Secretário de Saúde descarta falhas em morte de andarilho

21/03/2018 07:53:00

Sandro Scarpelini defendeu atendimento prestado a Juliano Machado e falou sobre situação da saúde em Ribeirão Preto

Convocado: Sandro Scarpelini (de branco) falou ontem aos vereadores (foto: Allan S Ribeiro / divulgação Câmara Municipal de Ribeirão Preto)

Convocado pela Câmara para prestar esclarecimentos sobre a morte do andarilho Juliano Machado em 28 de fevereiro, que foi filmado um dia antes convulsionando em frente à UBS (Unidades Básica de Saúde) da Vila Tibério, o secretário de Saúde, Sandro Scarpelini, falou ontem por quase duas horas a 25 vereadores.  

Ele defendeu o atendimento prestado a Juliano, alegando que a convulsão não teve relação com a morte, disse que as UBS não precisam necessariamente ter médicos durante o expediente por não focarem em casos de urgência e evitou bater de frente com os parlamentares.  

Vereadores não aceitaram a justificativa de que UBS podem funcionar sem médicos. O corregedor do Cremesp (Conselho Regional de Medicina) Eduardo Luiz Bin também já se manifestou, ao A Cidade, que "nada justifica a falta de médicos em uma unidade aberta".  

O atendimento a Juliano é alvo de sindicância interna do Cremesp, de inquérito civil do Ministério Público e de inquérito policial conduzido pela Polícia Civil.  

Calmo na maior parte do tempo, Sandro só se irritou quando Maurício Bueno, que filmou a busca por atendimento para Juliano na UBS - recebendo como resposta inicial que não havia médico - reclamou em voz alta por diversas vezes no plenário que houve descaso com a vítima.  

"Filmar e expor a vítima da forma como foi feito que é antiético", rebateu. Veja, ao lado, as principais falas do secretário. 

Morte de Juliano  

Scarpelini disse que Juliano foi atendido na manhã do dia 27 na UBS Vila Tibério. Depois, por volta das 18h, convulsionou enquanto dormia na calçada da unidade e foi levado pelo Samu a UBDS Central, sendo medicado e recebendo alta.  

No dia seguinte, procurou novamente a UBS, apresentando parada cardiorrespiratória abrupta que não estava relacionada com a convulsão. Afirmou, também, que Juliano não apresentava sintomas do ataque cardíaco na noite anterior, então não houve erro de diagnóstico.  

Ressaltou, ainda, que em 2017 Juliano foi atendido oito vezes pela Secretaria de Saúde. "Ele não tinha antecedentes sociais que favoreciam o tratamento continuado" de hipertensão, diz Sandro. "Não foi uma falha que levou à morte", cravou. 

Unidades sem médico  

O secretário afirmou que UBS são destinadas a realizar atendimento eletivo (agendado e sem urgência), e que parte dos serviços são realização de curativos e vacinas, que não exigem a presença de um médico. Exemplificou que nas USF (Unidades de Saúde da Família) o médico não fica fixo na unidade, pois percorre a comunidade, conversando com os moradores.  

Disse que o fato de Juliano ter passado mal em frente a UBS, mas ser atendido apenas na UBDS, seguiu o recomendado. "O ideal em casos de urgência é acionar o Samu, que levará o paciente até a unidade melhor equipada para seu atendimento", afirmou. 

UPA norte  

Sandro Scarpelini disse que a gestão Dárcy Vera não renovou, em 2016, o contrato com a construtora responsável pela obra da UPA Norte, e que o atual governo, embora já tenha assumido há um ano e quatro meses, está finalizando agora uma "avaliação profissional externa" das condições da obra, para verificar quanto falta ser pago e a qualidade do que foi feito. "Concordo plenamente que demora, mas é um processo complicado". Ele não deu prazo para a UPA funcionar. 

Médico que furou escala  

Apesar da escala da UBS Vila Tibério prever médico das 14h às 19h, Sandro disse que o profissional atendeu das 13h às 18h por problemas pessoais. O médico, segundo Sandro, não avisou a gerência da unidade sobre a troca, e sua conduta será apurada internamente. O secretário, porém, diz que a mudança de horário é um problema administrativo sem gravidade, e que não contribuiu para a morte de Juliano. 

Culpa da Câmara?  

Vereadores consideram que, em entrevista a EPTV na semana passada, Sandro criticou a Câmara pelo atual estado da Saúde, pelo fato do Legislativo ter barrado o uso de OS (Organizações Sociais) na gestão da UPA e o uso da UBDS Central como AME. Ontem, ele evitou conflito.  

"Não estou culpando ninguém e nem procurando culpados", mas reafirmando que precisa "do apoio da Câmara e da população" para fazer mudanças. 

Contratação de funcionários  

Sandro pontuou, por diversas vezes, que a Saúde gasta 64% de seu orçamento com folha de pagamento, e que a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) traz amarras para contratação de mais funcionários. "Estamos saindo de um ano de extrema dificuldade, quando era muito difícil fazer investimento".  

Disse que pretende reforçar a Atenção Básica (UBS e USF) com concurso público, mas que a tendência na urgência e emergência é firmar convênios ou seja, terceirizações. "É na atenção básica que queremos vínculo de uma década, duas décadas, do profissional com a população. Outras áreas, vamos precisar avaliar". Ele assumiu que as UBDS e UPAs estão sobrecarregadas. 

'Ultimato' na USP para a UPA Oeste  

Em tom que sugeria cobrança, Sandro citou que está em negociação com o vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP para a universidade assumir a gestão da UPA Sumarezinho, com as obras concluídas desde o primeiro trimestre do ano passado. Ele diz que as conversas com a USP ocorrem desde setembro do ano passado. "Vamos ter que agilizar isso ou tomar outro rumo de conduta". O Plano B da secretaria seria um convênio com a Fundação Santa Lydia.



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