Em dez anos, câncer de próstata mata 561 homens em Ribeirão Preto

18/11/2017 15:33:00

Especialistas alertam: quando descoberta no início, a doença tem cerca de 80% de chances de cura

Weber Sian / A Cidade
Comerciante Itamar descobriu em maio deste ano, após fazer o PSA (exame de sangue), que estava com câncer de próstata (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Ribeirão Preto registrou 561 mortes por câncer de próstata em dez anos, entre 2010 e 2016. No País, foram quase 130 mil óbitos no mesmo período, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Os especialistas, no entanto, fazem um alerta: quando descoberta no início, a doença tem 80% de chances de cura.

No ambulatório do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, aproximadamente 40% dos pacientes atendidos com câncer de próstata não apresentam mais o tumor na fase inicial. São atendidos 90 pacientes por semana, todas as terças-feiras.

O urologista Rodolfo Borges dos Reis, docente da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão e responsável pelo serviço de uro-oncologia do Hospital das Clínicas, explica que o fator genético aumenta a chance de adquirir o câncer de próstata. “Quem tem um pai ou um irmão que teve a doença tem de três e cinco vezes mais chance de ter o câncer de próstata.”

Reis esclarece que, em geral, a doença surge de maneira silenciosa e tem evolução lenta. “Não há nenhum sintoma clássico. A dificuldade para urinar ou ardência pode resultado de um tumor benigno ou de uma hiperplasia [aumento do tamanho] benigna da próstata”, afirmou.

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Diante disso, o médico destaca a importância da realização de exames para descobrir a doença. O diagnóstico requer dois testes para ser completo – o PSA (exame de sangue) e o toque retal. “Ambos são complementares.”

A recomendação é que homens sem histórico do câncer de próstata façam os exames preventivos a partir dos 50 anos. Caso tenham casos na família (pai ou irmão), os testes devem começar a partir dos 45 anos.

Exames

O comerciante Itamar Antunes Dias, 58, descobriu em maio deste ano, após fazer o PSA, que estava com câncer de próstata. “Fiz o exame de toque, mas não detectou nada”, relembra.
Itamar fez a cirurgia de retirada da próstata em agosto e agora está na fase de recuperação. “Ainda não sinto a hora que vem o xixi, preciso ficar de fralda, essa é a pior parte”, relatou.

O comerciante faz sessões semanais de fisioterapia para melhorar a sensibilidade e está na expectativa para se restabelecer o mais rápido possível e, com isso, retornar à vida normal.

Tratamento é individualizado

O urologista Rodolfo Borges dos Reis explica que o tratamento do câncer de próstata é individualizado e a conduta terapêutica depende do grau de agressividade do tumor, da localização do foco e das condições clínicas do paciente. Entre as opções estão a radioterapia, a quimioterapia, a cirurgia para retirada da próstata e a hormonioterapia, prescrição de medicamentos com o efeito de reduzir os níveis de testosterona no organismo. “O hormônio alimenta o tumor”, esclarece o médico.

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O médico Rodolfo Reis esclarece que, em geral, a doença surge de maneira silenciosa e tem evolução lenta (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Austrália originou movimento

O movimento Novembro Azul surgiu na Austrália, em 2003, quando alguns amigos tiveram a ideia de deixar o bigode – na época fora de moda – crescer com o objetivo de conscientizar o público masculino quanto ao câncer de próstata. Eles aproveitaram as comemorações ao Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, em 17 de novembro. No Brasil, o Novembro Azul foi trazido em 2008 pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, juntamente com a Sociedade Brasileira de Urologia, com o objetivo de quebrar o preconceito masculino de ir ao médico e, quando necessário, fazer o exame de toque, e obteve ampla divulgação.

Estudo mostra que 51% dos homens nunca fez exame

Metade dos homens brasileiros nunca foi ao urologista. Essa foi a constatação de uma pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Urologia, divulgada em julho de 2015.

Segundo o levantamento, realizado em parceria com o laboratório Bayer, 51% dos 3,2 mil homens entrevistados nunca foram ao especialista.

Medo e falta de tempo foram motivos apresentados pelos entrevistados na pesquisa, feita em junho de 2015 em oito capitais: São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Recife – foram ouvidos 400 homens de cada cidade, com idade a partir de 35 anos.

“A mãe leva a filha na ginecologista, mas o homem não é levado ao médico e não há orientação nas escolas. Além dessa questão educacional, o acesso ao serviço de saúde nem sempre é fácil”, considerou o urologista Rodolfo Borges dos Reis.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o tempo de espera para se conseguir uma consulta com especialista leva, em média, 4 meses. A entrada para o serviço público são os postos da rede básica. 

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