Justiça bloqueia R$ 100 milhões em bens de 'ex-sócio' de Pablo Escobar

22/05/2017 16:40:00

Operação Águas Profundas, da PF de Goiás, rastreia e bloqueia pela 1ª vez patrimônio milionário

Divulgação
Ao total foram bloqueados 45 imóveis de Mário Sérgio avaliados em R$ 100 milhões (Foto: Divulgação)

 

Pernambucano de Olinda, Mário Sérgio se instalou em Ribeirão Preto na década de 1970. Aqui, casou-se e teve duas filhas, que vivem hoje num condomínio de apartamentos na zona Sul da cidade.

É no nome das filhas que está o Hotel Ideali, instalado no Jardim Nova Aliança, zona Sul de Ribeirão Preto. O estabelecimento, segundo a PF, foi comprovadamente construído com o dinheiro do narcotráfico. As filhas negam.

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Em maio de 2014, dois meses depois de inaugurado e de estar em pleno funcionamento, o hotel, foi bloqueado pela Justiça Federal como resultado de três anos de investigação da Operação Águas Profundas, comandada pelo delegado federal Bruno Gama, da Polícia Federal de Goiás.

Ao total foram boqueados 45 imóveis de Mário Sérgio avaliados em R$ 100 milhões, entre eles fazendas, empresas, apartamentos, casas e o hotel – espalhados pelos estados de Mato Grosso, Goiás e Ribeirão Preto.

Atualmente, todos os bens bloqueados estão sequestrados por ordem da 5ª Vara Criminal da Justiça Federal de Goiás e devem permanecer assim até a sentença final do processo.

Segundo a Justiça Federal, a filha que administra o hotel atua como fiel depositária do estabelecimento e periodicamente – de três em três meses – é obrigada a prestar contas do faturamento, que também fica bloqueado até o trânsito julgado do processo. Os únicos valores que podem ser retidos são os referentes aos custos da manutenção do hotel.

800 páginas de investigação

O livro “Cocaína - a rota caipira”, que compila um verdadeiro acervo dos principais traficantes do Estado, tem despertado a atenção -quase como leitura obrigatória- de policiais, promotores, juízes e até desembargadores estaduais e federais, como o desembargador federal Fausto de Sanctis, e o juiz estadual Emílio Migliano Neto que fizeram questão de comparecer ao lançamento da obra.

Traficante não se deixava seduzir pelo lucro fácil
Trecho do livro “Cocaína – A rota caipira do Tráfico”

“Mário Sérgio e seu grupo passaram anos longe dos radares da PF, graças ao seu metódico líder, que se valia de meios de comunicação criptografados, códigos alfanuméricos e técnicas de contrainteligência para detectar qualquer aproximação suspeita em encontros da quadrilha. Mário Sérgio nunca se deixava seduzir pela ganância do lucro fácil, diante de qualquer risco mínimo: “Se eu não ganhar nada e não tiver que gastar alguns anos da minha... Da sua... Da de outro filho... Pagando advogado e sofrendo... Eu prefiro”, anotou certa vez em mensagem de celular.

Quem primeiro farejou algo de errado nos negócios tão bem-sucedidos de Mário Sérgio foi a CGPRE, órgão central de combate ao narcotráfico na PF em Brasília.

No fim de 2011, agentes escanearam seus negócios e vigiaram por semanas uma de suas fazendas em São Félix do Xingu (MT), onde havia uma pista de pouso erma, perfeita para o tráfico. Mas nem sinal de aviões.

Tudo parecia dar errado nas primeiras semanas de investigação. Os três agentes designados para investigar o grandioso esquema a partir de Goiás tateavam no escuro, com pistas fracas e pouquíssima informação. Era como se um elefante grande e gordo conseguisse passar despercebido atrás de uma touceira de mato...

Mário Sérgio não parava de surpreender os policiais. Nunca conversava sobre tráfico em telefones convencionais, nem agendava reuniões. Em vez do e-mail, preferia o “privnote”, serviço on-line que destrói a mensagem assim que é lida pelo destinatário. Impossível recuperá-la. O que a PF desconhecia até então era que a DEA acompanhava toda a saga de Mário Sérgio desde os anos 1990

(...) Em dezembro de 1996, o empresário e o piloto Raimundo Almeida da Silva voaram com 73 quilos de cocaína até o país africano. Lá, em uma pista clandestina, outro brasileiro aguardava pela carga.

Todos foram presos em flagrante pela polícia local. Mas Mário Sérgio ficaria apenas trinta dias atrás das grades. Subornou funcionários do governo e fugiu da penitenciária no início de 1997, escondido em um cesto de roupas sujas a caminho da lavanderia. Voltou à Colômbia e, no dia 24 de janeiro, foi detido novamente com mais 73 quilos de cocaína. A DEA não conseguiu apurar se houve condenação judicial nesse caso. Fato é que, nessa época, Mário Sérgio passou a trabalhar para o megatraficante goiano Leonardo Dias Mendonça.

Em 1998, chegou a levar cocaína escondida em turbinas de aviões da Colômbia para os estados norte-americanos do Texas e Ohio. Mas, diante de sucessivas apreensões da droga nos Estados Unidos, abortou a rota. E retomou seus contatos no Suriname. No fim da década, era considerado o maior traficante em atuação no país vizinho. Tornou-se amigo do filho do então presidente surinamês, Ronald Venetiaan, e doou US$ 50 mil, provenientes do tráfico, para a vitoriosa campanha à eleição de Ronald, em 2000. Em troca, segundo a DEA, mantinha sua rota da coca no país sem ser importunado pela polícia surinamesa. Ao mesmo tempo, alimentava em Ribeirão Preto a fama de empresário da construção civil, com dezenas de imóveis espalhados pela cidade, produto da lavagem do dinheiro do tráfico.”



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