USP de Ribeirão cria site para criança diabética

15/08/2015 17:40:00

Ferramenta foi criada por aluna e professor da Universidade de São Paulo para orientar pacientes e pais sobre a doença

Milena Aurea / A Cidade
Portadora de diabetes, Bruna Fernanda Dias quer fazer medicina para ajudar outros doentes (Foto: v)

Bruna Fernanda Dias descobriu a diabetes aos 11 anos. A maior dificuldade foi entender a descoberta. “No começo, a gente não sabia nada. Nunca tinha entrado no assunto”.

A dificuldade foi a mesma enfrentada pela mãe de Gabriela. Francine Carolina Feiteiro conta que custou a encontrar informação de qualidade. “A gente perde o chão. Principalmente porque não conhece. Eu tentava achar coisas na internet, ler, mas é difícil”.

O site criancascomdiabetes.fmrp.usp.br foi criado para informar. Mães, crianças e adolescentes: a ideia é que ninguém fique sem entender.

“Eu estudei em uma escola pública e queria devolver isso para a sociedade. A pesquisa também devolve, mas eu queria algo imediato”, explica Erika Monteiro, aluna de nutrição da USP.

Ela criou o site, com a coordenação do professor Raphael Del Roio Liberatore Junior e de outros alunos da Enfermagem e Medicina da USP.

“É o único do Brasil e o segundo no mundo criado para esse público”, destaca Raphael. A página foi lançada na semana passada e já teve cerca de 900 acessos. “O objetivo é informação boa”, diz o professor.

O site, todo colorido, tem conteúdos para grandinhos e pequenos.

Além de explicar a doença, as páginas ensinam pacientes e família a conviver com ela. “É a maneira mais acessível de chegar à criança. Redes sociais, como Facebook, não foram criadas para o público infantil”, diz Erika.

Para atrair a criançada, o grupo criou um concurso. Quem escolher o melhor nome para o leão astronauta, mascote do site, vai ganhar um tablet.

“Se quando eu descobri já tivesse algo assim, teria sido muito mais fácil”, Bruna não tem dúvidas.

A jovem, que hoje já tem 18 anos, vai mesmo passar a vida a cuidar da diabetes. Está prestando vestibular em Medicina.

“Eu acho que por ser diabética posso ajudar os pacientes. Eu sei o que eles passam”, quer cuidar de crianças e adolescentes como ela foi. “A gente precisa aprender com os obstáculos. Mesmo que tenha um limite, não significa o fim”.

Disque diabetes funciona 24h, sem férias

A tecnologia é usada a favor da Medicina no ambulatório de diabetes do HC. Há um ano, o professor Raphael e seus residentes criaram o Disque Diabetes.

O número funciona 24 horas, a maioria delas nas mãos do professor. “Nós recebemos, em média, 20 ligações por dia. Mas na época das festas aumenta muito. Páscoa, por exemplo, é um estrago”, ele brinca.

Mastrangelo Reino / A Cidade
Professor Raphael Liberatore mostra site com orientação da diabetes (Foto: Mastrangelo Reino / A Cidade)

O recurso diminuiu as complicações da doença entre pacientes do hospital. Em 2013, o ambulatório registrou 19 casos de cetoacidose diabética entre pacientes já atendidos e novos. Em 2014, com o Disque, o número caiu para 10 casos, todos pacientes novos. “Nós ficamos a disposição deles. Com isso, cai o número de internações e os custos do tratamento diminuem para a saúde pública”, o médico salienta.

Durante uma hora de entrevista, uma mãe liga. Pede algumas orientações e é tranquilizada. “As pessoas se sentem mais acolhidas”, Raphael conclui. O número é (16) 4141-0755, e mesmo pacientes que não são do HC podem recorrer ao recurso. “É para todos”.

Com tratamento adequado, rotina é normal

“Nunca mais vou comer doces?”, é a pergunta que pula na mente de um leigo ao falar de diabetes. Bruna não fica sem sobremesa. “Não abro mão, não. Amo chocolate. Mas não exagero, como moderadamente”.

Esse é o segredo, destaca o professor Raphael. Ele explica que quando a criança ou o adolescente recebe o diagnóstico é preciso algumas restrições. “Até que a gente acerte o tratamento”. Depois, vida normal.

A bomba de insulina, que Bruna foi a primeira criança do HC a usar é recurso fundamental. O aparelho fica instalado no corpo, faz a medição da glicose e libera insulina em doses determinadas pelo paciente. “Nossa vida mudou”, diz a mãe de Bruna, Gisele Dias. “O começo é sempre mais difícil. Nós tiramos tudo da Bruna. Depois vimos que não era assim”.

Game educativo

Vem mais novidade por aí! A enfermeira Valéria Sparapani, que é educadora em diabetes, doutoranda da USP e ajudou a pensar o site, está criando um videogame para crianças com diabetes, com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os jogos vão ensinar os cuidados do dia a dia. “Quando a gente lida com criança, é essencial”, ela diz. A previsão é de que o game seja lançado em abril de 2016.

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