Alvo fácil e com boa moeda de troca, o celular é hoje o principal alvo dos ‘ladrões de rua’ e vem puxando para cima o número de roubos em Ribeirão. A Polícia Militar estima que os telefones móveis tenham motivado 90% dos roubos e furtos cometidos contra pedestres na cidade.

Em apenas três dias, segundo levantamento feito pelo A Cidade com base em boletins de ocorrência nos dias 13, 14 e 15 de março, pelo menos dez roubos de celulares foram registrados em Ribeirão – mais de três por dia. O número real deve ser maior, já que nem todas as vítimas têm o costume de fazer o registro policial.

A Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Militar não têm estatísticas oficiais dessa modalidade de crime. Com exceção de veículos, cargas e bancos, os roubos são registrados pelo tipo de crime e não pelo produto levado.

O tenente Marco Pariz, do 51º Batalhão da Polícia Militar, estima que hoje, entre todos os furtos e roubos a pedestre em Ribeirão, 90% são de celulares pela facilidade. “A bolsa é uma incógnita, o criminoso não sabe o que vai encontrar. Hoje tem celulares que custam até R$ 6 mil, valor maior que uma moto seminova”, compara.

O policial afirma que os criminosos acabam optando pelo celular porque estariam menos suscetíveis a futuras abordagens. “Se o criminoso furtar uma moto e depois circular, facilita ser abordado. Com o celular no bolso, a chance de abordagem é menor”, diz.

Pariz diz ainda que hoje somente os aparelhos celulares mais sofisticados e caros podem ser rastreados quando desligados. “Estimo que 99% dos aparelhos não podem ser rastreados se estiverem desligados”.

Luz do dia

A educadora Carla (nome fictício), 29, foi assaltada há 15 dias, em plena luz do dia, enquanto esperava um colega de trabalho para pegar carona a duas quadras da rodoviária, região central de Ribeirão. Por volta das 7h15, um idoso passou e perguntou a hora a ela. Carla abriu a bolsa para ver o horário no celular.

Nesse momento, dois criminosos “de cara limpa” em uma motocicleta – o garupa armado de revólver 38 – renderam a vítima e levaram o aparelho. O prejuízo foi de R$ 1 mil. “Perdemos cada vez mais nosso direito de ir e vir, ficamos de mãos atadas”, diz a vítima.

Após o roubo, Carla mudou a rotina. Já comprou outro celular e agora só espera o colega de trabalho na área de embarque e desembarque da rodoviária. “Se o celular tocar na bolsa, não atendo até estar em algum lugar bem movimentado”, conclui.

 

Operação combate receptação

Uma operação conjunta entre a PM (Polícia Militar) e a Fiscalização Geral da prefeitura em lojas que vendem celulares usados foi realizada ontem com o objetivo de combater a receptação de aparelhos furtados ou roubados em Ribeirão Preto, crime que prevê de um a quatro anos de prisão.

Ao todo, 23 policiais da 1ª Companhia da PM e da Força Tática, em seis viaturas e em oito motocicletas da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas), vistoriaram 28 lojas que compram, vendem e fazem manutenção de celulares. Nenhuma irregularidade foi encontrada.

“Pode ser que os celulares roubados estejam sendo vendidos pela internet ou alguém venda na comunidade ou mesmo para outro município”, explica o tenente Marco Pariz, do 51º Batalhão da Polícia Militar.

Fiscais da prefeitura acompanharam os policiais e verificaram, nos mesmos estabelecimentos, que não havia irregularidades em alvarás de funcionamento nem relativas ao AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).

Convênio com a Anatel deve agilizar bloqueio de celular roubado e furtado

A Secretaria da Segurança Pública informa que um convênio com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) permitirá à Polícia Civil acesso a um sistema especial para bloquear os celulares roubados e furtados sem a necessidade de solicitar às operadoras.  Segundo a pasta, a medida será aplicada em âmbito estadual e agilizará o processo de bloqueio dos aparelhos levados pelos criminosos.

“O convênio será firmado até o fim de março”, informou a assessoria de imprensa. Policiais civis precisam atualmente entrar em contato com cada uma das empresas para solicitar o cancelamento. Com o sistema, o celular será bloqueado no momento do registro, o que vai impedir criminosos de utilizarem dados.

A secretaria já havia determinado a inclusão do Imei nos registros dos BOs, que, “além de permitir o bloqueio das funções dos aparelhos, resultou na criação de um banco de dados que auxilia a polícia a apreender os telefones subtraídos”.

Análise - População alimenta esse tipo de crime

“A população alimenta esse tipo de crime, existe uma grande contribuição porque muita gente compra celular mesmo sabendo que o aparelho é de origem criminosa, há um comércio. Com relação ao trabalho policial, é preciso que a Polícia Militar faça o trabalho ostensivo principalmente em locais com maior incidência desse tipo de crime, que costuma ser as regiões centrais das cidades. Por outro lado, a Polícia Civil precisa descobrir para onde esses celulares estão sendo vendidos, ir atrás dos receptadores. O cidadão, por sua vez, precisa tomar mais cuidado, não pode sair distraidamente ouvindo música e, se for usar o celular, deve entrar em um lugar protegido para não criar facilidades, não ficar usando o aparelho na calçada. Sobre o novo sistema da polícia que bloqueará celulares roubados, creio que essa medida deverá inviabilizar a compra do aparelho pelo mal intencionado, porque daí ele não terá o que fazer com o aparelho.” José Vicente da Silva, especialista em segurança.

O que fazer quando tiver o celular roubado ou furtado?

- Ligue na operadora e bloqueie o aparelho. O ideal é deixar anotado o IMEI em um papel em caso de roubo ou furto do aparelho. Mas o número também consta na nota fiscal ou na caixa do aparelho.

- Faça boletim de ocorrência. Com isso, a polícia saberá quais as áreas com maior incidência desse tipo de crime.

Dicas de prevenção

Ao fazer o uso do celular, principalmente na região central, entre em algum estabelecimento comercial para ficar mais protegido.

Caso esteja transitando na calçada ou no ponto de ônibus, deixe o celular no bolso ou dentro da bolsa.

Deixe o GPS do aparelho ligado, porque será mais fácil o rastreamento em caso de furto ou roubo.