Casal denuncia motorista de ônibus por homofobia em Araraquara

23/10/2014 15:19:00

"Não estávamos aos beijos, estávamos conversando; nunca me senti tão humilhado em toda a minha vida", diz jovem

Marcos Leandro
O casal Alex e Marcos foi vítima de homofobia (Marcos Leandro/Tribuna Impressa)

Dois jovens de 18 e 20 anos denunciaram um motorista de ônibus por homofobia na noite de quarta-feira (23), em Araraquara, depois que o homem desferiu ofensas ao casal e fez piadas sobre quem era ativo e quem era passivo na relação.

Os rapazes eram passageiros de um ônibus que faz a linha Iedda/Centro e, no ponto final, no Jardim Silvestre, por volta das 13h20, foram questionados sobre os motivos por não haverem descido do ônibus. Marcos, que é morador do bairro, conta que, como não moram na mesma casa, trabalham e estudam, ele e o namorado têm pouco tempo para ficar juntos, então, frequentemente, um acompanha o outro no ônibus para poderem se ver e conversar.

Ontem, ele iria voltar com o ônibus apenas mais algumas quadras até a sua casa para ficar mais tempo com o namorado. Mas a presença dos rapazes parece ter incomodade do motorista. “Ao chegar no ponto, quando não tinha mais ninguém, o motorista desceu e foi ao bar comprar algum tipo de bebida. Ao voltar, nos perguntou porque nós haviamos pegado o ônibus dois dias seguidos”, conta o rapaz.

Não contente, o motorista começou a questionar o relaciomento do casal com desrespeito. “Ele queria saber “quem come quem e quem dá para quem, e depois nos ameaçou cobrar mais duas passagens se fizéssemos isso novamente no dia seguinte. Por fim, nos ofendeu novamente nos chamando de duas biscates e dizendo que aquilo era viadagem”.

Marcos Leandro
"Estávamos apenas conversando, nunca me senti tão humilhado", disse um dos jovens (Marcos Leandro/Tribuna Impressa)

Marcos quis se defender, mas Alex o impediu, pensando na possibilidade de o homem ter uma faca ou canivete e tentasse agredí-los fisicamente. Na volta do ônibus, ele desceu e, então, o motorista quis saber se o namorado de Marcos também ia descer. Caso contrário, teria de pagar outra passagem. O rapaz pagou para não ter problemas.

O garoto de 18 anos, que se assumiu para amigos e familiares há alguns meses, conta que ficou muito incomodado com o ocorrido, por isso registrou boletim de ocorrência e procurou orientação na Assessoria Especial de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual. “Nunca me senti tão humilhado em toda a minha vida. Eu e ele não estávamos aos beijos, muito menos fazendo algo explícito. Estávamos apenas conversando”, relata.

O casal prestou queixa no 4o Distrito Policial, procurou a assessoria especial e irá encaminhar processo de homofobia por meio da Defensoria Pública. “Há alguns meses, eu estava de mãos dadas no Centro com meu namorado, indo a um restaurante e um homem saiu de dentro de um bar e começou a nos seguir. Meu namorado ameaçou chamar a polícia e entramos no restaurante. Uma hora depois, quando saímos, ele estava ali na porta, nos esperando. O Alex teve de reagir e ameaçar chamar a polícia para ele ir embora. Na época eu tinha 17 anos e achamos melhor não seguir com isso. Mas agora é diferente”.

Marcos Leandro
Caso dos jovens será acompanhado pela Assessoria da Diversidade Sexual de Araraquara (Marcos Leandro/Tribuna Impressa)

Para Marcos, a comunidade homossexual não é uma minoria, mas uma grande parcela da população, que é humilhada, ofendida e agredida gratuitamente. E isso não pode ficar assim. “Muitos se calam, por isso, quanto mais as pessoas denunciarem, mais o poder público terá de fazer e irá criminalizar esse tipo de atitude. Porque esse homem deveria é estar preso agora pelo que fez conosco”, fala.

O OUTRO LADO - Procurada para comentar o caso, a empresa de ônibus para a qual o motorista trabalha disse que está é a primeira vez que a empresa recebe uma denúncia desse tipo envolvendo um dos funcionários e abriu uma sindicância interna para apurar os fatos. A empresa ainda disse que deve entrar em contato com os jovens que fizeram a denúncia. 

ENCAMINHAMENTO – O caso de Marcos e Alex é uma das 11 denúncias de homofobia acompanhadas por Paulo Tetti, da Assessoria da Diversidade Sexual, que está orientando o casal sobre como proceder para o processo criminal. Destas, até hoje apenas uma seguiu para a Defensoria Pública e foi para a esfera criminal. “Em geral, as pessoas não denunciam porque têm medo de novas agressões e porque as famílias não sabem que são homossexuais. Mas, se a pessoa não denuncia, amanhã o agressor fará a mesma coisa ou algo pior”, diz Tetti, explicando que esse temor também ocorre em cidades maiores e mesmo em São Paulo, onde existe a linha 100 para denúncias da comunidade LGBT.



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