Política nas ondas do rádio

04/10/2015 13:11:00

Um terço dos vereadores de Ribeirão marcam presença em programas neste veículo de comunicação

Com os mais diversos estilos de programa, 1/3 dos vereadores da Câmara de Ribeirão Preto pode ser ouvido no rádio – seis deles possuem programas próprios atualmente e dois fazem participações.

Enquanto alguns se aventuram há pouco tempo no mais tradicional veículo de comunicação, outros estão nas ondas do rádio antes mesmo de ingressarem na vida política.

É o caso do vereador Coraucci Netto (PSD) – que, na última sexta-feira, completou 56 anos ininterruptos no rádio, 30 anos a mais do que na política. Coraucci comanda dois programas diários de música. “Não sou político que foi fazer programa de rádio para se aproximar da população. Sou um radialista muito apaixonado por músicas que está na política”, diferenciou.

Apesar de nenhum usar o “título” de vereador em seus programas, todos admitem que o rádio os aproxima da população. Para o especialista em marketing político Yuri Félix Araújo, é, sim, uma “estratégia política” (leia mais abaixo).

‘Novo’

Há cinco meses no ar, o programa mais recente é do vereador Maurílio Romano (PP). Com grade de segunda a sexta-feira, das 8h às 10h30, o matutino aborda desde política e economia até cultura. “A intenção é mostrar meus pensamentos sobre questões diversas e apontar soluções”, explicou. Apesar de o programa ser recente, Maurílio é ouvido no rádio há nove anos. Isso porque, desde 2006, o vereador grava boletins diários sobre política e economia.

Aliás, há décadas o rádio é usado como elo entre a política e a população em Ribeirão Preto. São muitos os políticos que saíram do rádio ou trocaram o meio de comunicação pela vida pública – é o caso da prefeita Dárcy Vera (PSD) e do ex-prefeito e deputado estadual Welson Gasparini (PSDB). O veículo também é usado por quem quer ser eleito (leia mais abaixo).

Participação

Marcos Papa (Rede) e Paulo Modas (PROS) fazem participações em programas de rádio. No caso de Papa, são quatro minutos, de segunda a sexta-feira, às 6h30, usados há um ano para falar do cenário político local e de sustentabilidade. “O programa me aproximou de um perfil de público que gosta do meu trabalho como vereador e que, ao mesmo tempo, eu não tinha tanta comunicação: as pessoas idosas”, especificou. Já Paulo Modas participa de um programa de música sertaneja às segundas, quartas e sextas, das 18h às 19h, há seis meses. “Eu sempre tive o sonho de fazer rádio e, agora, realizei. Gosto muito de música sertaneja, até tenho uma dupla.”

História

O rádio é um meio de comunicação tão forte em Ribeirão Preto que sua ampla influência na vida política e social da cidade se tornou tema de livro. Em junho, durante a 15ª Feira Nacional do Livro, “O Populismo Radiofônico em Ribeirão Preto”, do jornalista e professor Divo Marino – e colaborador de A Cidade -, lançado originalmente em 1975, ganhou uma tiragem especial.

A obra retrata o período histórico e cultural de 1940 a 1975, quando o rádio já tinha entre seus apaixonados alguns políticos da atualidade, como o deputado estadual Welson Gasparini (PSDB). Depois de 10 anos afastado dos microfones, Gasparini voltou ao ar, no mês passado, ao lado dos filhos Marcelo e Maurício Gasparini, vereador pelo PSDB.

Aos sábados, das 10h às 11h, o programa da família Gasparini segue o modelo do entretenimento. “O programa não fala de política, não faz denúncia. É mais para homenagear nosso pai, que completou 46 anos de rádio”, contou Maurício.

E além de entretenimento, a população também pode receber prestação de serviço de vereadores, como Jorge Parada (PT) e André Luiz da Silva (PCdoB).

Parada, que também é médico, dá dicas de saúde nas manhãs de sábado, das 7h às 8h, há um ano e meio. “É uma forma de me aproximar da população e prestar um importante serviço.”

Já André foca em questões trabalhistas e sindicais em seu programa que tem 15 minutos diários e uma hora aos sábados. “O programa se diferencia porque tem uma segmentação específica”, avalia o vereador formado em rádio e locução e que atua na área há 15 anos.

Quem também está no rádio antes de ingressar na política é Ricardo Silva (PDT). O vereador comanda um programa de segunda a sexta-feira, das 7h às 10h, com enfoque policial. Apesar de acreditar que o veículo o aproxima do ouvinte, Ricardo – que foi o vereador mais votado na última eleição – não crê que interfira no pleito.

Quem está de olho

Ao mesmo tempo em que é utilizado por políticos que estão no poder, o rádio é também ferramenta de quem almeja ocupar um cargo político. Neste quadro, quem estreou seu programa no rádio recentemente foi o secretário de Cultura, Alessandro Maraca (PSD).

Seu horário de almoço na secretaria é usado para conversar com os ouvintes sobre assuntos diversos, que vão desde empregabilidade até aposentadoria. Apesar de considerar que o cargo de secretário já lhe rende muita popularidade, Maraca, que teve outro programa há cinco anos, admite que o rádio favorece o contato com moradores dos quatro cantos da cidade.

“Como secretário, já tenho a oportunidade de estar sempre em evidência, ainda mais à frente de uma pasta como a de Cultura. Mas o rádio nos dá um retorno imediato também”, ressaltou.


ANÁLISE

Uma estratégia política

“O rádio dá uma projeção que faz com que o político fique ainda mais popular, mesmo sendo um programa de amenidades ou música. O apresentador se beneficia do contato com o povo. O rádio é uma tribuna extra mais poderosa do que a da Câmara. É uma arma para quem está interessado no voto, uma estratégia política. O político que está no rádio leva muita vantagem sobre o que não tem. A legislação eleitoral prevê o afastamento dos políticos um período antes das eleições para que a disputa não fique desleal. Mas o que são meses para quem passou tanto tempo sendo ouvido? A evidência já está conquistada, o nome de quem tem programa de rádio é sempre mais lembrado.”
Yuri Félix Araújo
Especialista em marketing político



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