Vacinação em baixa acende alerta para pólio e sarampo

15/07/2018 10:28:00

Cobertura vacinal de Ribeirão Preto contra paralisia infantil é de 87%, abaixo do preconizado pelo Ministério da Saúde

Eloá, 4 anos, foi vacinada na semana passada. "Sempre segui à risca o calendário", diz a mãe, Amanda Simpliciano (Foto: Weber Sian / A Cidade)
 

Acompanhando a tendência nacional, famílias de Ribeirão Preto e região estão deixando de vacinar os filhos. Profissionais e organismos de saúde já acenderam o alerta para, principalmente, o retorno da poliomielite (popularmente conhecida como paralisia infantil) e sarampo, doenças consideradas erradicadas no País. Ambas podem ser fatais ou deixar sequelas permanentes.  

O Ministério da Saúde recomenda que 95% das crianças com até um ano de idade estejam vacinadas.  

De 2011 a 2016, a taxa em Ribeirão esteve acima de 90% para a poliomielite. Há dois anos, a cobertura vacinal era de 104% (ou seja: até crianças que não estavam cadastradas na rede municipal foram vacinas). Em 2017, porém, a taxa caiu abruptamente para 87%. Com isso, cerca de mil crianças ficaram desprotegidas naquele ano, estima a Prefeitura.  

A imunização contra o sarampo está dentro do ideal no município.  

Nas 26 cidades que compõem o GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica de Ribeirão Preto), a situação é ainda pior: a cobertura de poliomielite passou de 102% em 2015 para 83,8% em 2017, e a de sarampo de 100% para 87,8%, segundo dados parciais da Secretaria de Estado da Saúde.  

No País, 312 municípios estão com cobertura abaixo de 50% e receberam um ofício do Ministério Público Federal cobrando medidas. Entre eles estão Franca, Jaboticabal e Guariba.  

Especialistas ouvidos pelo A Cidade dizem que a queda na cobertura de vacinação tem diversas causas, que vão da dificuldade dos municípios em alimentar o banco de dados de imunização a, até, difusão de boatos pelas redes sociais com mentiras sobre malefícios da vacina.

Sem medo  

A principal causa, porém, seria o longo período sem surto dessas doenças no país.  

O último caso de poliomielite ocorreu em 1989. Já o sarampo fez 478 vítimas fatais em 1990 e 212 em 1991.  

A partir do ano seguinte, com as campanhas de vacinação, as mortes caíram: de 2000 a 2017, foram apenas 4 casos.  

"As gerações atuais de pais não conviveram com o sarampo e poliomielite, e não sabem as sequelas que causaram no passado. Como as doenças pararam de circular, ficaram com a falsa sensação de que está tudo bem e que seus filhos estão naturalmente protegidos. A proteção, porém, só ocorre pela vacinação", alerta Regiane Aparecida Cardoso de Paula, diretora do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) do Estado de São Paulo. 

POLIOMIELITE  

Conhecida como "paralisia infantil", é um vírus que pode resultar em parada respiratória e paralisia permanente (principalmente dos membros inferiores). Geralmente atinge crianças com menos de quatro anos.

PREVENÇÃO: vacina aos dois, quadro e seis meses de vida, vacina oral (gotinha) aos 15 meses e 4 anos.

Histórico no Brasil: foram 26.827 casos entre 1969 e 1989. De 1990 em diante não foram registrados novos casos no País.

SARAMPO  

Doença infecciosa aguda e grave, transmitida por vírus. Pode ser contraída por pessoas de qualquer idade, mas é principalmente perigosa para crianças com menos de 5 anos, podendo levar a óbito. Entre os sintomas estão febre e manchas vermelhas pelo corpo.

PREVENÇÃO: vacina aos 12 meses (tríplice viral) e outra aos 15 meses de idade (tetra viral).

Histórico no Brasil: em 1990 e 1991 foram, somados, 104 mil casos de sarampo que resultaram em 690 mortes. O número de casos foi caindo gradativamente, até que, em 2016, a doença foi considerada erradicada. Em 2018, porém, já são cerca de 500 casos confirmados (um deles em um adulto de Ribeirão Preto) e 1,5 mil em investigação. Ao menos duas pessoas morreram. Amazonas e Roraima estão em situação de surto.

Transmissão: pólio e sarampo são transmitidos de forma direta, por meio de secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar.   

Fonte: Ministério da Saúde

Prefeitura diz que permanece atenta

Desde a tarde de quarta-feira (11), A Cidade tentou entrevistar reiteradas vezes, sem sucesso, algum gestor da Secretaria Municipal de Saúde para falar sobre a cobertura vacinal. Em email encaminhado às 18h de sexta-feira, a pasta afirmou que a redução da cobertura de poliomielite está associada a diversos fatores, principalmente "a crença de que essas doenças não existem mais" e o desconhecimento da gravidade delas. A secretaria de Saúde ressaltou que "permanece sempre atenta, no sentido de esclarecer a população ao máximo quanto à importância e segurança das vacinas", e lembrou que, a partir de segunda-feira (16), inicia uma campanha de intensificação de vacina contra o sarampo. 

Taxa de vacinação caiu no país devido 

Falsa sensação de tranquilidade
Como a poliomielite e o sarampo não assustam desde a década de 1990, as atuais gerações de pais não têm consciência do risco das doenças e de que a única forma de previni-las é vacinando as crianças.

Incongruência nos dados
A partir de 2016, os municípios passaram a utilizar um novo sistema para atualizar o banco de dados nacional de vacinação. Por problemas na manipulação dos dados, muitas prefeituras informaram taxas erradas de cobertura vacinal. Foi justamente a partir de 2016 que as taxas de vacinação despencaram.

Boatos e fake news
Apesar de não serem o principal motivo da queda, mentiras espalhadas em redes sociais (principalmente Facebook e Instagram) sobre malefícios das vacinas desestimularam pais a vacinarem os filhos

Horário inacessível
As unidades de saúde, muitas vezes, só vacinam em horários comerciais, quando os país estão trabalhando. Assim, eles não conseguem tempo para vacinar os filhos, com medo de perderem o emprego.

Desabastecimento
Muitos municípios enfrentam falta de estoque de vacinas e não têm gestão adequada para o controle de vacinação 

Fonte: A Cidade, Secretaria de Estado da Saúde e Sociedade Brasileira de Imunizações.  

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