Caçamba social vira enfeite e lixo é despejado na rua em Ribeirão Preto

24/06/2016 15:54:00

Apesar de serviço existir há dois meses no Branca Sales, ruas do bairro ainda são depósito de entulho

fWeber Sian / A Cidade
Entulho e lixo jogados na avenida Patriarca, a somente 500 metros da única Caçamba Social em atividade em Ribeirão Preto (Foto: fWeber Sian / A Cidade)

 

Dois meses depois de a Prefeitura de Ribeirão Preto inaugurar a primeira caçamba social para receber entulhos no Jardim Branca Sales, zona Oeste, a população ainda ignora o serviço e continua a emporcalhar as vias públicas a poucos metros das caçambas.

E a frustração não para por aí. A prefeitura também adiou a implantação do projeto Eco Praça prometido para até este mês em três praças de outros bairros para recolhimento de entulhos.

Agora, a implantação da caçamba na praça José Mortari, na Vila Tibério (zona Oeste), ficou para a primeira quinzena de julho e as outras duas, no Parque Ribeirão e Vila Virgínia, para até o fim do ano.
“O que mais tem aqui é trânsito de rato por causa da sujeira”, reclama o vigia Jeferson Pereira Clipel, 36.

Jeferson trabalha na avenida Patriarca, a 500 metros onde estão as caçambas. Segundo ele, o cenário praticamente não mudou de dois meses para cá. “Às vezes jogam até bicho morto”.

Apesar de elogiar a iniciativa das caçambas, Jeferson diz que o problema dos entulhos nas vias públicas só vai melhorar se a população se conscientizar.

O mestre de obras Paulo Sérgio Ferreira, 47, também considera que mais pontos com caçambas reduziriam o problema. “Depois que colocaram a caçamba melhorou um pouco, mas não resolveu.”

No entanto, ele diz que quem mora longe do ponto de despejo acaba se servindo de “casqueiros” – viciados em crack – para recolher em carriolas e despejar em vias públicas.

“Quem mora a umas quatro quadras do ponto de descarte acha longe para levar e acaba pagando R$ 5, R$ 10, para se livrar do entulho. Se fossem pagar por uma caçamba, pagariam de R$ 170 a R$ 200. O despejo é feito à noite para disfarçar. Cada um pensa no seu e não está nem aí para o meio ambiente”, considera.

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Caçamba Social está em atividade em Ribeirão há dois meses: falta consciência da população (Foto: Weber Sian / A Cidade)



80% resolvido

Coordenador de Limpeza Urbana, Marcelo Reis diz que a implantação do Caçamba Social no Branca Sales reduziu 80% o depósito de entulhos irregular no bairro, escolhido para abrigar o projeto por ser uma região muito pobre e onde o problema é recorrente.

Sobre o adiamento do Eco Praça, Reis justifica que o atraso se deve às ações da coordenadoria após os temporais recentes e à ajuda da pasta na preparação do Parque das Artes.

Expansão

O coordenador de Limpeza Urbana, Marcelo Reis, promete que até o final do ano estarão em operação três Caçambas Sociais e três Eco Praças. As caçambas serão próximo ao Rubem Cione e na avenida Rio Pardo perto da linha férrea, na região do Ipiranga. Ele ainda promete colocar em operação mais dois Ecopontos – áreas de 1 mil m² cercadas, com funcionário e escritório: um na avenida Nadir Aguiar, no Eugênio Lopes, e outro no Branca Sales, próximo à Caçamba Social.

Faltam ações educativas

A coordenadora da Comissão do Meio Ambiente da OAB, Camila Ramos, critica a falta de ações educativas por parte da prefeitura para que o Caçamba Social seja efetivo. “É uma questão de educação, não se aprende por osmose. O programa não se sustenta se não tiver educação ambiental junto, senão é dinheiro jogado fora”, considera. Ela sugere campanhas junto à comunidade para informar sobre a caçamba e a importância de despejar os entulhos em local correto.

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Canteiro central da avenida Patricarda virou lixão a céu aberto (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Entulho dá R$ 1 mil a idoso

O aposentado Dorvalino Colete, 77, transforma o entulho despejado nas caçambas sociais em sua fonte de renda. Ao mês, diz obter uma renda complementar de R$ 1 mil com a reciclagem do material.

Ele conta que, desde que a caçamba foi implantada deixou de peregrinar pelo bairro. Agora, ele fica esperando o entulho chegar até ele. Recolhe todo material reciclável – vidro, lata, plástico, papelão e ferro – e revende. .

“Ganho R$ 880 de aposentadoria, mas o dinheiro não dá para nada. Somos oito pessoas lá em casa e só eu estou trabalhando. Chego aqui às 7h e fico até 17h30, 18h, todo dia, inclusive final de semana”, afirma o aposentado.

Dorvalino transporta do material em um carrinho de madeira. Na manhã desta quinta-feira (23), ele aguarda a mulher chegar com o carrinho sentado sobre os forros de PVC que havia separado para vender.

Antes de as caçambas serem instaladas no bairro Branca Sales, onde mora, Dorvalino percorria as ruas do João Rossi, na zona Sul, para recolher materiais recicláveis e revendê-los.

“Lá eu andava muito mais e ganhava bem menos, dava para conseguir uns R$ 500 por mês. Tenho problema na coluna e não posso andar muito. O médico quer me operar, mas tenho medo de fazer a cirurgia e não conseguir andar mais”, conclui.

Arte / A Cidade

 

Reforço na fiscalização

O coordenador de Limpeza Urbana, Marcelo Reis, destaca que, desde maio, um reforço de 14 fiscais da coordenadoria engrossa a fiscalização do despejo de entulhos junto com a Guarda Civil e a Fiscalização Geral.

Apesar do acúmulo de entulhos fora da Caçamba Social no Branca Sales, o volume recolhido tem aumentado mês a mês no local. “Em abril recolhemos 550 m³, em maio o número subiu para 750 m³ e em junho ainda não fechamos, mas acreditamos que haverá superação sobre o mês anterior. Fazemos o recolhimento diariamente”.

Segundo ele, os resíduos de construção civil são enviados para a usina de reciclagem da prefeitura, triturados e servem para recuperar estradas não pavimentadas.

“O material plástico é enviado à Cooperativa Mãos Dadas e os galhos e madeiras vão para a usina de resíduos verdes no Antonio Palocci, onde uma empresa transforma o material em adubo ou em fonte de energia para usinas”.

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Sentado sobre PVC, Dorvalino Colete espera carrinho para vender material (Foto: Weber Sian / A Cidade)


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