Sevandija revela a moeda de Dárcy pelo poder

12/06/2017 17:38:00

Investigações mostram que ex-prefeita de Ribeirão Preto extrapolou o limite legal em troca de apoio político na Câmara

Mastrangelo Reino / A Cidade - 03.nov.2016
Investigações mostram que Dárcy Vera extrapolou o limite legal em troca de apoio político na Câmara (Foto: Mastrangelo Reino / A Cidade - 03.nov.2016)

 

- Pode votar contra. Fica à vontade. Mas tira todos os seus cargos do governo hoje. O cara está cheio de gente no governo. Manda embora.

A então prefeita Dárcy Vera (PSD) estava irritada naquela noite de quarta-feira, 15 de junho de 2016. Sem saber que o telefone do interlocutor, o seu braço direito Marco Antonio dos Santos, era monitorado pela Operação Sevandija, ela criticava o genro, o vereador Giló (PTB), por não ter votado com o governo na sessão da Câmara do dia anterior.

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Segundo o relatório de votações, Giló marcou presença no plenário às 19h02. No minuto seguinte, deixou de votar em um projeto da prefeitura. Também não votou na proposta seguinte, considerada essencial para o Executivo, que transferia recursos de um fundo municipal para os cofres do Palácio Rio Branco.

Transcorridos dois minutos, e em todos os demais projetos daquela sessão, de autoria de colegas vereadores, Giló “se lembrou” de votar.

Motivo

Três dias depois, a Sevandija flagrou Walter Gomes (PTB) e Capela Novas (PPS) conversando sobre Giló, que teria se reunido com Marco Antonio para anunciar a saída do governo.

“Também, os caras deram mais cargos para o pessoal do Luiz Joaquim [ex-presidente do PR] do que para o Giló”, diz Walter. Depois, emenda: “Você sabe, a gente só é atendido às vezes por causa do medo”.

Os bastidores dos interesses que moviam os vereadores em sua atuação parlamentar, segundo a Operação Sevandija, extrapolaram todos os limites da legalidade.

Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizada) e Polícia Federal denunciaram que os vereadores apoiavam a prefeita em troca de cargos, preenchidos por meio de apadrinhamentos na empresa Atmosphera, de Marcelo Plastino.

Cada apadrinhamento, descoberto nas ligações e emails interceptados e em planilhas apreendidas, foi considerado um ato de corrupção – ativa para o gestor que nomeou e passiva para o vereador quem indicou.

Ao todo, o Ministério Público denunciou à Justiça que nove vereadores da base aliada da ex-prefeita apadrinharam 312 pessoas e, portanto, praticaram igual número de atos de corrupção. O campeão foi Cícero Gomes, com 85 indicações.

Mas o festival de apadrinhamentos parecia não ser suficiente. Dárcy estava preocupada com a fidelidade de sua base, temendo que suas contas de governo fossem rejeitadas pela Câmara - inclusive, por vereadores beneficiados pela Atmosphera, como Giló.

“Gratidão em política Darcy? Isso aí não existe. Você sabe que não existe. Só existe interesse”, disse Marco Antonio, na mesma conversa que abriu esta reportagem.
Os dois interlocutores, hoje, estão presos em presídios de Tremembé.

Sevandija

O promotor de Justiça Gabriel Vidal, que atuou na Sevandija, diz que a sociedade não pode ver com naturalidade o apoio político em troca de cargos.

“A política no Brasil, em todas as suas esferas, se pautou pela coalizão formada pela troca de favores. Isso, por si só, já é errado”.

Em Ribeirão Preto, porém, a estrutura de apadrinhamentos na Atmosphera rompeu todos os limites de legalidade, segundo Gabriel.

“Era um verdadeiro aluguel de cargos, com vereadores traindo seus eleitores e votando segundo seus interesses pessoais”.

Ele diz que a Operação Sevandija, assim como a Lava Jato, mostraram que esse sistema de coalizão “faliu”. “Os partidos políticos precisam ter ideologia, e não vender apoio político através de benefícios espúrios”.

 

Milena Aurea / A Cidade

 

Luchesi dizia que Marco ‘apitava’ mais que Dárcy

- Não perca tempo com quem não apita... O Marco que apita.

Quem dá o conselho é Layr Luchesi Junior, então secretário da Casa Civil, em conversa interceptada pela Operação Sevandija em maio do ano passado, desdenhando do poder da então prefeita Dárcy Vera. - Com ela não, é com o Marco, reforça ao interlocutor, dizendo que o assunto deviria ser tratado com quem de fato mandava na prefeitura: Marco Antonio dos Santos.

Apelidado de “Obama” — pela semelhança física com o ex-presidente dos Estados Unidos, Marco tinha total poder para negociar cargos e negociatas. Luchesi, por sua vez, ficava em segundo escalão. Em uma conversa, ele diz a Dárcy que ligaria para o deputado federal Baleia Rossi (PMDB) para tratar de cargos. E recebe uma bronca da prefeita: somente ela ou Marco tinham autonomia para isso.



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