Jovem é executado a tiros em frente de casa; laudo aponta 41 perfurações

28/07/2016 09:07:00

Pátio da Transerp foi incendiado e polícia investiga possível ligação com a morte do adolescente

Cristiano Pavini / A Cidade
Ilda dos Santos, recolheu algumas das cápsulas deflagradas ontem contra seu neto (foto: Cristiano Pavini / A Cidade)

Em plena luz do dia e em via pública, Alfred Vieira dos Santos, 17 anos, foi executado a tiros na manhã de ontem no Jardim Jandaia (zona Norte). O laudo médico apontou 41 perfurações no corpo. Familiares e amigos dizem que a vítima sofria constantes ameaças de um policial militar por ter participado da morte de um cabo da corporação em janeiro.

A execução ocorreu por volta das 10h30, no cruzamento das ruas Tabatinga com a David Salomão, em frente à casa onde a vítima morava. Ele e um parente estavam de bicicleta quando foram surpreendidos por dois homens encapuzados, um no volante e outro no banco de trás, em um Ford Fiesta prata, que começaram a atirar em Alfred.

“Ele correu, mas caiu na calçada. O carro estacionou e ficaram um tempão atirando nele. Descarregaram a pistola e recarregaram”, conta o familiar, que não se identificou. Uma criança de quatro anos estava na calçada durante a execução – cinco balas acertaram a parede de duas casas.

No início da tarde, três coquetéis molotov foram lançados no pátio da Transerp e danificaram 21 veículos. A suspeita é de que o ataque tenha sido uma represália à morte de Alfred. 

Ameaças

Dez pessoas ouvidas pelo A Cidade acusam um policial militar da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) que realiza patrulha no bairro. “Ele [PM] já entrou na minha casa segurando uma arma e disse que iria matar o Tiquinho [apelido de Alfred”], contou a avó do jovem, Ilda dos Santos, 70 anos.
Ela afirma que o PM, com frequência, imitava uma arma com a mão ao passar por Alfred. A irmã da vítima, de 26 anos, diz que informou a Vara da Infância e Juventude sobre as ameaças, já que o jovem cumpria medidas protetivas por ser egresso da Fundação Casa, mas que nenhuma medida foi tomada.

Histórico

Alfred teve duas passagens pela Fundação Casa. Em 2015, foi internado por roubo. Em janeiro deste ano, cumpriu nova medida socioeducativa, de três meses, por participação na morte do PM Edson Luiz Marques em 17 de janeiro.

Parecer do Ministério Público obtido pelo A Cidade aponta que Alfred confessou ter dirigido a moto que conduziu Patrick Cardoso dos Santos, apontado como autor dos disparos, até o local. Patrick foi morto com um tiro no tórax em abordagem da PM em sua casa três dias depois.

“Quem erra deve pagar na Justiça, não ser assassinado”, afirma Ilda. Aos familiares, Alfred contou não saber que Patrick iria matar o policial. Quatro horas após o crime de ontem, o pátio da Transerp foi incendiado.

Outro lado

Em nota enviada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Polícia Civil informou que o caso foi registrado como Homicídio Qualificado na Central de Flagrantes e que parentes e testemunhas serão ouvidos. 

“A polícia também faz diligências para procurar imagens de câmeras de segurança no bairro para identificar o veículo utilizado pelo criminoso”, informa a nota.

A SSP diz que foi solicitada a perícia do local da ocorrência e laudo necroscópico. “Não há, até o momento, indícios da autoria nem da participação de policiais” no crime, diz o órgão. 



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