Condomínio ordenou poda drástica para espantar pombos das árvores (Foto: Matheus Urenha/ A Cidade)

Quem passa pelo cruzamento das ruas Álvares Cabral e Rui Barbosa, no Centro de Ribeirão Preto, se espanta com a poda drástica de 11 árvores de médio porte encomendada pelo Edifício Araguaia, localizado na esquina.

As árvores tinham aproximadamente 6 metros de altura e foram cortadas, segundo o porteiro do prédio, porque haviam se tornado um criadouro de pombos. A síndica não foi localizada no prédio para se manifestar. “Os excrementos dos pombos sujavam os carros e as calçadas. E ainda podiam transmitir doenças”, justifica o funcionário, que não quis se identificar.

Além da sujeira, as fezes secas de pombos contaminadas por fungos ou bactérias podem transmitir doenças como criptococose, histoplasmose e clamidiose. Elas comprometem o aparelho respiratório e podem também afetar o sistema nervoso central.

Apesar disso, o manobrista Anderson Luiz França, 44 anos, entende que a medida foi radical. “Podiam soltar bombinhas ou pulverizar a árvore para espantar os pombos”, diz.

Anderson lembra que, em 2007, o padre Francisco Moussa, conhecido como padre Chico, resolveu o problema dos pombos na Praça das Bandeiras, onde fica a Catedral, com refletores.

Em vez de iluminar a igreja, o religioso voltou as 14 lâmpadas de 400 watts para a copa das árvores, afugentando os animais. “As árvores estavam ótimas e faziam sombra para os carros”, comenta o empresário Abílio Nayme Netto, 80 anos.

Diante do cenário desolador e triste não há quem fique calado pelo cruzamento. “Podiam até podar as árvores, mas não mutilá-las”, afirma o corretor Henrique Nayme, 36 anos. Para a estudante Larissa Erbst, 22 anos, o ambiente ficou menos fresco e visualmente ruim.

Multa
A Prefeitura informou que o edifício foi autuado e terá de pagar uma multa de R$ 2 mil pela medida.
De acordo com o Código do Meio Ambiente da cidade, em qualquer tipo de poda, não podem ser removidos mais que 30% do volume total da copa.

Poda radical pode matar árvores
Algumas espécies não suportam a poda drástica, principalmente em época de chuva. Isso porque a água molha o tronco e ele fica suscetível a pragas, como cupim e fungos. Se as árvores em questão não voltarem a brotar, terão que ser extraídas. A poda só é justificável em caso de contato da árvore com a fiação ou quando coloca o patrimônio ou alguém em risco. A população parece não perceber a importância da arborização. As árvores realizam o resgate do carbono, purificam o ar, facilitam a infiltração da água no solo e colaboram com a recarga dos lençóis subterrâneos.

Simone Kandratavicius
Diretora da ONG Pau Brasil