Governo atribui falta de remédio ao 'descrédito da prefeitura'

23/03/2017 13:33:00

Saúde tenta negociar o reabastecimento desde janeiro, mas fornecedores resistem; dívida é de R$ 4,4 milhões

O governo do prefeito Duarte Nogueira (PSDB) justifica a falta de medicamentos na rede municipal de saúde com o descrédito da Prefeitura de Ribeirão Preto junto aos fornecedores. Desde janeiro, a administração tenta, em vão, negociar com laboratórios e distribuidores para que os remédios voltem às prateleiras das farmácias dos postinhos de saúde.

Ao todo, 67 medicamentos estão em falta hoje - a situação é a mesma de dois meses atrás quando A Cidade esteve na farmácia da UBDS da Vila Virgínia.

Em reunião realizada na última semana, o governo tentou sensibilizar os fornecedores. “Precisamos voltar a distribuir esses remédios para que pessoas não morram”, frisou o secretário de Governo, Nicanor Lopes (PSDB).

“Vai demorar um tempo para resgatarmos a credibilidade da prefeitura junto aos fornecedores. Além de toda a situação caótica enfrentada pelo governo, ainda lidamos com a falta de credibilidade”, disse.

Herança do governo Dárcy Vera (PSD), a dívida com 72 fornecedores é de R$ 4,4 milhões – a metade refere-se a decisões judiciais. A nova proposta do governo é quitá-la até dezembro. Dívidas de R$ 10 mil serão pagas à vista, ainda esse mês, e os demais, parcelados (leia abaixo).

Imediatamente

A expectativa do secretário de Saúde, Sandro Scarpelini, é que os fornecedores aceitem a proposta e que os remédios voltem a ser distribuídos imediatamente. “Estamos pedindo também que essas empresas voltem a participar das licitações do município, para que não haja um colapso, pois há fornecedores de produtos específicos. Acredito que a maior parte ficou sensibilizada, é fundamental que essas empresas voltem a confiar no governo”, enfatizou.

Moradora da Vila Virgínia, a aposentada Elisabete Aparecida Boaron, de 54 anos, toma diariamente remédios para diabetes, fibromialgia, depressão e vasculares. Com a falta de medicamentos na farmácia da UBDS do bairro, como o antidepressivo Sertralina, Elisabete tem gasto R$ 300 por mês. “Alguns remédios eu até deixo de tomar porque são caros e eu não condições de comprar. A situação está difícil”, lamentou.

Administração quer quitar dívida em nove meses

A proposta do governo, que está sendo avaliada pelos fornecedores de medicamentos, prevê quitação da dívida de R$ 4,4 milhões até dezembro. Se os 72 fornecedores aceitarem, R$ 732 mil serão pagos ainda esse mês.

Na reunião com os fornecedores, a administração garantiu que os medicamentos que forem adquiridos pelo atual governo serão pagos em dia. “Isso é fundamental para recuperarmos a credibilidade. Estamos tirando alguns fornecedores da ordem cronológica porque se trata de saúde, da vida de pessoas”, frisou o secretário de Saúde, Sandro Scarpelini.

A diferença da proposta anterior, é que, dessa vez, o recebimento não está atrelado a um desconto obrigatório. “Da outra vez, os fornecedores não aceitaram devido ao desconto. Agora estão iniciando a adesão. A questão é que os fornecedores querem receber o atrasado para depois voltarem a fornecer os remédios para o município”, ressaltou o secretário da Fazenda, Manoel Gonçalves.

Renato Lopes / Especial
Edileuza Eufrásio dos Santos terá que comprar o remédio em uma farmácia particular e parcelar no cartão de crédito (foto: Renato Lopes / Especial)

 

O jeito é comprar parcelado

Para curar uma infecção de urina, a dona de casa Edileuza Eufrásio dos Santos, de 51 anos, terá que comprar o remédio em uma farmácia particular e parcelar no cartão de crédito. Ela esteve, na manhã de ontem, na farmácia da UBDS da Vila Virgínia e não encontrou o medicamento Norfloxacino. “Vou ter que dar um jeito, parcelar no cartão. Infelizmente, vários remédios estão em falta aqui e eu acabo tendo que comprar. Graças a Deus encontrei o meu medicamento da diabetes aqui ontem”, ressaltou. Para a moradora da Vila Virgínia, a prefeitura deveria destinar mais recursos para a saúde. “É uma área prioritária, tem muita gente doente no município”, acrescentou.

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Damiana Guerra da Silva sofre de arritmia cardíaca e está sem os remédios (foto: Renato Lopes / Especial)

 

‘Sinto pontadas no coração’

Moradora do Parque Ribeirão, Damiana Guerra da Silva, de 58 anos, sofre de arritmia cardíaca e está sem os remédios necessários há pelo menos dois meses. Ontem ela voltou, em vão, à farmácia da UBDS da Vila Virgínia. “Vamos ver como meu coração vai ficar até eles voltarem a dar os remédios. Tem dia que eu passo muito mal, sinto pontadas no coração”, ressaltou. Afastada pelo INSS, Damiana recebe R$ 930 por mês e gasta R$ 450 só com aluguel. “O resto é para alimentação e para as contas básicas, não sobra nada para comprar remédio. Fazer o que? Não tenho o que fazer, moro sozinha, não tenho outra renda. Estou viva ainda porque Deus é muito bom”, destacou.

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Palmira Vieira Neves vai ter que 'tirar da boca para comprar remédio' (foto: Renato Lopes / Especial)

 

‘Eu fico muito revoltada’

Aposentada com salário mínimo, Palmira Vieira Neves vai ter que “tirar da boca para comprar remédio”. Ela não encontrou na farmácia da UBDS da Vila Virgínia o remédio de reposição de hormônios que precisa tomar e nem os antidepressivos do filho, que é aposentado por invalidez. “A gente já ganha tão pouco para comer e pagar aluguel, não é justo ter que comprar remédio que o município deveria nos dar. Eu fico muito revoltada. As pessoas estão morrendo por falta de remédio e não ninguém faz nada”, disse, emendando que não vai mais “perder tempo” indo diariamente até a unidade atrás dos medicamentos.

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Marina Cândida Ferreira Santana não conseguiu os medicamentos (foto: Renato Lopes / Especial)

 

Marina busca três, mas sai sem nenhum

A dona de casa Marina Cândida Ferreira Santana, de 57 anos, foi ontem à farmácia da UBDS da Vila Virgínia buscar dois antidepressivos e um remédio para o esposo, que sofre de diabetes. Saio apenas com as receitas nas mãos. “Esses remédios estão em falta desde o mês passado. O jeito vai ser comprar. O problema é que o dinheiro que gastaremos na farmácia particular vai nos fazer falta”, contou. A renda na casa de Marina vem do esposo, que é motorista de Uber. “Estamos gastando R$ 300 por mês com medicamentos porque não achamos aqui”, lamentou.

Alternativas terapêuticas são recomendadas

Diante da falta de quase 70 medicamentos nas farmácias do município, a Secretaria de Saúde tem recomendado os pacientes a buscar até mesmo alternativas terapêuticas para o tratamento da doença. “Estamos fazendo todo o possível para minimizar essa situação até que os estoques se regularizem e possamos atender a nossos munícipes minimamente com o que lhes é de direito”, ressaltou em nota a Divisão de Farmácia e Apoio Diagnóstico. 

Relação dos medicamentos em falta na rede municipal

1. Ácido Valpróico 500mg lib prol
2. Acetonido Fluocinolona + Polimixina B
3. Aciclovir 200mg
4. Amoxilina + Clavulanato suspensão
5. Bromoprida gotas
6. Carvedilol 12,5 mg
7. Carvedilol 6,25 mg
8. Cetoprofeno 100mg endovenoso
9. Ciprofloxacino 200 mg INJET.
10. Deslanosídeo (0,2 mg/mL) - Sol. Injet.
11. Digoxina
12. Dimenidrato + Piridoxina sol injet.
13. Domperidona 1mg/ml sol. oral - 100ml
14. Doxazosina 2 mg
15. Enoxaparina 40 mg
16. Eritromicina 500 mg
17. Espiranolactona 25mg
18. Estradiol 5 mg + Noretisterona 50 mg injetável
19. Estriol creme vaginal 1mg/g
20. Fenitoína 50mg/mL amp.
21. Finasterida 5 mg
22. Furosemida compr.
23. Gentamicina 80mg
24. Gliclazida 60mg
25. Haloperidol 5mg cp.
26. Heparina sódica (5000ui aplic. Subcutanea)
27. Hidróxido de Alumínio 6,2% susp.
28. Isossorbida dinitrato 5mg cp. Sublingual
29. Levotiroxina 25 mcg
30. Levotiroxina 50mcg
31. Lidocaína geléia
32. Metildopa 500mg
33. Metoprolol 5mg AMP.
34. Metronidazol 250 mg
35. Metronidazol geléia vaginal
36. Miconazol cr. Vaginal
37. Miconazol, Nitrato - Creme dermatológico
38. Naltrexona 50mg
39. Nistatina creme vaginal
40. Nistatina sol. Oral
41. Norepinefrina, hemitartarato 2mg/mL - solução injetável
42. Norfloxacino 400mg
43. Nortriptilina 25mg
44. Omeprazol 20mg cáps.
45. Periciazina 1% - gotas - pediátrico
46. Periciazina 4% - gotas - adulto
47. Piridoxina 40mg - ( Vitamina B6 )
48. Pirimetamina 25mg
49. Progesterona 200 mg
50. Prometazina compr.
51. PVPI Tópico
52. Retinol + Calciferol + Óxido de Zinco
53. Salbutamol gotas
54. Salbutamol spray
55. Seringa 50un. Para aplicação de insulina
56. Sertralina 50mg
57. Sulfametoxazol + Trimetoprima suspensão 0,8%
58. Testes de gravidez
59. Tiabendazol 250 mg /5 mL - suspensão
60. Tiamazol 5 mg
61. Tiamina sol. Injetável
62. Tobramicina sol oftálmica 3 mg/mL
63. Tropicamida (colírio)
64. Varfarina 5 mg
65. Vitamina Complexo B injetável
66. Vitamina do complexo B compr.
67. Vitamina k (Fitomenadiona)



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