de campanha por meio de caixa 2.

Quatro dias após o encontro, Walter ligou para seu contador e perguntou o que fazer caso, “hipoteticamente”, uma pessoa tivesse pago R$ 10 mil de uma dívida antiga de campanha. Cícero e Walter também aparecem nas notas de R$ 2 deixadas por Plastino, sob as siglas CG e WG. 

Divulgação / Polícia Federal
Foto mostra Marcelo Plastino (dir.) durante entrega de revista a Cícero Gomes (PMDB) (foto:Divulgação / Polícia Federal)

 

Ligações constantes

Na documentação da delação premiada, Alexandra e Paulo Roberto trouxeram relatório das ligações telefônicas feitas pelo celular de Marcelo Plastino entre 2013 e 2016, indicando as conversas com alvos da Operação Sevandija.

A Cidade localizou 38 ligações para o celular de “Paixão”, assessor e braço-direito de Cícero, e outras 158 para o celular de Walter Gomes. Entre maio de 2014 e agosto de 2016, as ligações tendo Cícero como destinatário são praticamente mensais – com exceção do período entre maio de 2015 e fevereiro de 2016, em que não há registro, além de outros quatro meses.

Já Walter tinha mais intimidade com o empresário. Entre abril de 2014 e agosto de 2016, foram apenas três meses sem contato telefônico. Eles conversaram, até, no dia 24 de dezembro de 2014, véspera de Natal, e 30 de dezembro do mesmo ano, próximo ao réveillon. 

Divergência

Em um papel manuscrito, defesa de Cícero aponta que menção a entrega de dinheiro ao ex-vereador (em destaque) está a lápis e com caligrafia diferente da do empresário.

Advogados negam recebimento

O advogado de Cícero, Marco Túlio Gomes, negou o recebimento de valores. Ele apontou que, no documento manuscrito, Plastino anota à caneta, abaixo do nome do ex-vereador: “poucos encontros, nenhuma tratativa”. 

Ao lado, e com uma grossura da letra diferente, há outra anotação: “algumas x levava $ casa dele (2015)”. 

“Isso está claramente escrito a lápis, com uma caligrafia diferente dos outros manuscritos de Plastino”, afirma Marco Túlio.

De acordo com o advogado, além dessa, a única menção a entrega de dinheiro na casa de Cícero está na documentação impressa trazida na delação que, segundo ele, há indícios de que foi produzida após a morte do empresário.

“No dia 1º de setembro [data da deflagração da Sevandija], não encontraram dinheiro na casa e no gabinete [de Cícero]”, afirma.

Júlio Mossin, advogado de Walter Gomes, também nega o recebimento de valores e colocou em xeque a delação.

“Há muitas informações desencontradas e vagas. Não há sequer menção à data ou autoria dos documentos impressos”, afirma, acrescentando que irá questionar judicialmente a validade das provas.

Sobre a confissão “informal” de Plastino na Polícia Federal, ele diz que ela não é prova. “Se é que  ela ocorreu mesmo. Esse tipo de afirmação não poderia ter vindo ao processo, sem a devida formalização em depoimento ou colaboração premiada”.

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