Pacientes estão em risco por falta de remédio na Farmácia de Alto Custo

09/02/2016 11:01:00

Medicamento que chega a R$ 4,3 mil a ampola está em falta desde o mês passado

F. L. Piton / A Cidade
A administradora de empresas Solange Batista está desde o dia 22 de janeiro sem tomar o medicamento Infliximabe (Foto: F. L. Piton / A Cidade)

O medicamento Infliximabe, indispensável para o tratamento da Doença de Crohn – doença inflamatória séria do trato gastrointestinal –, está indisponível na Farmácia do Componente Especializado (Alto Custo) de Ribeirão Preto desde o começo de janeiro.

Pacientes diagnosticados com a doença já sofrem as consequências da falta do remédio e se preocupam com a demora na reposição do fármaco, uma vez que o produto custa entre R$ 3,8 mil e R$ 4,3 mil.

A administradora de empresas Solange Aparecida Ramos Batista, 38 anos, precisa tomar quatro ampolas de 100 mililitros de seis em seis semanas. “Se considerarmos que cada ampola custa, em média, R$ 4 mil, eu gastaria R$ 16 mil por aplicação. Não dá para comprar, é impossível”, comenta.

Solange teria que ter tomado a medicação no último dia 22, mas conta que desde o dia 11 de janeiro a Farmácia de Alto Custo está sem estoque do remédio. “Tenho ligado lá todos os dias. Eles dizem que não tem previsão de chegada”, relata.

A administradora afirma que passa mal se não toma o medicamento. “Apresento um quadro de vômito, diarreia, dor abdominal, desidratação e perda de peso”, narra.

O coloproctologista Rogério Serafim Parra explica que a Doença de Crohn pode acometer qualquer segmento do tubo digestivo. Segundo ele, os sintomas são: dor na barriga, diarreia, perda de peso e fístulas na boca e no ânus.

A doença não tem cura nem causa conhecida, mas quem tem casos da enfermidade na família tem quatro vezes mais chance de desenvolver a inflamação. E o Infliximabe, de acordo com o médico, é o medicamento mais moderno para o tratamento da doença. “Ele cicatriza as feridas na mucosa do intestino.”

Parra destaca que a falta do remédio por mais de quatro semanas pode provocar complicações no intestino. “Se a pessoa não fizer a infusão periódica, a doença pode se complicar, porque o remédio é biológico e o organismo pode criar anticorpos contra ele. Com isso, o medicamento para de fazer efeito e a doença, a longo prazo, pode levar à morte”, expõe.

‘É valor de um carro novo’

A dona de casa Andrea Gaioli, 35 anos, também está preocupada com a ausência do Infliximabe na Farmácia de Alto Custo. “Eu tinha que ter tomado no dia 3. Tomo três frascos a cada oito semanas. Já estou sentindo na pele os efeitos da falta do medicamento”, conta.

Andrea foi diagnosticada com a doença em 2002. “Eu comecei a ter muita diarreia e dores abdominais e, de repente, surgiram fístulas. Procurei ajuda, mas os médicos não descobriam o que eu tinha. Eles suspeitavam de apendicite. Mais ou menos um ano depois, fiz uma colonoscopia que confirmou que eu tinha Crohn”, relata.

Em 2006, a dona de casa precisou tirar 30 centímetros do intestino e, após a cirurgia, passou a tomar o Infliximabe. “Melhorou muito. Antes eu tomava corticoide, mas tive osteoporose medicamentosa. O Infliximabe controla os sintomas. Sem ele, começa tudo de novo. O problema é o preço. É muito caro. Custa quase o valor de um carro novo”, observa.

Entrega até o dia 20

A direção da Farmácia do Componente Especializado de Ribeirão Preto comunicou, por meio de nota, que a falta do medicamento Infliximabe está ocorrendo em razão do atraso na entrega do insumo por parte do Ministério da Saúde.

Já o Ministério da Saúde não informou o motivo do atraso, apenas afirmou que a entrega do medicamento está prevista até o dia 20 deste mês.

“A oferta de medicamentos de alto custo é assegurada por meio do (CEAF) Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. Os medicamentos que compõem o CEAF estão na (Rename) Relação Nacional de Medicamentos, que garante à população o acesso gratuito aos tratamentos com custo mais elevados, e são subdivididos em grupos”, ressaltou o Ministério por meio de sua assessoria.



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