Políticos em baixa, protestos em alta

02/09/2014 10:00:00

Faltar, votar em branco ou votar nulo não prejudica o processo eleitoral brasileiro, muito menos cancela o pleito

Lucas Mamede / Especial
Ônibus de campanha contra a eleição ficou estacionado na Praça das Bandeiras, na região central de Ribeirão (Foto: Lucas Mamede / A Cidade)

A insatisfação da sociedade com a classe política tem criado vários movimentos que pedem o não comparecimento às urnas no dia 5 de outubro. Em Ribeirão Preto, principalmente na região central, as manifestações contrárias às eleições se multiplicaram a partir dos protestos de junho de 2013.

Boatos de que a eleição não é validada caso mais de 50% dos eleitores votem nulo ou que o não comparecimento de mais da metade dos eleitores às urnas cancela a eleição são rapidamente propagados. Especialistas, porém, alertam que basta que ocorra um voto válido para que o resultado do pleito seja considerado normal. A insatisfação também leva ao vandalismo contra placas e faixas dos candidatos em campanha.

Não às urnas

Na semana passada um ônibus preto foi estacionado na Praça das Bandeiras, no Centro de Ribeirão Preto. Entre as várias citações, o principal pedido era para “não votar”.

O grupo, que intitula-se “Movimento Nacional Não Votar”, distribuiu panfletos e cartões. No portal oficial do grupo (ronaldobrasileiro.com.br) há uma série de explicações pedindo para o eleitor não comparecer às urnas e falando o que é ser “patriota”.

Ribeirão Preto também possui uma filial da Unidade Vermelha. O grupo se intitula uma organização política que faz críticas duras contra as eleições. O mesmo grupo também lançou o “Comitê de Boicote a Farsa Eleitoral”, que já tem mais de 100 seguidores no Facebook.

“A Unidade Vermelha tem 1 ano e 2 meses e o comitê foi aberto no início do atual processo eleitoral”, explicou um adolescente de 17 anos, que é um dos organizadores dos dois movimentos. “Nós temos representantes em quatro escolas e queremos mudar o atual processo político desgastado”, acrescentou.

De acordo com o adolescente, a meta é fazer uma marcha no dia da eleição (5 de outubro) pedindo o não comparecimento às urnas. “Nossa luta é pela libertação nacional. Hoje o Brasil é refém nas amarradas dos países estrangeiros”, finalizou.

Eleição não pode ser cancelada, nem anulada

Especialistas ouvidos pelo A Cidade alertam que o eleitor que não for votar pensando em prejudicar a eleição não vai conseguir êxito.

Leandro Stoco, advogado e especialista em direito eleitoral, afirmou que para a eleição ter validade basta um voto válido. “Os votos brancos e nulos são uma opção, mas não anulam a eleição”, explicou.

Para Luiz Eugênico Scarpino Júnior, da Comissão de Direito Eleitoral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Ribeirão Preto, “os votos brancos e nulos são excluídos apenas do universo de votos válidos, para apuração do quociente eleitoral”.

“A possibilidade plausível que leva à anulação da eleição se dá naqueles casos em que o candidato atinja a maioria absoluta dos votos através de algum artifício ilícito”, falou.

ANÁLISE
É preciso uma nova era de valorização

“As campanhas contrárias ao voto não são novidades, mas vêm crescendo ano a ano. Isso é fruto das inúmeras notícias ruins que surgem na mídia sobre o Legislativo e o Executivo. No Brasil, criou-se a cultura de que a política é formada por corruptos que só fazem falcatruas. É a sensação de que o político rouba e se da bem. Nos Estados Unidos, por exemplo, é totalmente diferente.

A população faz doações para bancar a campanha do candidato escolhido. No Brasil isso é impensável. A mudança deste quadro depende diretamente da atitude dos políticos. Já a população precisa saber a importância do voto e da política para determinar o futuro do País. Ainda estamos longe disso, mas o Brasil precisa viver uma nova era, com a valorização da política partindo dos políticos”.

Carlos Manhanelli
Especialista em marketing político



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