Após 4 diagnósticos errados na UPA, homem perde o rim

02/10/2014 09:49:00

Fernando Garcia está internado em estado grave no HC após receber diagnósticos variados, de má digestão até depressão

Matheus Urenha / A Cidade
A família de Fernando registrou um boletim de ocorrência por conta do atendimento e diagnósticos equivocados que o homem recebeu na UPA durante fim se semana (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Fernando Garcia, 55 anos, perdeu um dos rins nesta segunda-feira e está internado em estado grave na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Com alta infecção, o órgão foi extraído em cirurgia de urgência, de acordo com relatos de sua família.

Foi preciso que o homem passasse quatro vezes pela UPA (Unidade de Pronto Atendimento), recebendo os mais diversos diagnósticos, até ser transferido ao hospital. Fernando queixava-se de dores intensas no abdômen, tinha calafrios e chegou a vomitar.

Os filhos contam que em uma das vezes em que procurou ajuda na unidade, ele chegou a receber morfina para dor, mas, ainda assim, teve alta sem um diagnóstico definido. Somente quando chegou ao HC, já em estado gravíssimo, o diagnóstico foi feito. Já não havia mais salvação para o rim, pelo alto nível de infecção.

“A médica que atendeu a gente no HC disse que se os médicos tivessem visto a infecção no sábado, quando nós procuramos a UPA pela primeira vez, o rim do meu pai poderia ter sido salvo”, acusa o filho, Fernando Garcia Filho.

Nas quatro vezes em que passou pela unidade de saúde municipal, o homem foi diagnosticado com má digestão, gases, pedra no rim e crise depressiva. “O único médico que acertou pelo menos um pouco foi esse da pedra no rim. Acertou o órgão”, critica Fernando.

O médico pediu um ultrassom, que deveria ser feito na manhã de segunda-feira. A pedra, porém, não foi localizada no procedimento. A família, então, levou Fernando, que dizia não aguentar mais as dores, pela quarta vez à UPA. “Os médicos falaram que ele não tinha nada. Disseram que o médico que tinha visto a pedra não entendia das coisas”, diz o filho.

Após descartarem a pedra, os médicos diagnosticaram o homem com “crise depressiva”. “Como uma pessoa com crise depressiva perde o rim? Meu pai gritava de dor. Eles trataram a gente com descaso”, se inconforma o outro filho, Rafael Garcia.

Poucos minutos depois de receber diagnóstico de “crise depressiva”, Fernando, que já estava com falta de ar, precisou de balão de oxigênio e foi transferido em UTI Móvel com urgência para o HC.

O filho Fernando expressa o inconformismo da família. “O que fica é a revolta. Eles erraram do início ao fim”. Ele diz que o rim que não foi retirado do pai está doente. “Temos que torcer pela recuperação”.
A assessoria do HC informou que o estado de Fernando é grave. De acordo com a família, ele está inconsciente e respira por aparelhos.

Arquivo Pessoal
Fernando Garcia passou por atendimentos na UPA e está no HC (foto: Arquivo pessoal)

Filho procura prefeitura

Na tarde de anteontem, depois de saber o diagnóstico crítico do pai, Fernando conta que procurou a prefeita Dárcy Vera (PSD) pelas redes sociais e pessoalmente, na porta da prefeitura. Diz ter sido informado pelos funcionários de que a prefeita não estava e, mesmo assim, aguardou. 

“De repente, vi ela saindo para entrar no carro e saí correndo, chamando e falando do meu pai”. Ele conta que a prefeita parou, ouviu o que ele tinha a dizer e prometeu investigações. “Ela pediu para não levar o caso para a mídia, mas a gente não ia deixar assim. Não é a primeira vez”, diz. 

No Facebook, a prefeita também respondeu ao filho, dizendo que o caso seria levado ao secretário de Saúde, Stênio Miranda. “Estou encaminhando sua mensagem agora para o Secretário de Saúde para que verifique e encaminhe”, ela escreveu em mensagem. 

Em maio deste ano, Gabriela Zafra, 16 anos, morreu de meningite após procurar atendimento nas unidades de saúde municipais cinco vezes, três delas na UPA. O caso é investigado pelo Cremesp e pela Polícia. 

Além deste caso, há pelo menos outros cinco mostrados pelo A Cidade neste ano, com denúncia de negligência na saúde municipal. Na semana passada, o caso da idosa que morreu na UBDS Central em busca de atendimento veio à tona. Uma comissão especial analisa a situação da saúde na Câmara Municipal.

Prefeitura vai investigar atendimento

A Secretaria Municipal de Saúde informou que vai abrir um “procedimento administrativo para avaliar a conduta de atendimento realizada”. Ao mesmo tempo, foi informado que “todas as medidas necessárias para garantia da integridade do paciente foram tomadas em tempo oportuno, nada havendo que indique equívoco”. 

A pasta explicou que Fernando procurou a unidade no dia 28, “foram solicitados exames laboratoriais e constatadas alterações, sugestivas de doença crônica e adotadas medidas para compensação de seu quadro clínico”.

Ainda no dia 28, a secretaria confirma que Fernando voltou à unidade e diz que “passou por nova avaliação médica”, que entendeu necessário o ultrassom. A pasta diz que os médicos consideraram que a internação era necessária a partir de “exames laboratoriais” e da “evolução clínica”. E que a internação foi solicitada às 11h50 e atendida em 40 minutos. 



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