Jornalista esquadrinha atuação de narcotraficantes por cinco anos

22/05/2017 18:01:00

Livro desnuda arriscadas artimanhas usadas para entrar com toneladas de droga no País e exportá-la para o resto do planeta

Arquivo pessoal
Allan de Abreu passou 5 anos investigando 80 mil páginas de inquéritos e processos de traficantes (Foto: Arquivo pessoal)

 

Lançado no último dia 2 de maio em Rio Preto e no dia 11 , em São Paulo, o livro “Cocaína – a rota caipira”, do jornalista Allan de Abreu, desnuda com riqueza de detalhes as arriscadas e caras artimanhas usadas pelos narcotraficantes para entrar com toneladas de droga no País e exportá-las para o resto do planeta por intermédio de ‘mulas’, navios, aviões e até submarinos.

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Em entrevista ao A Cidade, Allan de Abreu conta o que o levou a passar 5 anos investigando 80 mil páginas de inquéritos e processos de traficantes que resultaram em 800 páginas de histórias reais contadas em texto literário dinâmico e inspirador.

Leia a seguir a seguir trechos da entrevista:

A Cidade - O que te despertou a escrever um livro sobre tráfico de drogas?
Allan de Abreu - O crime organizado, especialmente aquele ligado ao narcotráfico, sempre atraiu a minha atenção como jornalista. Há mais de dez anos tenho produzido reportagens sobre esse tema no interior de SP. Então, em 2012, veio a ideia de sistematizar o material que eu já tinha e o que viria a colher na forma de um livro-reportagem. Desde então comecei o trabalho de apuração. Foram mais de 70 entrevistados e 80 mil páginas de documentos reunidos, boa parte inéditos.

Das histórias coletadas qual te impressionou mais?
Encontrei histórias que não devem nada à melhor ficção. Mas, entre as que mais me chamaram a atenção estão as sagas de Luciano Geraldo Daniel e de Mario Sergio Machado Nunes. O primeiro deles, pela inteligência e ousadia para ganhar milhões longe das garras da polícia - basta dizer que, depois de fugir da cadeia, fez cirurgia plástica e subornou funcionários da Secretaria Estadual de Segurança Pública de SP para apagar todos os seus dados, “renascendo” como outra pessoa. Mario Sergio, um pernambucano radicado em Ribeirão Preto, é o grande capitalista do narcotráfico, sujeito inteligentíssimo que arregimentou uma família e mantinha esquemas ultrassofisticados de transporte de cocaína, incluindo um submarino na África!

Quanto tempo você passou seguindo passos de traficantes?
Foram cinco anos de pesquisa, com visitas a 23 cidades, incluindo Bolívia e Paraguai.

Que aprendizado você tira desse livro?
Como coloco no fim da obra, um livro pode mudar o mundo, pelo menos o mundo dentro de nós. Creio que ganhei alguma maturidade para entender um pouco mais os piores aspectos do ser humano. Do ponto de vista jornalístico, o ganho em conhecimento é sem precedentes para mim. Encaro este trabalho como um ato de fé no poder revelador do jornalismo.

Que resultado espera dele?
Espero trazer à discussão pública os métodos de atuação do narcotráfico em larga escala e as estratégias para se combatê-lo. Com raras exceções, constatei que a mídia aborda mal esse assunto, em coberturas fragmentadas e descontextualizadas. “Cocaína: a rota caipira” nos dá a chance de enxergar o problema de um modo mais amplo e profundo.



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