Dárcy Vera, do fenômeno das urnas à cassação política

17/03/2017 08:51:00

Ex-prefeita enfrenta hoje mais uma batalha em que deverá sair derrotada e com direitos políticos suspensos

J.F.PIMENTA / A CIDADE - 05.OUT.2008
Ex-prefeita comemora primeira vitórias nas eleições para a prefeitura de Ribeirão (FOTO: J.F.PIMENTA / A CIDADE - 05.OUT.2008)

 

Ao vencer as eleições em outubro de 2008 como a primeira prefeita de Ribeirão Preto com 154,7 mil votos, Dárcy Vera (PSD) não imaginava que o fim de seu segundo mandato teria esse trágico desfecho: na cadeia e com os direitos políticos suspensos.

A mulher das roupas cor-de-rosa, de personalidade forte e sem papas na língua submergiu em um mundo de silêncio e isolamento após a Sevandija.

Antes, querida pelo povo e cercada por 16 partidos. Hoje, enclausurada, sem poder sair de casa. Até mesmo o partido de Dárcy, o PSD, quer vê-la à distância. Dois dias após deixar a Penitenciária de Tremembé, a Executiva estadual a excluiu de seu quadro de membros-titulares.

A mulher, que teve força para lutar pela permanência da Agrishow, trazer a Stock Car e conquistar os R$ 350 milhões do PAC da Mobilidade ao longo de seus dois mandatos, busca fôlego para se defender da acusação de ser a chefe do maior esquema de corrupção já visto na Prefeitura de Ribeirão Preto.

Por conta das acusações da Sevandija, relatório da Comissão Processante recomenda a cassação de Dárcy por três infrações político-administrativas: impedir o livre funcionamento da Câmara, proceder de forma incompatível com o decoro e dignidade do cargo e omitir-se ou negligenciar de receitas, bens ou interesses da cidade.

Na manhã de hoje, a ex-prefeita somará mais um capítulo na sua biografia assim que os vereadores confirmarem a cassação dos direitos políticos.

Sondagem feita pelo A Cidade na tarde de ontem revela que mais da metade dos 27 vereadores votarão nesta manhã pela cassação de Dárcy.

A sessão extraordinária pode durar até 10 horas na subseção de Ribeirão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Segundo o presidente da Câmara, Rodrigo Simões (PDT), a ex-chefe do Executivo teve a oportunidade de se defender ao longo da CP. “E seus advogados terão amanhã [hoje] mais duas horas para fazerem a defesa da ex-prefeita”.

Rodrigo explicou, ainda, que pedirá apoio da Guarda Municipal para fazer segurança da sessão. Acredita-se que pelo menos 80 eleitores devem assistir os vereadores colocarem um ponto final na história política da primeira prefeita de Ribeirão. 

PSD exclui Dárcy da Executiva

Apesar de permanecer filiada ao PSD, a ex-prefeita Dárcy Vera não mantém o mesmo prestígio dentro da Executiva estadual como no passado, quando era, inclusive, consultada sobre as decisões internas da legenda. Dárcy, que era um dos membros, foi excluída dois dias após deixar a Penitenciária de Tremembé, em dezembro do ano passado. Certidão emitida pela Justiça Eleitoral mostra que a ex-prefeita permaneceu como membro-titular da Executiva estadual no período do dia 1º de julho de 2015 a 16 de dezembro de 2016. Filiados contam que a Sevandija também serviu como um divisor de água na amizade entre Dárcy e seu padrinho político, Gilberto Kassab.

Marivaldo Oliveira / Código19 / Folhapress
Presa: Dárcy Vera chega a sede da Polícia Federal em São Paulo

 

Duas derrotas na tentativa de barrar processo

A defesa de Dárcy sofreu duas derrotas na Justiça em fevereiro na tentativa de barrar os trabalhos
da Comissão Processante. As liminares com pedido de suspensão foram negadas pelo juiz Reginaldo Siqueira. Em seu despacho, o magistrado diz não ver qualquer abuso de poder por parte da comissão. “Se os atos praticados no processo administrativo são ou não inúteis, a avaliação cabe exclusivamente à Comissão Processante, sendo vedado ao Judiciário intervir na autonomia de outros poderes”, consta em uma das decisões.

Metade da Câmara vota pela cassação

Sondagem feita pelo A Cidade na tarde de ontem revela que existe tendência forte para que a ex-prefeita seja cassada e fique inelegível por oito anos.

Metade dos 27 vereadores já confirmaram voto favorável pela cassação: Boni (Rede), Elizeu Rocha (PP), Alessandro Maraca (PMDB), Igor Oliveira (PMDB), Lincoln Fernandes (PDT), Orlando (PDT), Fabiano Guimarães (DEM), Gláucia Berenice (PSDB), Bertinho Scandiuzzi (PSDB), Maurício da Vila Abranches (PTB), Isaac Antunes (PP), Paulo Modas (PROS), Jorge Parada (PT) e Jean Coraucci (PDT).

O vereador Igor diz não ter como votar diferente. “Por tudo o que foi descoberto na Sevandija, não existe outro voto. Não podemos deixar isso impune.”

Já Issac disse que Dárcy chegou a ser presa pela acusação de seu envolvimento no maior esquema de corrupção em Ribeirão. 

Vice-prefeito nos dois mandatos de Dárcy, Marinho Sampaio (PMDB) não quis antecipar seu voto ao A Cidade. O presidente da Câmara, Rodrigo Simões (PDT), também decidiu ter o mesma postura de Sampaio ao ser questionado.

Sessão pode durar cerca de dez horas

A sessão extraordinária de hoje promete ser longa e pode durar cerca de 10 horas. Isso porque só os advogados de Dárcy terão duas horas para fazer a defesa e tentar convencer os vereadores a votarem contra o parecer da Comissão Processante que pede a cassação do mandato e a inelegibilidade por oito anos.

A ex-chefe do Executivo poderá acompanhar pessoalmente a sessão e terá um espaço reservado no salão nobre da subseção da OAB (Ordem dos Advogados de Brasil) de Ribeirão.

Questionada sobre qual será a estratégia para conseguir a absolvição de Dárcy, a advogada Claudia Seixas afirmou que não faria qualquer comentário a respeito. A advogada não quis confirmar se irá a sessão para defender a ex-chefe do Executivo, como também não confirmou se Dárcy comparecerá. 

Antes dos advogados da ex-prefeita iniciarem a defesa, cada um dos 27 vereadores poderão se manifestar por 15 minutos. Para esta fase da sessão, a expectativa é que leve quase sete horas. A leitura do relatório consumirá também pelo menos uma hora. Cada vereador declarará em voz alta o seu voto.

 



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