Além da dependência do crack, moradores de rua correm risco de envenenamento

29/07/2014 09:23:00

Polícia abre inquérito para apurar causas de duas mortes e exames serão feitos em bebidas e comidas encontradas

F.L.Piton / A Cidade
Moradores de rua dizem agora que só vão aceitar comidas doadas pela Igreja; morte de dupla é investiga pela polícia (foto: F.L. Piton / A Cidade)

No boletim de ocorrência, “morte suspeita”. Na declaração de óbito, “causa indeterminada”. Isso é tudo o que se sabe até agora sobre a morte de dois moradores de rua, de 42 e 48 anos, no sábado, na avenida Antônio da Costa Lima, no Quintino Facci I, zona Norte de Ribeirão Preto.

Outros dois homens que vivem os mesmos perigos que as duas vítimas de sábado relataram à polícia que elas beberam pinga e saíram à procura de comida pelo bairro. Ao conseguirem um marmitex, retornaram ao sofá localizado na calçada em que costumavam ficar e, em seguida, dormiram. As testemunhas foram, então, surpreendidas com os colegas mortos por volta das 22h. Elas disseram não ter conhecimento de qualquer tipo de desavença ocorrida com eles nos últimos dias.

Ao lado dos corpos havia duas embalagens de pinga Corote, marmitex, pães e uma garrafa de refrigerante. Os moradores de rua teriam expelido secreção pela boca e pelo nariz, indicando possível envenenamento. Eles teriam, ainda, defecado. Uma perita que esteve no local informou não ter condições de constatar produtos tóxicos visíveis. O material apreendido foi encaminhado ao Instituto de Criminalística (IC) para análise.

Suspeita
Os moradores do bairro acreditam que as vítimas tenham sido envenenadas. “Alguém enfezou de tanto eles pedirem comida e ‘temperou’ as marmitas”, comentou Arcanjo Rafael Gonçalves, 58 anos.

Milton César, 43 anos, garante que os moradores de rua eram tranquilos e inofensivos. “Eu conhecia um deles há muitos anos. Ele era um ótimo mecânico. Começou a beber depois que a mulher o abandonou. Era muito gente boa”, contou.

A comerciante Floripes Aparecida Gaspar da Silva, 62 anos, também não vê motivos para o envenenamento. Segundo ela, os moradores de rua não aborreciam a vizinhança.

“Eles ficavam na deles, não atrapalhavam em nada”, observou. Agora, os moradores de rua afirmam estar com medo de novos casos de morte suspeita. “Não aceito mais comida de ninguém, só do pessoal da igreja”, destacou a moradora de rua Neuza Aparecida Pereira Gomes, 33 anos.

Polícia Civil espera resultado de exames do IML

Um inquérito foi instaurado no 2º Distrito Policial (DP) para apurar a suspeita de envenenamento dos dois moradores de rua.

De acordo com a Polícia Civil, não havia qualquer sinal de violência física nos corpos dos dois homens encontrados mortos pelos colegas.

Exames

A Polícia Civil informou que as amostras de vísceras colhidas na necropsia serão encaminhadas para exames laboratoriais que podem indicar possíveis substâncias químicas contidas nas vítimas.

O laboratório de análises do Instituto Médico Legal (IML) tem até 30 dias para finalizar o pedido devido à complexidade dos exames.

Também foram solicitados exames nos restos de alimentos e objetos colhidos no local onde as vítimas foram encontradas.

 



    Mais Conteúdo