Greve cancela 700 consultas médicas em Ribeirão Preto

26/08/2016 09:04:00

Movimento teve início na segunda-feira e, segundo a diretoria do hospital, não tem previsão de término

Mastrangelo Reino / A Cidade
Beneficência está com atendimento parcialmente afetado desde segunda-feira (foto: Mastrangelo Reino / A Cidade)

 

A greve de médicos do Hospital Beneficência Portuguesa vem penalizando pacientes nos últimos quatro dias. Desde o início da greve, na segunda-feira, mais de 700 consultas deixaram de ser feitas, em seis especialidades. A diretoria do hospital informou que não há previsão de término da paralisação.

Segundo os médicos, eles estariam sem receber há quatro meses, mas a diretoria do hospital rebate e informa que eles estão recebendo proporcionalmente conforme os repasses do SUS (Sistema Único de Saúde) chegam. Hoje, cerca de 80% dos pacientes do hospital são da rede pública.

A paralisação afeta consultas médicas em cirurgia vascular, cardiologia, cirurgia geral, ortopedia, urologia e oncologia. Os atendimentos de urgência e emergência, porém, têm sido realizados normalmente.

Enquanto isso, pacientes com consultas agendadas estão sendo mandados para casa. É o caso da estudante Patrícia Costa Alves Moreira, 19, que ontem tinha um retorno marcado para acompanhar o pós-operatório de uma cirurgia de apendicite.

A comissária de bordo Grace Lopes, 23, levou a avó, Neuza Maria, de 74 anos, à consulta com o cardiologista. Ambas também tiveram de voltar para casa. “Demorou um mês para conseguir a consulta e aconteceu isso. Entendo que os médicos querem melhorar o lado deles, mas é complicado para quem está doente”, reclama Grace.

“Não deram prazo de quando passarei por consulta. Deveriam ter me avisado antes, tenho dificuldade de locomoção. Minha filha perdeu hora de serviço para nos trazer aqui”, diz Neusa, que faz tratamento com cardiologista há dois anos.  

Falta de consideração

Patrícia Costa Alves Moreira, 19 fez uma cirurgia de apendicite há um mês e não conseguiu ser atendida no início da tarde de ontem. A consulta estava marcada para as 13h, conforme ela mostrou à reportagem. “Vim de ônibus do Jardim Paiva para saber como estão os pontos internos da cirurgia, mas dei com a cara na porta. Para mim isso é falta de consideração”, disparou. A paciente considera que agora está insegura, já que ainda não foi informada a nova data da consulta porque não há definição sobre o fim da greve dos médicos. “A população não pode ser prejudicada”, conclui.

Hospital aponta dívida de R$ 2,1 milhões

A diretoria do hospital informou que a prefeitura tem hoje uma dívida de R$ 2,1 milhões em repasses do SUS referentes aos meses de abril, maio e junho e que o repasse de julho vencerá no final deste mês.
A diretoria assumiu que tem dívidas a pagar, mas que o débito estava controlado e piorou por conta do atraso dos repasses feitos pela prefeitura. Todos os meses, a Beneficência faz cerca de 4 mil atendimentos ambulatoriais pela rede pública. “O retorno ao trabalho depende dos médicos, e ainda não há previsão de retorno”, conclui. O A Cidade tentou ouvir o representante dos médicos, mas foi informado pela diretoria do hospital que, por ora, eles não querem se pronunciar sobre a questão.

Secretaria culpa dívida

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a prefeitura não pode ser responsabilizada pelas dificuldades financeiras da Beneficência Portuguesa. “Elas derivam de enorme divida financeira que consome um quarto do valor da produção do SUS, recurso que nem chega ao hospital e vai direto para o banco”.

A secretaria informou ainda que, em agosto, já foram repassados ao hospital R$ 1,7 milhão, valor referente ao mês de julho e que ainda está em auditoria, além de R$ 594 mil, ou seja, R$ 2,3 milhões, o que corresponde a um mês de produção. “Enquanto isso, os planos de saúde efetuarão o pagamento, referente ao mesmo período, apenas em outubro”, compara.

A pasta informou ainda que, de janeiro a julho, o hospital recebeu recursos que representam 90% da produção total. “Sendo assim, é necessário que o hospital explique por que atrasa os pagamentos de seus profissionais”, conclui.

 

 

 



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