Creche de 20 anos em Ribeirão Preto corre risco de fechar por falta de dinheiro

25/04/2017 13:23:00

Aluguel está atrasado há três meses e as receitas do mês cobrem apenas metade das necessidades

Milena Aurea / A Cidade
Ruth Maísa, 5, brinca em creche do Sumarezinho; a mãe dela, Cintia, destaca o desenvolvimento da filha após um ano de atendimento (foto: Milena Aurea / A Cidade)


Uma creche sem fins lucrativos no Sumarezinho (zona Oeste) que presta atendimento há quase 20 anos corre o risco de fechar as portas por falta de dinheiro. A situação chegou a tal ponto que até o pagamento do aluguel do prédio está atrasado há três meses – só essa dívida passa de R$ 3,6 mil.

“Se eu não conseguir acertar, eles devem entrar com uma ação de despejo”, prevê, com preocupação, Miriam Alves de Oliveira, presidente da Creche Esperança do Amanhã.

Pais das crianças estão apreensivos com o aperto financeiro e temem o fechamento da creche. “Não pode fechar de jeito algum”, diz a atendente Cintia Patricia dos Reis, 35, que vem pedindo ajuda financeira de empresários.

A filha mais nova, Ruth Maísa, 5 anos, é atendida há um ano na creche. “O atendimento é tão bom que a trouxe para cá. Ela chega em casa e pede para ler os livrinhos que ganhou, já está falando palavras que não falava antes, aqui ela é estimulada”.

O filho mais velho, Leonardo, hoje com 18 anos, foi atendido entre 2000 e 2005. “Na época eu pagava uma colaboração simbólica, era apenas R$ 30 porque eu havia acabado de me separar do pai dele, precisava trabalhar e não tinha condições de pagar”, diz.

Hoje, a receita mensal cobre apenas metade das necessidades – seria preciso R$ 6 mil para manter a estrutura com dois funcionários e quatro voluntários, mas a arrecadação não passa de R$ 3 mil. Contas de água e de luz estão atrasadas há dois meses e o recolhimento de INSS e FGTS de funcionários não é feito há mais de três anos.

A creche atende 20 crianças na faixa etária de 2 a 11 anos, com reforço escolar, resgate das brincadeiras antigas e incentivo à boa convivência.

Crise

Miriam afirma a crise financeira começou há dois anos, quando um empresário de Ribeirão que pagava voluntariamente o aluguel mensal da creche fechou as portas do comércio e não pôde mais ajudar.
Junto a isso vieram as dificuldades dos pais das crianças – muitos ficaram desempregados e não puderam mais ajudar a creche. Os pais que ainda têm alguma condição financeira levam alimentação de casa para ajudar a creche. “Muitos doadores morreram, empresas que ajudavam foram embora.” Hoje, das 20 crianças atendidas, famílias de oito deles estão sem condições de financeiras de contribuir com qualquer quantia com a creche.

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Creche Esperança do Amanhã atende hoje 20 crianças com idades de 2 a 11 anos (foto: Milena Aurea / A Cidade)

 

Unidade tentou convênio com a educação

A presidente da creche, Miriam Alves de Oliveira, relembra que tentou, há cerca de quatro anos, fazer as adaptações necessárias e providenciar a documentação para a entidade estar apta a receber recursos públicos, mas esbarrou em um problema quando deu entrada na Secretaria Municipal da Educação: a falta de dinheiro. “Pelo levantamento que fiz, a documentação ficaria em R$ 1,5 mil e as reformas da casa e a construção de um banheiro no fundo ficariam em mais R$ 6 mil. Estamos em situação financeira delicada, não temos condições”, diz. Se não bastasse toda a penúria, ações de criminosos agravaram ainda mais a crise financeira. Dois episódios em 2015 fizeram com que a situação financeira da creche ficasse ainda mais prejudicada. Em abril e em outubro daquele ano, criminosos levaram notebook, botijão de gás, micro-ondas, aparelho de DVD, mantimentos e até alguns brinquedos das crianças foram furtados. “Já estávamos em momento difícil e aconteceu isso”, conclui a presidente da creche.

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Só elogios: Ana Roseli com as filhas Vitória, 10, e Maria, 5: 'aqui elas são bem cuidadas, tem disciplina e o horário é bem flexível' (foto: Milena Aurea / A Cidade)

‘Se fechar, não voltarei a trabalhar’

“Se a creche fechar, não poderei mais voltar a trabalhar”, desabafou a vendedora Ana Roseli Bibancos, 39, mãe da Vitória, 10, e da Maria, 5. 

As crianças são atendidas há um ano pela creche, elogiada pela mãe. “Aqui elas são bem cuidadas, tem disciplina, o horário é bem flexível. Sem contar que não tenho condições financeiras de colocar em outra creche”, diz. 

A vendedora está de licença-maternidade e quando o benefício acabar, em cinco meses, pretende matricular o filho mais novo, Antônio, hoje com dois meses. “Hoje eu contribuo com um terço do que pagaria em outra creche”, compara. “Seria uma perda muito grande aqui fechar, não vou ter condições de pagar para os meus três filhos”, emenda a dona de casa Geórgia Trebisan, 43, que deixa os filhos gêmeos Thales e Thiago, 3, desde o início do ano na creche. “Nesses quatro meses que estão na creche notei que estão falando melhor, comendo melhor e sabendo o que pode e o que não pode, a questão dos limites”.

Sem verba, creche é ‘um mato sem cão’

“A demanda por vaga em creches é muito grande e, para se ter uma ideia, o setor privado responde hoje por 47% de todas as vagas oferecidas no Estado de São Paulo. Esse recorte mostra a importância que essas creches têm. A maior parte dessas vagas oferecidas, em torno de 90%, são de creches conveniadas, em que as prefeituras compram as vagas e os usuários não pagam – o restante é privado. Sem recursos, a creche em questão estaria em um ‘mato sem cachorro’ porque não tem dinheiro para regularizar a situação junto à Secretaria de Educação. A sugestão é promover eventos, festas, tudo para arrecadar dinheiro e, com isso, providenciar a regularização para o convênio ser celebrado”. Ocimar Alavarse, Docente da Faculdade de Educação da USP

Como ajudar: Ligar para 3021-3621 ou comparecer à creche, na rua Itapetininga esquina com a rua Appa, no Sumarezinho (zona Oeste de Ribeirão Preto) 

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Miriam Alves de Oliveira, Presidente da creche Esperança do Amanhã (foto: Milena Aurea / A Cidade)

 

 



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