Ribeirão investe na saúde, mas isso não reflete na avaliação dos usuários

03/09/2015 10:17:00

Enquanto indicadores mostram cuidados com o setor, pacientes reclamam da demora e da falta de estrutura

Milena Aurea / A Cidade
José Maria Primo aguardava em pé, por quatro horas, para ser atendido (foto: Milena Aurea / A Cidade)

Na manhã de ontem (2), José Maria Primo foi à toa ao Hospital Beneficência Portuguesa. Devido à paralisação parcial dos serviços pelos atrasos nos repasses da prefeitura (o atendimento será normalizado hoje), não foi possível retirar os pontos de uma cirurgia feita no mês passado no ombro.

Aos 75 anos, ele não desistiu: foi em seguida à UBDS Central por conta de feridas que surgiram há três meses em seu corpo. Chegou às 12h30 e, quatro horas depois, ainda aguardava – em pé. “A saúde no Brasil é ruim. Em Ribeirão, não é péssima, mas com certeza não é boa.”

Comparando os principais indicadores de saúde com as médias do Estado de São Paulo e do Brasil, o município não faz feio. Em 2011, último ano do IDSUS (Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde), Ribeirão conseguiu a terceira melhor avaliação entre as grandes cidades do país – o indicador engloba todos os serviços.

O nível de internações que poderiam ser evitadas caso a atenção básica funcionasse caiu de 26,5% em 2009 para 21,82% no ano passado – o ideal é ficar abaixo de 28%.

Nada disso, entretanto, ameniza a frustração do eletricista Lucas Cardoso de Araújo, 25. Ele veio de Franca a trabalho e ficará seis meses. “Não imaginei que uma cidade rica como essa teria esse atendimento terrível”, diz. Com sinusite, aguardava três horas para ser atendido na UBDS Central. “Os principais indicadores de saúde, como mortalidade infantil, não aferem a percepção da população sobre o atendimento”, explica Cláudia Passador, especialista em gestão em saúde pública.

Com 666 mil habitantes, segundo divulgou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ribeirão Preto precisa melhorar a eficiência dos gastos com a saúde, principalmente na atenção básica, diz Claudia.

Gastos que, proporcionalmente, estão diminuindo. Há cinco anos, 28,6% da arrecadação da prefeitura eram investidos em saúde. Este ano, serão 25% – superior aos 15% preconizados pelo Governo Federal.
Ainda assim, a Saúde passa por crise: os hospitais Beneficência Portuguesa e Santa Casa reclamam de atrasos de quatro meses da prefeitura, que somados chegam a R$ 3,8 milhões. Já o Santa Lydia devia, até junho, R$ 22 milhões a fornecedores. 

Arte / A Cidade
Análise da rede municipal de saúde (Arte / A Cidade)

‘Ribeirão é referência’

O secretário de Saúde, Stênio Miranda, não atendeu o A Cidade ontem. Em entrevista, o secretário da Casa Civil, Layr Luchesi, assume que a rede municipal enfrenta problemas. “Obviamente não temos uma saúde perfeita, mas em relação às outras cidades do país Ribeirão Preto é referência.”

Em nota, a prefeitura informou que os municípios brasileiros gastam, em média, 23,5% de seus recursos com saúde. “Com as medidas de gestão adotadas desde o início deste período administrativo, a proporção de gastos com saúde estabilizou-se em 25% da receita líquida nos últimos 3 anos, revertendo a tendência ascendente”, diz a nota.

Sobre os repasses à Santa Casa e Beneficência, a prefeitura diz que “a forma de remuneração, nos prazos e proporções, é a adotada há décadas e é de pleno conhecimento dos hospitais e de seus administradores”, e que a totalidade dos recursos só é repassada após auditoria.

Análise - Priorizar a atenção básica

Nem sempre o município que gasta mais com saúde tem o melhor desempenho. Assim, é necessário analisar o custo-efetividade das ações. A atenção básica é uma forma de maximizar recursos, pois sai muito mais caro o atendimento de emergência do que a prevenção. Em Ribeirão, a terceirização é prejudicial para a qualidade dos serviços e, ainda, um retrocesso para os princípios do SUS. Outro agravante é que servimos de porta de entrada para municípios vizinhos, o que sobrecarrega o sistema. É necessário priorizar a atenção básica e melhorar a gestão. Por exemplo: com a informatização, é necessário um paciente esperar cinco horas em uma fila? Claudia Passador, especialista em gestão pública.



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