Um ano depois de ceder com a chuva, muro de cinco metros ainda ameaça casas no Águas do Paiol

17/02/2017 12:07:00

Justiça decidiu que empresa deverá reparar danos causados aos moradores

ACidade ON - Araraquara
Casa precisou ser demolida, mas muro continua afundando, segundo moradores. (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

 

Há exatamente um ano, uma chuva forte causou estragos em quase toda Araraquara, mas para moradores de duas ruas do bairro Águas do Paiol, os problemas causados naquele dia ainda são muito presentes e causam prejuízos até hoje.

Entre quem vive na parte baixa do bairro, na rua Maria Escolástica da Conceição e seus vizinhos, da rua Nazaré Eduardo Federige, há uma diferença de mais de cinco metros de altura. Para compensar, uma empresa, que construiu quatro casas do lado de cima, fez um muro de arrimo com cerca de 40 metros de comprimento por cinco de altura.

O paredão começou a apresentar problemas com a forte chuva de fevereiro do ano passado. O muro entortou e afundou muitos centímetros. Várias casas foram afetadas e pelo menos duas precisaram ser demolidas. De lá para cá, as famílias tentam um acordo com a construtora.

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Uma das casas continua sem moradores Morador mostra que o baldrame ficou e o chão afundou cerca de dez centímetros. (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

 

Segundo Marcelo de Almeida Benatti, advogado de alguns moradores, um perito judicial esteve no local e a Justiça decidiu nesta quinta-feira (16), que a empresa é responsável pelo ocorrido e deve reparar os danos causados. “A empresa terá que construir uma estrutura paralela para ancorar o muro de arrimo que existe lá. O processo judicial já está em fase de conclusão”, explica Benatti.

Parte baixa

A decisão garante mais tranquilidade para quem vive na parte baixa do bairro já que no ano passado a empresa fez apenas um reparo no muro de arrimo e ele continuou cedendo.

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Várias casas apresentam rachaduras. (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

Seu Jair Aparecido de Oliveira, perdeu a edícula que tinha no fundo de sua casa. O imóvel ficou todo cheio de rachaduras e foi demolido a pedido do perito judicial. O espaço era alugado e lhe rendia cerca de R$ 350 reais por mês. “Faz um ano que estou perdendo esse dinheirinho. Era o complemento da minha aposentadoria”, lamenta ele.

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Seu Jair mostra onde ficava a edícula, destruída por causa do muro. (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

 

A casa ao lado também ruiu por causa do muro. A construtora não demoliu o imóvel que fica nos fundos porém, construiu outro na frente para a moradora. Mesma sorte não teve um morador, que não quis se identificar. Ele mostrou para a reportagem que o muro de arrimo continua cedendo, provocando rachaduras e colocando as casas em risco. “Isso aqui quando chove vira uma cachoeira. Vaza água e barro para todo lado. É o aterro das casas de cima que desce para cá” conta ele.

Parte alta

Na rua de cima, pelo menos quatro casas apresentam rachaduras. Em uma delas o muro de contenção tem uma clara curvatura que evidencia o problema estrutural. “Nós nem chegamos aí perto, de medo”, disse a moradora.

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De cima é possível ver a edícula demolia do seu Jair (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

 

Seu Luís Carlos de Andrade, foi funcionário da construtora responsável pelo muro, e também pela construção de sua casa. Os R$ 20 mil reais investidos na ampliação foram perdidos, segundo ele. “Olha a situação da minha área, toda rachada; o chão, a parede da minha cozinha, o encanamento e até a calha”, enumera o aposentado.

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A área e o quintal do Luís foram interditados pela Defesa Civil (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

 

A reportagem constatou rachaduras de até quatro dedos no muro da casa do Luís. O concreto no chão está todo trincado e em alguns pontos se separou do restante da casa em até três centímetros. “Cada dia que chove minha casa afunda mais. Logo logo ela vai lá pra baixo e se for, mata todo mundo da rua debaixo”, teme ele.

Com medo o aposentado chegou a construir um baldrame de concreto e arame reforçado junto ao muro de arrimo contudo, poucas semanas depois ele se assustou com o que aconteceu: “Deu uma chuva e o terreno afundou uns dez centímetros. Dá para ver pelo piso que baixou. Só o baldrame ficou no lugar e mesmo assim se descolou do muro”, conta ele enquanto nos mostra o problema.

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Morador mostra que o baldrame ficou e o chão afundou cerca de dez centímetros. (Willian Oliveira/ACidadeON/Araraquara)

 

Luís é um dos únicos moradores que ainda não acionou a justiça contra a construtora. “Eu trabalhei lá então confiei na palavra deles, mas tudo que me prometeram até agora não cumpriram”. O morador se refere a desmontagem da área, que corre risco de desabar, a reconstrução dos muros e o acerto do piso, que não para de afundar.

“O pessoal da construtora veio aqui, viu tudo que tinha que fazer e disseram que em duas semanas resolveriam. Vários meses se passaram e nada foi feito. Eu estou preso na minha própria casa porque a Defesa Civil interditou meu quintal”, reclama.

Outro lado

A reportagem do A CidadeON/Araraquara tentou contato com a construtora. Por telefone ninguém quis falar com a reportagem e quando fomos até a sede, no Centro de Araraquara, sequer fomos recebidos. Por interfone uma funcionária disse apenas que os responsáveis não estavam e que em breve entrariam em contato.

Até o fechamento desta reportagem ninguém da empresa retornou as ligações. 

Decisão cabe recurso

A decisão que obriga a empresa a fazer o muro de escoramento ainda cabe recurso todavia, o advogado das famílias não acredita que isso vai acontecer: "Não há motivos para recorrer. Eu acredito, inclusive, que eles vão começar a construir o muro imediatamente".

O advogado informou ainda que a consturtora deverá pagar cerca mil reais, a título de indenização, a cada morador, pelo espaço ocupado com o novo muro de contenção.



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