Região tem 2.370 pacientes na fila de espera por cirurgias

08/12/2017 09:06:00

Somente no município de Ribeirão Preto, 1.472 pessoas aguardam por um procedimento

Weber Sian / A Cidade
Andreia Feliciano Galdiano espera hoje por uma cirurgia de varizes (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Ribeirão Preto e mais oito cidades da região têm 2.370 pacientes na fila de espera por cirurgias eletivas (não urgentes) pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Os dados foram repassados pela Secretaria de Estado da Saúde ao CFM (Conselho Federal de Medicina), por meio da Lei de Acesso à Informação.

Somente em Ribeirão Preto, 1.472 pessoas aguardam por um procedimento. No Estado, há 35 pacientes que estão na fila há 12 anos e ainda não conseguiram passar por cirurgia.

O conselheiro regional do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Eduardo Luiz Bin, considera que a fila de espera por cirurgias é elevada por uma série de fatores, como a falta de leitos nos hospitais e o financiamento insuficiente da saúde pública.

“Falta expressão política mais firme para melhorar o orçamento da Saúde. O financiamento do SUS deveria ser um pouco maior para a fila não ser tão grande”, considera.

Uma das saídas para resolver o problema seria fazer convênio com outros hospitais que não atendem o SUS para ampliar a oferta de leitos. “O Hospital das Clínicas fica muito sobrecarregado”, diz.

O conselheiro reforça, porém, que isso só seria possível com mais dinheiro investido na Saúde. “À medida que melhora o orçamento do SUS, até os hospitais vão procurar o município para oferecer o serviço”, conclui.
A dona de casa Andreia Feliciano Galdiano, 39, está na fila de espera há um ano por uma cirurgia de varizes. “Já fui à Secretaria Municipal de Saúde três vezes neste ano, a última em maio. Disseram que está autorizada, mas não agendam. Desisti de ir lá”, afirmou (leia mais abaixo).

Tamanho real

Pela primeira vez, o Conselho Federal de Medicina se aproxima do tamanho real da fila por cirurgias no SUS.

“Ainda que parciais, os números impressionam, já que os Estados que prestaram informações representam metade de todo o volume de cirurgias efetivamente realizadas na rede pública em 2016”, explica Carlos Vital, presidente do conselho.

Só no ano passado, 1,6 milhão de cirurgias eletivas foram realizadas no SUS em todo o País. Segundo Vital, vários são os argumentos para tentar justificar o volume de pacientes à espera de uma cirurgia e todos eles têm a mesma origem: recursos finitos para administrar uma demanda que é infinita.

Andreia vive segunda espera

A dona de casa Andreia Feliciano Galdiano espera hoje por uma cirurgia de varizes, mas não é a primeira vez que passa por situação semelhante: já teve de esperar desde o ano passado por 11 meses até conseguir fazer uma cirurgia de hérnia, em abril deste ano.

“Quando fiz a cirurgia de hérnia parecia que eu estava de nove meses de gravidez, de tão grande que estava minha barriga, e sentia cólicas.”

Agora, na expectativa pela cirurgia de varizes, Andreia reclama da dor crônica na panturrilha esquerda. Ela relembra que o médico recomendou a cirurgia em dezembro do ano passado.

“Minha perna fica quente e inchada direto, é uma dor que queima, fica latejando. O pior é que já começou a dar ferida, estou bem preocupada”, conclui.

Saúde não dá prazo

A Secretaria Municipal da Saúde informa que Andreia Galdiano foi atendida no NGA (Núcleo de Gestão Assistencial) na especialidade vascular e encaminhada no dia 21 de dezembro de 2016 para avaliação da cirurgia vascular hospitalar, mas não deu prazo de quando ela deverá ser submetida ao procedimento. “Sua guia de referência já foi regulada pelo complexo regulador e a prioridade do médico foi de rotina, com prioridade baixa, que não necessita urgência e encontra-se na ordem cronológica para agendamento. Hoje, nossa demanda reprimida é de 885 pacientes”, declarou, por meio de nota.

Arte / A Cidade

Município: ‘Mutirões reduziram a fila’

A Secretaria Municipal de Saúde declarou que está realizando mutirões, como da catarata e da proctologia, que “diminuíram consideravelmente as filas de espera”, e que outros mutirões estão previstos para o próximo ano.

Segundo a pasta, o mutirão da catarata já realizou 353 cirurgias neste ano, o que representa 64,83% da demanda reprimida, que era de 1.031 pacientes. 

“Além das cirurgias realizadas, 309 pacientes já estão com as cirurgias na especialidade agendadas, quatro estão em processo de avaliação e 155 realizaram as cirurgias em outros locais ou não foram encontrados.”

Ainda de acordo com a secretaria, entre um total de 2.735 pacientes que esperavam por consulta de proctologia no início de 2017, 633 já foram atendidos e tiveram seus devidos encaminhamentos providenciados.

“Só assim é possível administrar um pouco a fila de espera na especialidade, tomar fôlego até conseguirmos ter o nosso AME [Ambulatório Médico de Especialidades] com mais capacidade de atendimento, que não permitirá que essas filas se formem no futuro”, declarou o secretário Sandro Scarpelini.

Estado: ‘Quadro mostra realidade nacional’

Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde afirma que “a demanda reprimida por cirurgias eletivas (não urgentes) é uma realidade nacional, causada sobretudo pela defasagem na tabela de valores de procedimentos hospitalares do Ministério da Saúde, que não cobre os reais valores dos atendimentos.”

Segundo a nota, todos os anos o governo federal deixa de enviar ao estado de São Paulo R$ 1 bilhão relativos a atendimentos feitos na rede pública. “Por isso a conta não fecha e há espera de pacientes para cirurgias, abrangendo tanto a demanda de serviços estaduais quanto municipais.”

Ainda de acordo com a secretaria, “na região de Ribeirão Preto, o aumento no número de procedimentos cirúrgicos nos serviços sob gestão estadual foi de 50,6%, passando de 6,8 mil para 10,3 mil cirurgias anuais no mesmo período.” Neste momento, segundo a nota, “o Estado promove um mutirão de cirurgias na rede pública, com 3 mil procedimentos extras, além dos 20 mil já realizados a cada mês. Cabe esclarecer que parte da fila de pacientes aguardando por cirurgias eletivas no estado de São Paulo se refere a serviços de saúde que estão sob a gestão dos municípios, e não do Estado”, completa a secretaria.

 


 



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