Duas terceirizadas da Prefeitura de Ribeirão Preto receberam R$ 577 mil de Zuely

04/03/2017 16:49:00

MP investiga a razão de cheques da advogada terem sido depositados nas contas da Ambiental e Carvalho Multisserviços

Matheus Urenha / A Cidade
Filha de Marco Antônio dos Santos usou dinheiro de Zuely para comprar casas na zona Sul (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

Duas tradicionais empresas de terceirização, que prestam desde serviços de limpeza à manutenção de imóveis para a prefeitura de Ribeirão Preto, receberam, entre 2013 e 2016, R$ 577 mil em suas contas provenientes de seis cheques emitidos por Zuely Librandi.

A quebra do sigilo da advogada aponta que além das terceirizadas, fábricas de doces e uma garagem de veículos receberam cheques redondos, exatamente nos mesmos valores, em datas próximas. O Ministério Público investiga o motivo da emissão desses cheques, mas suspeita de uma sistemática de depósitos em nomes de laranjas para ocultar o verdadeiro destinatário do dinheiro.

Ao todo, na conta da Carvalho Multisserviços foram depositados seis cheques no total de R$ 487 mil (incluindo depósitos feitos na empresa Carvalho e Nogueira, sua antiga denominação) e um cheque de R$ 90 mil foi depositado na conta da Ambiental.

A Operação Sevandija identificou que essas mesmas empresas depositaram cerca de R$ 70 mil nas contas de Sandro Rovani no mesmo período.

Apenas entre a 2014 e 2016, a Prefeitura de Ribeirão Preto pagou R$ 50 milhões a essas empresas, que realizam desde reformas e manutenção de prédios públicos até limpeza urbana. “Ele (Sandro) se utilizava de interpostas pessoas (laranjas) para receber as quantias volumosas, tudo isto para não levantar suspeita”, diz relatório do MP.

Dadinho

As terceirizadas não são os únicos destinatários sem motivo “plausível”, de acordo com o relatório do MP, a depositarem cheques de Zuely.

Levantamento feito pelo A Cidade aponta que a empresa responsável pelo doce Dadinho e a fábrica que o produz em Ribeirão Preto receberam, juntas, R$ R$ 632 mil em cheques de Zuely – R$ 222 mil para a Doce Sabor e R$ 410 mil para a Bono Gusto.

Consulta no Tribunal Regional do Trabalho aponta que Sandro Rovani já atuou em um processo trabalhista para a empresa Qualybom, antiga fabricante do Dadinho, em que a Doce Sabor e a Bono Gusto também são partes requeridas.

Nenhuma dessas empresas se posicionou sobre o motivo e destino desses recursos. Conforme A Cidade revelou na edição de quinta-feira, Zuely emitiu R$ 11,9 milhões em cheques, dos quais R$ 10,6 milhões são em valores praticamente “redondos”, reiterados e acima de R$ 20 mil – a maior parte entre R$ 70 mil e R$ 90 mil.

Weber Sian / A Cidade
Advogada Maria Zuely Librandi está presa desde o último dia 3 de dezembro acusada de corromper agentes públicos (Foto: Weber Sian / A Cidade - 02.dez.2016)

 

R$ 11,9 milhões em cheques

Na edição de quinta-feira (2), A Cidade revelou, com base em um relatório sigiloso do Ministério Público com a quebra do sigilo bancário de Zuely Librando, que a advogada emitiu R$ 11,9 milhões em cheques a partir do momento em que passou a receber o dinheiro dos honorários.

Entre os destinatários da “farra dos cheques” estão o ex-marido da ex-prefeita Dárcy Vera, Mandrison Almeida, e o ex-secretário da Casa Civil, Layr Luchesi Júnior, que receberam, respectivamente, R$ 32 mil e R$ 60 mil.

Ontem, A Cidade revelou que a filha de Marco Antonio dos Santos comprou uma casa de R$ 500 mil com R$ 240 mil de cheques emitidos por Zuely. A advogada alega que foi extorquida por Sandro e Wagner, e emitia cheques não nominais a ambos.

R$ 837 mil para garagem de veículos

Uma garagem de revenda de veículos na Avenida Marechal Castelo Branco, zona Oeste de Ribeirão Preto, e seu proprietário, José Ricardo Arruda, receberam R$ 837 mil de cheques emitidos por Zuely Librandi. Foram 11 cheques, todos com valores exatamente redondos: dois de R$ 90 mil, dois de R$ 87 mil, dois de R$ 84 mil, um de R$ 80 mil, um de R$ 70 mil, um de R$ 65 mil e dois de R$ 50 mil. Arruda informou à reportagem que já pegou dinheiro emprestado com Sandro Rovani, mas negou conhecer irregularidades praticadas pelo advogado. O proprietário disse que conversaria ontem com mais profundidade com a reportagem, mas desmarcou o encontro e não atendeu às ligações.

Como funcionava o esquema
Movimentação financeira

Movimentação financeira de Zuely e seu escritório de advocacia (janeiro de 2013 a julho de 2016)
Saques na boca do caixa: R$ 4.777.300,28
Cheques: R$ 11.329.024,99
Como seria paga a propina
1- Saques realizados na boca do caixa e entrega direta para destinatários

2- Cheques direto para Sandro e sua mãe, que depois repassavam aos demais integrantes do grupo, depositados por empresas e pessoas “laranjas”. Empresas suspeitas de servirem como laranjas para depósitos: lojas de veículos, fabricantes de produtos alimentícios, prestadoras de serviço para a prefeitura.

Casos de cheques de valores idênticos, datas próximas e destinatários diversos:

14/01/2014 - R$ 87 mil na conta de Doce Sabor (fábrica de doces)
20/02/2014 – R$ 87 mil na conta de José Arruda (garagem veículos)
28/04/2014 e 02/05/2014 - R$ 65 mil e R$ 70 mil na conta de José Arruda (garagem veículos)
21/05/2014 - R$ 65 mil e R$ 70 mil na conta de Doce Sabor (fábrica de doces)
13/11/2014 - R$ 90 mil na conta de Semi Novos Veículos (empresa de José Arruda)
29/12/2014 - R$ 90 mil na conta de Carvalho Multisserviços (empresa terceirizada da prefeitura)
10/03/2015 - R$ 90 mil na conta de ambiental (empresa terceirizada da prefeitura)
29/09/2013 - R$ 90 mil na conta da empresa Carvalho e Nogueira (antiga Carvalho Multisserviços)
07/10/2013 - R$ 90 mil na conta de José Arruda

Outro lado
Empresas negam ilegalidade

Tanto a Carvalho Multisserviços quanto a Ambiental não quiseram explicar o motivos dos cheques de Zuely, mas alegaram, em nota, que agem dentro da legalidade e que estão à disposição da Justiça para as explicações necessárias.

A reportagem conversou na quinta-feira (2) por telefone com José Ricardo Arruda, que alegou que Sandro já atuou como seu advogado e desconhecia irregularidades praticadas por ele. Sobre os depósitos, ele marcou entrevista presencial com a rertagem ontem às 16h30, mas desmarcou em cima da hora e não atendeu mais às ligações.

Desde quarta-feira (1) A Cidade contacta a assessoria de imprensa da Doce Sabor, responsável pelo doce Dadinho, mas a empresa não se posicionou sobre os cheques que recebeu. Ontem, a reportagem ligou e enviou emails ao setor administrativo da Doce Sabor e Bono Gusto, também sem resposta.



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