Godoy, cabeleireiro que plantou duas árvores também para conter a incidência de sol em sua casa (Foto: F. L. Piton / Jornal A Cidade)

Por semana a Secretaria do Meio Ambiente de Ribeirão Preto recebe 30 pedidos de extração de árvores e aplica uma média de 42 multas a cada sete dias pela mesma razão.

Segundo o secretário do Meio Ambiente, Daniel Gobbi, os motivos dos pedidos de remoção das árvores são vários, mas na grande maioria das vezes não é porque elas tenham algum problema como fungos, brocas ou estejam em risco de queda.

“Sujeira, a questão da violência, de que as árvores incentivam o meliante a ficar escondido e até mesmo o comércio de drogas, tudo isso influencia o morador na hora que ele faz esse pedido de extração”, explica.

Conforme ele, depois dos pedidos de extração, engenheiros vão até o local e realizam vistorias, para analisar as condições fitossanitárias e saber se realmente é necessário extração ou apenas realizar uma poda. “Nós aplicamos seis multas todos os dias de poda irregular e extração”, comenta. 

“Geralmente quem recebe a multa são pessoas que resolveram extrair a árvore sem avaliação e sem comunicar à secretaria”, diz Gobbi.

O valor da multa varia de R$ 100 a R$ 15 mil, de acordo com a quantidade de árvores extraídas.
“A população têm denunciado quando percebe essas ações.”

A quantia deve ser revista no Código do Meio ambiente pela pasta, pelo valor mínimo ainda ser considerado baixo.“Hoje a prefeitura tem feito ações de porta em porta, oferecendo as mudas e plantando”, diz.

“Mais do que isso, do que conversar, falar dessa importância na casa das pessoas é complicado. Vai chegar um momento em que teremos que obrigar o cidadão a plantar a árvore”, afirma o secretário.

A presença de verde contribui em favor da umidade do ar, que em Ribeirão entrou em estado de alerta, o que significa abaixo dos 20%.

Bons exemplos

Em contrapartida aos pedidos de extração, dona Margarida da Silva Feliciano, 67 anos, já plantou três árvores em frente à casa dela, como se não bastasse, comprou mais três mudas e fez o plantio na esquina.

Com cuidado e atenção, ela rega as plantas todos os dias e espera ansiosa que elas cresçam e deem flores. “Além da sombra, que é muito boa, eu gosto muito das flores”, comenta.

“Essa última que plantei pedi para meu filho ir comprar uma muda na floricultura, se eu pudesse tinha árvore na rua toda”, conta a aposentada, que também cuida da poda das árvores com carinho.

Sol

O cabeleireiro Flávio Godoy, 56 anos, é contra o corte de árvores. “Eu mesmo plantei duas por causa do sol que bate direto no meu muro e deixa a casa um forno”, diz.

“Espero aproveitar a sombra”, diz Godoy, que, assim como dona Margarida, também rega as mudas todos os dias.

Falta de chuva fez prefeitura plantar menos

A falta de chuva em 2014 fez a prefeitura de Ribeirão Preto segurar o plantio de mudas do programa Vamos Arborizar Ribeirão. Até o momento foram plantadas 1,5 mil mudas e a expectativa é que no final de setembro mutirões sejam feitos para bater a meta de 10 mil plantios.

“Os bairros em que trabalhamos este ano também não tiveram boa recepção das mudas. Agora vamos voltar aos Campos Elíseos, no qual foram plantadas 500 mudas”, diz o secretario do meio ambiente Daniel Gobbi.

Os bairros pelo qual o projeto passou foram: Jardim Maria Goretti, Jardim Maria das Graças, Jardim Piratininga,  Parque Ribeirão Preto, Parque Bandeirantes e Vila Virgínia.

ANÁLISE
Verde ajuda na regulação climática

“Falta um pouco de conhecimento por parte da população. Para serem plantadas nas calçadas, existem espécies adequadas, que não vão provocar quebra das calçadas ou prejudicar a fiação elétrica. Além disso, a importância das árvores na cidade é muito grande. Uma das funções da arborização é justamente a regulação climática.

Quanto mais floresta você tiver, mais áreas verdes, mais umidificação do ar você tem, assim como maior resgate de carbono. Já as árvores plantadas nas calçadas também têm um papel importantíssimo para garantir a infiltração de água no subsolo e manutenção da quantidade e qualidade dessa água”.

Simone Kandratavicius
diretora da ong Pau Brasil