No caminho da tocha, um suntuoso teatro e um café tradicional

27/06/2016 15:29:00

Seguidores da chama olímpica terão chance de passar por um dos mais belos cartões postais de Ribeirão Preto

Weber Sian / A Cidade
Theatro Pedro II foi inaugurado em 1930 e tombado pelo Condephaat em 1982 (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Mas nem só os obstáculos sobressaem no caminho da tocha. Os seguidores da chama olímpica terão também oportunidade de passar por um dos mais belos e imponentes patrimônios da cidade, digno também de receber uma medalha de ouro pela conservação e magnitude: o Theatro Pedro II.

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Inaugurado em 1930 e com capacidade para 1.588 espectadores, o espaço é um convite a uma paradinha para admiração e fotos. O nome do teatro foi escolhido, à época, pela população por meio de um concurso promovido pelo A Cidade, e tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).

O aposentado Antonio José Pincerno, 69 anos, trabalhou durante 35 anos na Cervejaria Paulista – antiga proprietária do teatro – e diz que o espaço foi o principal espaço de entretenimento na época da juventude.

O episódio mais marcante vivido no teatro, relembra Antônio, foi em 1968, quando chegou ao local mais cedo para assistir a uma peça estrelada pelo ator global Luiz Gustavo, na época protagonista da novela “Beto Rockfeller”, e se deparou com o artista.

“Assistia à novela e lembro que o Luiz Gustavo ficou de boca aberta com a beleza do teatro, estava encantado. Conversamos sobre cinema, teatro e a respeito da novela que ele estava trabalhando”.

Na juventude, Pincerno ia ao Pedro II todos os dias assistir a filmes e frequentemente assistia a peças no teatro – era o principal lugar para se divertir.

Dois de seus colegas de trabalho na cervejaria tinham um emprego no contraturno no teatro – um na portaria e outro exibia os filmes. “O Pedro II é um itinerário obrigatório para a tocha olímpica, já que o considero o principal patrimônio de Ribeirão”, defende.

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500 cafés por dia e muita tradição

A menos de 200 metros do Pedro II, integra o trajeto da tocha olímpica a Cafeteria A Única, primeiro comércio do tipo em Ribeirão Preto e com atividades ininterruptas desde 1937. Sócio-proprietário da cafeteria desde 1989, Valídio José dos Santos, 68 anos, comemora a escolha do trecho para passagem da tocha olímpica.

“O Centro merece estar no trajeto porque aqui tem muita história. Quem vem para a região central vem conhecer a Única e o Pinguim.” A tradição e a qualidade do que é servido e do atendimento se revertem em vendas – por dia, a cafeteria comercializa, em média, 500 cafezinhos.

“Estou superpreparado para receber o público durante a passagem da tocha. Aqui é um ponto de encontro tradicional de Ribeirão e quase todos os políticos já tomaram café aqui – o Geraldo Alckmin [governador de São Paulo] já veio só neste ano duas vezes, é o mais assíduo”, revela.

Weber Sian / A Cidade
Marcelo escolheu a sombra na região da Fiúsa para montar sua barraca de hortifruti há dez anos (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Sombra e fruta fresca no trajeto da zona Sul

As árvores de grande porte e a sombra proporcionada pela área verde encravada na esquina da avenida João Fiúsa com a avenida Anhanguera, no Alto da Boa Vista, zona Sul, foram determinantes para a escolha do comerciante Marcelo Carniel, 31, instalar há dez anos sua banca de frutas, verduras e água de coco.

“Mercadoria no sol ninguém compra. Aqui é sempre fresquinho, pode ser o calor que for. No calorzão a gente não sofre”, diz Marcelo, observando o ipê que começa a florescer.

“A vinda da tocha vai lotar a cidade, tipo Agrishow. E não devo ter outra oportunidade de assistir a isso, não vai dar tempo”, diz.

A banca ao ar livre serve como sala de estar para convívio entre ele e os clientes. Duas cadeiras ficam à disposição para acomodar os consumidores.

Além do cenário aprazível e farto em sombra e área verde, Marcelo cita a tranquilidade e segurança do local que escolheu a dedo para tocar seu comércio.

“Desde quando vim para cá nunca aconteceu nada de ruim, nenhum assalto, nenhum furto”, conclui.

Parque entra no trajeto

O recém-inaugurado Parque das Artes, no Nova Aliança (zona Sul), é o mais recente espaço público que faz parte do trajeto da tocha olímpica – o parque foi aberto há apenas uma semana. O cantor Leandro Cavallini, o Leco, 34, mora em frente ao parque há um ano e meio e antes corria no entorno do espaço. Desde o último domingo, além de fazer a corrida diária no parque, leva o filho Saulo, 2 meses e meio, quase todo dia para passear. Ele considera justo escolherem o trecho para passagem da tocha.

“É a parte da cidade com maior crescimento. Essa região se transformou nos últimos cinco anos. Temos dois shoppings, vários condomínios em volta. A vinda da tocha para cá é um incentivo ao esporte.” Localizado nas imediações do RibeirãoShopping, o Parque das Artes foi revitalizado pela Multiplan, controladora e administradora do centro de compras, ao custo de R$ 3 milhões. Com área total de 68 mil metros quadrados, o parque oferece pista de corrida e caminhada com mais de 1.500 metros.

Weber Sian / A Cidade
A psicóloga Alissar Salomão com o filho Pedro, 5, e a yorkshire Flor, 7, passeiam pela avenida João Fiúsa: "aqui é o quintal da minha casa", diz (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Avenida e parque modelos integram rota final da tocha

Os seguidores do revezamento da tocha olímpica terão a oportunidade de testemunhar a beleza, a grande quantidade de área verde e a tranquilidade durante a passagem pela avenida João Fiúsa, na zona Sul. Esses quesitos foram determinantes para a psicóloga Alissar Salomão, 36, escolher o Bosque das Juritis, zona Sul, para morar. Para ela, o belo trecho da avenida Fiúsa é o “quintal da sua casa”.

A família dela se mudou em janeiro deste ano de Altinópolis para Ribeirão. Lá, moravam em uma casa com quintal amplo. Agora, moram num prédio.

De quatro a cinco vezes por semana ela passeia com a família na avenida – é o espaço agradável ao ar livre para caminhar, brincar com os filhos e passear com a cachorra. “Nunca vi violência aqui, é um dos lugares mais seguros de Ribeirão”.

Alissar considera justa a escolha de Ribeirão para estar entre as cidades brasileiras a receberem a passagem da tocha.

“A qualidade de vida é excelente. A cidade oferece saúde, emprego, aqui circula dinheiro. O revezamento da tocha aqui é motivação e pode despertar o interesse das pessoas, principalmente crianças e idosos, a praticar atividade física”, conclui.

No parque Raya, momento de ‘desligar’

O parque Luis Carlos Raya, no Jardim Botânico (zona Sul), um dos mais frequentados da cidade, é o ponto final da tocha olímpica em Ribeirão Preto. Inaugurado em dezembro de 2004, o Raya ocupa uma área de 40 mil m² onde estão 1.100 metros de pistas asfaltadas, cachoeira e dois lagos artificiais. O gramado central, com cerca de 1.400 m², é o palco dos momentos de lazer da turismóloga Juliana Latuf, 40, com o filho Hélio, 9 anos.

O Raya propicia um momento de recarregar as energias ao jogar bola com o filho, a duas quadras de casa. Nada de celular enquanto observa o filho se divertir. “Precisamos dar uma desligada e o verde e o barulho da água nos fazem sair da rotina e valorizar o dia a dia”. Juliana ficou feliz com a escolha do Raya como trajeto para a tocha. “O benefício maior é que o cidadão valorize o esporte, prática essencial na vida de crianças, adultos e idosos.” O parque abre todos os dias, das 6h às 20h.

Análise>>>Patrimônio histórico fica de fora

“O caminho da tocha foi escolhido para passar por pontos mais bem estruturados da cidade, mas vários locais com importância histórica ficaram de fora – a USP, os galpões da Cianê [antiga fábrica de tecidos do grupo Matarazzo] na região da Via Norte e alguns casarões localizados no Centro foram descartados. No geral, a proposta não foi adotar um circuito para resgatar as memórias urbanas e focou-se mais no que é considerado cartão-postal. Em grande parte do trajeto foram escolhidas avenidas mais bonitas, mais modernas, em áreas mais nobres que não são referência às memórias da cidade. Creio que muito do trajeto foi direcionado por uma questão de marketing e mostrará uma cidade que não é a que a gente vive, não representa a grande população”.

Marcela Cury Petenusci, arquiteta e urbanista

Weber Sian / A Cidade
Parque Raya é o ponto final do trajeto da tocha olímpica; apresentações culturais estão previstas no local (Foto: Weber Sian / A Cidade)


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