Sem combustível, coleta de lixo e ônibus param neste domingo

26/05/2018 09:03:00

Decisão foi anunciada na sexta-feira (25) à tarde pelo prefeito Duarte Nogueira (PSDB), como uma forma de racionalizar o uso do combustível

Transporte coletivo reduzido fora do horário de pico começa a prejudicar os usuários, pela demora. (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Por: Cristiano Pavini | Gabriela Virdes | Lucas Catanho | Isabela Grocelli | Marcelo Fontes  

Esta reportagem tem a garantia de apuração ACidade ON.  
Diga não às fake news!

Sem combustível, cerca de 20 mil ribeirão-pretanos deverão ficar sem transporte coletivo neste domingo (27). No mesmo dia, a coleta de lixo também será suspensa, conforme anunciou a Prefeitura de Ribeirão Preto.  Os ônibus devem voltar a circular na segunda-feira, mas apenas nos horários de pico pela manhã (6h às 8h30) e à tarde (17h às 20h).  

O Consórcio PróUrbano ainda tenta reverter a situação. No final da tarde de sexta-feira (25), conseguiu decisão judicial da 4ª Vara Cível impedindo os caminhoneiros de obstruir o abastecimento dos ônibus. Os grevistas seriam intimados neste sábado (26).  

Entretanto, tanto o consórcio quanto a Transerp analisam se, caso os grevistas permitam o abastecimento, haverá viabilidade operacional para a frota voltar às ruas já neste domingo. A situação fica ainda mais complicada porque motoristas de aplicativos, como Uber e 99, diminuíram a disponibilidade em razão da falta de combustíveis nos postos.  

No pedido feito à Justiça, o PróUrbano alegou que tinha combustível suficiente apenas para mais um dia. Por isso, as operações deste sábado foram reduzidas, as de domingo canceladas e as de segunda restritas ao horário de pico.

Lixo  

"Não coloquem lixo para fora [de casa] a partir de domingo", pediu o prefeito Duarte Nogueira (PSDB).
A coleta de resíduos sólidos domiciliares está garantida apenas até este sábado.  

Segundo a Estre, responsável pelo serviço, "serão priorizados os pontos essenciais de coleta como hospitais, escolas, espaços públicos em geral e feiras livres". A empresa não respondeu, ao A Cidade, quais as alterações na coleta a partir da próxima semana. 

Só para saúde e educação  

Cerca de cem caminhoneiros autônomos prometeram manter a manifestação neste sábado em frente ao Terminal de Petróleo no bairro Simioni, zona Norte de Ribeirão Preto. "Permanecemos firmes e fortes. Combustível só para a saúde e educação", afirmou Sidnei Lopes, representante do movimento.  

Ontem, os motoristas autorizaram a saída de alguns caminhões-tanques para hospitais e bases policiais da região. Segundo Sidnei, o movimento está cumprindo as decisões judiciais.  

"Não há impedimentos, a passagem está liberada. Mas os manifestantes permanecem. Aí, vai da consciência de cada motorista [de levar combustível]", afirmou. O grupo de Ribeirão é conectado, pelo WhatsApp, com manifestantes de todo o País. "A decisão dos rumos do movimento é conjunta" diz Sidnei.  

Prejuízo: Sem o transporte escolar, a filha e a neta de Marta Souza não puderam ir à escola (foto: Weber Sian / A Cidade)

ketlyn e Ágatha não tiveram como ir às aulas

A semana terminou em dor de cabeça para a dona de casa Marta Aparecida Souza, 48. Com o transporte escolar da rede municipal suspenso, a filha Ketlyn, 9, e a neta Ágatha, 8, perderam o dia de aula. Moradoras no bairro Wilson Toni (zona Oeste), as meninas estudam na escola Virgílio Salata, no Ipiranga (zona Oeste), e dependem do transporte da Prefeitura para frequentar as aulas.  

"O transporte não veio e elas não tiveram como ir à aula. Daqui do Wilson Toni não há ônibus direto para o Ipiranga. Para levá-las teria de pegar dois: um até o Centro e outro até o Ipiranga", afirmou.  

Para Ágatha, faltar da escola não é nada bom porque vai perder o conteúdo. "É ruim não ir à aula porque tem colega meu que foi. Depois eu vou ter que repor para poder acompanhar", disse a estudante. A preocupação de Marta é que a ausência das meninas prejudique o recebimento do Bolsa Família, benefício que ajuda nas despesas da casa. "Se elas faltam eu posso até perder o benefício", conclui.  

Sem acordo: Caminhoneiros permanecem em greve em Ribeirão (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Análise  

Situação pode desencadear um caos social 

"A população vê nos caminhoneiros a síntese de suas angústias, como se a paralisação fosse uma ação contra todas as medidas governamentais que atingem ela própria. Assim, se identifica e mostra solidariedade a eles. Não percebe, porém, a complexidade da situação. Os bloqueios são apoiados, além dos caminhoneiros autônomos, por empresas de grande porte, que têm seus próprios interesses. E, pelas declarações de seus representantes, possuem uma pauta de reivindicações corporativista que, embora legítimas, não são tão amplas como imagina a população. O cenário é de uma categoria que tem o país nas mãos, e tudo pode acontecer. Se a intervenção do Governo Federal, que está totalmente deslegitimado, no uso das Forças Armadas for excessiva ou precipitada, o movimento pode receber um apoio mais amplo da sociedade. Se, por outro lado, não houver intervenção, a população sofrerá de fato com falta de comida e combustíveis, entre outros, e a situação pode sair do controle e resultar em um caos social" (Milton Lahuerta, Coordenador do Laboratório de Política
e Governo da Unesp de Araraquara) 

LEIA MAIS: Rotina só volta ao normal em até 3 dias após o fim da greve



    Mais Conteúdo