Júri do caso Petlik encontrará embate de teses no tribunal

27/08/2014 08:29:00

Depoimentos de testemunhas abrirão os trabalhos no Fórum de Araraquara

Reprodução
O criminalista paulistano José Luís Oliveira Lima encabeçará a defesa de Haroldo Petlik. (Foto: Reprodução)

Após mais de 20 anos de seu assassinato, terá início hoje, a partir das 13h30, no Fórum de Araraquara, o júri popular do caso Suzana Petlik. 

Depois de várias suposições sobre o que teria ocorrido no dia 13 de fevereiro de 1994, somadas às ‘lendas urbanas’ que rondaram o assunto, o foco das atenções estará nas figuras de Herivelto de Almeida, promotor de Justiça; José Luís Oliveira Lima, advogado de defesa; e outros quatro defensores.

Cinco testemunhas da acusação e mais três da defesa devem ser ouvidas hoje. Está previsto que apenas essa parte seja realizada hoje, enquanto a fase de apresentações e debates fique para amanhã.

O confronto de teses da acusação e defesa, com suas testemunhas, provas e debates, vai municiar o conselho de jurados que vai determinar o destino dos réus, o médico Haroldo Petlik, marido de Suzana, apontado como mentor do crime, e Gustavo Alcântara de Faria, tido como o executor do assassinato.
A Tribuna Impressa teve acesso à parte das teses que serão defendidas pelas partes. O processo tem vários volumes e milhares de páginas, minuciosamente analisadas pelos juristas com a preocupação de não perder detalhes importantes no longo período em que o caso correu.

Tese da defesa

A defesa requer a impronúncia da acusação sobre Petlik. Isso significa que os defensores apontam que não há qualquer indício ou prova consistente que coloque o médico no crime. Desse modo, não merecendo ser levado a júri popular.

Segundo documento emitido pelos advogados à reportagem, também é questionada a investigação policial e uso de ‘tortura psicológica’ nos interrogatórios do caso. “A cega obstinação da polícia em incriminar Haroldo Petlik impediu que o assassino de Susana Petlik fosse descoberto e punido”, diz em determinado trecho.

A defesa também questiona que Petlik não tinha motivos para desejar a morte da esposa, mostrando-o como exemplo de profissional, pai de família e com antecedentes irretocáveis. “A acusação não é explícita sobre qual seria o motivo do imaginado crime de Haroldo”, discorre o texto.
Outro ponto destacado pela defesa é a ausência de elementos que tracem alguma ligação entre Petlik e Gustavo, outro réu do processo.

Josimara Veiga Ruiz é a advogada nomeada pelo Estado para fazer a defesa de Gustavo. Procurada pela reportagem, ela disse ter assumido o caso há pouco tempo e que não teria como se pronunciar.
A defensora também não soube precisar se Gustavo estará presente ao julgamento, já que, por lei, não há essa obrigatoriedade. Mesmo que não venha, será julgado a revelia, ou seja, sem seu conhecimento, podendo ser condenado se o júri assim decidir.

Tese da acusação

O promotor Herivelto de Almeida preferiu não comentar sobre os caminhos que tomará no julgamento que se inicia hoje. Ele assumiu o caso em 2007 e tem concentrado seus esforços em unir os elementos

Kris Tavares/Tribuna Impressa - 06.ago.2013
Herivelto de Almeida é o promotor de Justiça encarregado da acusação do caso. (Foto: Kris Tavares/Tribuna Impressa - 06.ago.2013)

que ficaram esparsos ao longo dos anos. Provas e depoimentos de testemunhas ligadas ao caso serão apresentadas ao tribunal do júri.

De acordo com Almeida, os vários pontos, pessoas envolvidas e linhas de investigação, são levados em consideração para elucidar o que, de fato, ocorreu naquele feriado de Carnaval. 
 

Família rompeu silêncio

Pela primeira vez desde a morte de Suzana Petlik, um membro da família resolveu contar como foi o fatídico dia do assassinato e a maneira que a família se comportou desde então.

Cláudia Petlik Fischer, filha de Haroldo e Suzana, falou com exclusividade à ‘Tribuna’ no último domingo, dia 24 de agosto.

Ela e os irmãos, Luís Eduardo e Daniel, creem totalmente na inocência do pai. “Se eu tivesse alguma dúvida, e falo em nome dos meus irmãos, a gente estaria do outro lado. Quem mais quer descobrir mais do que os próprios filhos? Meu pai sempre foi o melhor pai”, disse em entrevista.

Para Cláudia, o crime foi ao acaso, e não premeditado. No entanto, ela reforça que a atuação policial prejudicaram a elucidação do caso. “Não tem o menor indício de que foi premeditado. Cada dia, a gente ficava esperando por pistas, por notícias, tinha esperança. Achava que a polícia estava do nosso lado, que iria descobrir o teria acontecido.”

Morte no feriado de Carnaval

No início da tarde do dia 13 de fevereiro de 1994, a professora Suzana Petlik, 40 anos, foi encontrada morta na região do Selmi Dei, próximo à Chácara Uruguai, de propriedade da família, e que leva o nome de seu país natal.

Suzana estava deitada no chão, de costas, com o braço direito aparentemente fraturado, sob a cabeça, ao lado uma pedra de concreto.

Havia perfurações na região dos seios, supostamente realizadas com um objeto perfurocortante e com marcas de pneus sobre o abdome. Usava brinco, anel e relógio.

Pouco mais à frente estava seu carro, um Fiat Uno placas GE-3912, completamente incendiado.

Esse foi o início da investigação de um crime que parecia não ter fim. Sobretudo em uma cidade do interior, como Araraquara, que tinha pouco mais de 170 mil habitantes.

Foram anos de investigação, houve a troca de delegados, de investigadores e até mesmo o pedido de apoio ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Capital, que investigou de perto durante um ano. Mas até 1996 não havia suspeitos.

Em 1999, o MP (Ministério Público) ofereceu denúncia contra Haroldo Petlik e Gustavo Alcântara de Faria. O médico é acusado de ser mandante do crime e o outro, o executor. Depois de interrupções seguidas na ação, em 2011 a sentença de pronúncia foi confirmada por acórdão do Tribunal de Justiça.

Desde então, o julgamento foi adiado três vezes, pois já havia sido marcado para 29 de abril de 2013, 26 de novembro do mesmo ano, e 20 de fevereiro de 2014. (colaborou Micheli Valala)



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