Executivo explica codinome 'Corredor' dado a Nogueira

16/04/2017 12:40:00

Em delação premiada tornada pública pelo STF, ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo revela que ele deu apelido ao atual prefeito

Ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo (Foto: Reprodução)

 

Em vídeo gravado no acordo de delação premiada, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo, reafirma que Duarte Nogueira (PSDB) recebeu doação por meio de caixa 2 em 2010 e explica como o atual prefeito de Ribeirão Preto foi apelidado de “Corredor”.

“Ele não tinha relação com a empresa antes e, em conversa, comentamos que ele corria. Então, eu botei o codinome Corredor”, afirma Melo. O executivo diz que não pediu contrapartida de apoio de Nogueira à Odebrecht pela doação.

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Segundo ele, em 2010 foi procurado por Nogueira, então deputado federal, e teve reunião no gabinete do tucano no Congresso Nacional exclusivamente para tratar de contribuição de campanha. Melo afirma que transmitiu a demanda a Carlos Paschoal, executivo da Odebrecht em São Paulo.

Paschoal disse que foram repassados R$ 50 mil, mas Melo explica que, em consulta nas planilhas do Setor de Operações Estruturadas – responsável por repasses ilícitos a agentes políticos – constam duas doações, de R$ 50 mil e R$ 300 mil, totalizando R$ 350 mil.

“Esses dados constam no sistema da Operações Estruturadas, consequentemente é valor não oficializado. Caixa 2”, explica Melo, que diz acreditar que os repasses foram “em espécie”.

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Questionado se comentou com Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira, sobre o pedido de Nogueira, Melo afirmou não se lembrar. “Era um caso menor”, ressalta.

Quatro anos depois, em 2014, o executivo diz que foi novamente chamado por Nogueira para tratar de doação eleitoral. Desta vez, a empreiteira repassou R$ 300 mil, mas por meio da via oficial.

De acordo com Melo, o tucano tinha uma “relação próxima” com o diretora de RI da Odebrecht Agroindustrial, Amaury Pekelman, já que Nogueira defende o setor agrícola.

Contrapartida

Tanto em 2010 quanto em 2014, Melo nega que as doações da Odebrecht tenham servido para que Nogueira atuasse em prol da empreiteira. “Não houve nenhuma demanda da empresa”, diz Melo, ao ser questionado se a Odebrecht pediu contrapartida ao tucano em 2010.

Já em 2014, perguntado se o deputado “prometeu algo, ofereceu algo” quando fez a solicitação, Melo novamente negou: “Em absoluto”.

Conforme A Cidade revelou na edição de sábado (15), planilha apresentada pela Odebrecht com as doações de caixa 2 aponta que Nogueira, sob codinome “Ponta Porã”, recebeu R$ 50 mil em 2010 por ter “disposição de defender projetos de interesse da companhia”. “Eu me sentiria à vontade de fazer algum pedido a ele, mas não me lembro de ter feito”, afirma Melo.

Jirau

Melo explica, na delação, que conheceu Nogueira em 2008, no contexto da licitação da Usina de Jirau, por intermédio do deputado federal Bruno Araújo (PSDB) e do presidente da Odebrecht Energia, Henrique Valadares.

Conforme A Cidade mostrou na edição deste sábado (15), a Odebrecht perdeu o leilão de Jirau para um consórcio de empresas concorrente e tentava anular o certamente alegando irregularidades.

Na audiência pública realizada na Câmara, Nogueira foi um dos deputados mais combativos ao apontar irregularidades no certame. “O deputado Duarte Nogueira era membro da comissão de Minas e Energia, e eu pedi ao deputado Bruno Araújo para ver se ele poderia ouvir as razões de Henrique Valadares. Ele entendeu as razões da empresa e acompanhou o processo na audiência”, diz Melo.

Questionado se Nogueira fez pedido por dinheiro em 2008, Melo negou: “Não havia razão e não era ano eleitoral”.

Outro lado

Nogueira ainda não é formalmente investigado na Lava Jato. Por não ter foro privilegiado no STF, os documentos relativos a ele foram encaminhados à Procuradoria Regional da República e ao Tribunal Regional Federal (TRF), que decidirão os próximos andamentos.

Em nota enviada na sexta-feira (14), Nogueira afirmou que, como “líder da oposição e crítico constante aos governos do PT, não há nenhum fundamento nas acusações de que teria recebido doações e/ou agido para defender interesses de empresas junto a órgãos da administração federal”.

Ele ressalta também que, como parlamentar, atuava na “fiscalização e na defesa dos interesses públicos”, e que todas as doações recebidas nas campanhas de 2010 a 2014 foram declaradas à Justiça Eleitoral.



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