Wagner bancou festa de casamento em Fortaleza com dinheiro de propina

21/11/2017 08:35:00

Foi o que o ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais disse em interrogatório à Justiça em Ribeirão Preto

Matheus Urenha / A Cidade
Wagner Rodrigues prestou depoimento nesta segunda-feira (20) (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

O ex-presidente do Sindicato dos Servidores Municipais e delator premiado Wagner Rodrigues assumiu ontem, ao ser interrogado no processo dos honorários advocatícios da Operação Sevandija, que recebeu R$ 1,2 milhão em propinas. Ele garantiu que gastou todo o valor, mas não soube detalhar como.

Disse, apenas, que parte custeou uma festa de casamento de R$ 30 mil que celebrou no ano passado, em Fortaleza (CE). Também afirmou que emprestou R$ 400 mil de sua atual companheira, e que usou o dinheiro para quitar o débito.

Não soube, porém, explicar o que fez com a quantia emprestada, tampouco como cheques repassados a sua companheira foram parar na conta de terceiros. “Eu gastei, ajudei conhecidos, paguei cirurgia para uma pessoa, viajei... quando parei para pensar em guardar, já tinha ido embora”, afirmou Wagner.

A justificativa não foi aceita pelas defesas dos demais réus – Zuely, Dárcy Vera, Sandro Rovani e Marco Antonio dos Santos -, que afirmaram ser um dos indícios de que a delação do ex-sindicalista é “flagrantemente mentirosa” (ler ao lado).

Pressionado pelo MP e pelas defesas a detalhar os gastos, Wagner se esquivou. Não soube detalhar quantos veículos adquiriu e revendeu no período (listou cinco modelos) nem compras expressivas com o dinheiro da propina.

Gastos

Levando em consideração o período de janeiro de 2013, data em que a prefeitura iniciou os pagamentos a Zuely Librandi, a setembro de 2016, quando a Sevandija foi deflagrada, Wagner teria que ter torrado aproximadamente R$ 900 todos os dias para esgotar a propina recebida.

Ele afirmou ao juiz Lúcio Ferreira, da 4ª Vara Criminal, que não possui nenhum dinheiro aplicado em banco, fundos de investimentos, imóveis ou veículos, em seu nome ou de terceiros, com dinheiro da propina.

Gaeco

O destino do dinheiro de Wagner também entrou na mira do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), que fará um pente-fino para verificar se ele está dizendo a verdade – condição essencial para a manutenção do acordo de colaboração premiada.

Independentemente da localização, o Gaeco irá cobrar, tanto de Wagner quanto dos demais réus, o ressarcimento ao erário do valor desviado. Ao ser pressionado pelo promotor do Gaeco sobre como iria ressarcir, já que não teria sobrado nenhum centavo, Wagner afirmou ontem que “teria que encontrar uma forma”.

A defesa de Wagner diz que a maioria dos gastos foram por meio de cartão [débito ou crédito] ou depósitos e, portanto, possíveis de serem rastreados.

Confissão

No interrogatório, Wagner confirmou que auxiliou, mediante propina, Zuely na obtenção dos honorários advocatícios, e que o acordo também envolvia pagamentos a ex-prefeita Dárcy Vera e seu homem-forte, Marco Antonio dos Santos.

Afirmou que Sandro Rovani lhe contou que fazia os pagamentos a Marco Antonio, mas que Dárcy receberia semanalmente direto de Zuely. Não soube, porém, especificar o montante.

VAI E VOLTA

Wagner afirmou que recebeu a primeira parcela da propina em dezembro de 2012. Foram R$ 50 mil em dinheiro vivo, entregues por Sandro Rovani, segundo seu depoimento. E que, após a prefeitura iniciar os pagamentos dos honorários a Zuely (R$ 4,8 milhões em 31 de janeiro de 2013), ganhou mais R$ 200 mil, em cheques repassados por Sandro.

Entretanto, na listagem da propina recebida, entregue ao Gaeco na semana passada, Wagner diz que recebeu a primeira parcela – R$ 40 mil depositados em espécie em sua conta bancária - apenas em junho de 2013.

Antes de assumir os R$ 1,2 milhão em propinas, Wagner deixou de informar os valores ao Gaeco. Em depoimento no dia 16 de setembro de 2016, ele disse que recebeu apenas três pagamentos de Sandro Rovani.

“Ele podia ajudar... cinco mil...”, consta na transcrição de seu depoimento.

Em 5 de outubro do mesmo ano, porém, subiu o valor: afirmou que ele e Sandro, juntos, haviam recebido R$ 537 mil – metade do valor que apenas Wagner diz ter recebido sozinho.

Segundo a planilha com divisão de propina, apreendida no escritório de Sandro após delação de Wagner, ambos receberiam, somados, R$ 11,8 milhões. “Eu não sei o Sandro, mas jamais recebi tudo isso. Apenas o que informei aqui”, afirmou Wagner.

POBRE

Wagner afirmou que possui apenas um terreno financiado e uma casa da Cohab em seu nome, além de um veículo Celta. Segundo ele, quando a segunda fase da Operação Sevandija foi deflagrada, tinha apenas R$ 3 em uma conta do banco Santander, R$ 53 no Sicoob e seu salário como funcionário público (cerca de R$ 3 mil) na Caixa Econômica Federal. Além da propina e do salário de servidor, ele diz que recebia cerca de R$ 5 mil mensais do Sindicato dos Servidores.

OUTRO LADO

O advogado de Wagner, Daniel Rondi, afirmou que o delator “nunca sonegou informações ao Ministério Público” e que “será fácil” apurar o destino do dinheiro recebido a título de propina, confirmando que seu cliente gastou integralmente. “Tudo o que entrou na conta, saiu. Basta verificar”, justificou.

Disse, também, que nos depoimentos anteriores Wagner já havia alertado que não tinha condições de realizar o levantamento da propina recebida, e que fez a listagem pormenorizada assim que solicitado pelo Gaeco.

Viagens

Questionado pela defesa de Dárcy Vera, Wagner afirmou que já fez viagens internacionais, devido a sua atuação sindical, para Suíça, Nepal, Romana, Bolívia, Panamá, Chile e Argentina. A intenção dos advogados é sugerir que ele possa ter escondido o dinheiro em contas no exterior.
 



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