No cantinho da tela, inclusão durante a campanha de Ribeirão Preto

29/09/2016 19:00:00

Decreto de lei em vigor neste ano exigiu a tradução de todos os diálogos em língua de sinais nos programas eleitorais

F.L.Piton / A Cidade
Gesiel e Kérima trabalham com a língua de sinais desde 2008 (Foto: F.L.Piton / A Cidade)

 

Promessas. Propostas. Jingles. Entre tudo o que foi exibido nas propagandas políticas, que se encerra nesta quinta-feira (29), a novidade ficou para o cantinho da tela, que tinha, indispensavelmente, a presença dos que convertem em sinais as palavras faladas. Os intérpretes de libras.

Kérima e Gesiel Santana, ambos de 27 anos, são casados há quatro anos, mas, desde 2008 trabalham com a língua de sinais, que aprenderam em uma igreja.

“O curso era para auxiliar os surdos durante os cultos, mas nós pegamos gosto e se tornou nossa profissão. Hoje, trabalhamos na área educacional. Eu em escola e meu marido com cursos”, diz a intérprete.

De acordo com ela, a área que escolheu exercer é gratificante, pois, apesar da condição alternativa de comunicação, não são todos os deficientes auditivos que dominam as libras. Em contrapartida, a profissão tem ganhado força com o passar dos anos – o que proporcionou a ela e o marido uma nova experiência de trabalho.

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“Pela primeira vez, trabalhamos em propagandas eleitorais. Foi uma oportunidade rica, bem diferente do que estamos acostumados, mas muito importante e de muito respeito para a população. Eles, enquanto cidadãos, têm esse direito”, afirma Kérima.

Lucas Rafael dos Santos, 26 anos, tem uma história parecida. O primeiro contato com as libras foi na igreja e, neste ano, também participou de uma campanha política. Para ele, “um trabalho que exige muito estudo e revisão, mas de muita importância”.

“Minha obrigação como intérprete de libras é transmitir todo o ambiente falado para os deficientes auditivos, de forma imparcial e precisa. Nunca me imaginei fazendo isso, mas faz nove anos que sustento minha família com essa profissão”. E completa: “a área está crescendo, mas ainda falta ser mais valorizada e ter mais reconhecimento”.

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Lucas Rafael diz que a linguagem de sinais tem muita importância (Foto: F.L.Piton / A Cidade)

 

Obrigatoriedade

André Oliveira, 33 anos, nasceu deficiente auditivo e, hoje, comemora o avanço das políticas favoráveis aos surdos – uma delas, a obrigatoriedade de intérpretes em campanhas e debates eleitorais. “O símbolo de acessibilidade que as pessoas têm são as rampas, mas os intérpretes na televisão são um avanço pra quem realmente precisa”, afirma.

A realidade dele é a mesma de outros 9,7 milhões de deficientes auditivos, que representam 5,1% da população brasileira, de acordo com o último levantamento, feito em 2010, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em outras eleições, a participação de Oliveira era limitada.

Em entrevista por escrito, ele afirma ao ACidade On: “Quando as legendas não funcionavam, eu dependia dos outros para saber o que estava acontecendo. Logo eu que sempre tive interesse por assuntos públicos. Portanto, devemos comemorar. Essa é uma iniciativa que deve impulsionar tantas outras que devem ser feitas pelos deficientes no Brasil”.

Apesar das libras serem reconhecidas por lei, desde 2002, como a segunda língua oficial do Brasil, 2016 é o primeiro ano eleitoral em que a presença de intérpretes passou a ser obrigatória em campanhas e debates, conforme a resolução 23.457/15 do TSE.

Neste decreto, pertencente a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência, fica estabelecido que sejam usados dos devidos recursos na propaganda eleitoral para fins de auxílio à pessoa com deficiência auditiva – uma novidade comemorada por André, pelos intérpretes Kérima, Gesiel e Lucas, e todos os preocupados com a acessibilidade no Brasil. (Colaboração: Júlia Fernandes)



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