Desesperada, mãe acorrenta filho usuário de crack em Ribeirão Preto

12/03/2014 15:47:00

F.L.Piton / A Cidade
Mãe acorrenta filho usuário de crack em Ribeirão Preto; clique na imagem para assistir ao vídeo (Imagens: F.L. Piton / A Cidade)

 

Notícia atualizada às 22h41

Acorrentado pelo pé, ao lado de um colchão em um pilar de concreto. Era assim que Rafael Pereira Aragão, vivia até esta quarta-feira (12) na sua casa, na avenida Recife, no Jardim Aeroporto, zona Norte de Ribeirão.

Ele foi preso pela própria mãe, Maria Rodrigues Pereira, 40 anos. Com medo de ser morta pelo filho de 20 anos, viciado em crack, ela o acorrentou pela perna, com a ajuda dos vizinhos que pegaram o rapaz à força.

“Não tenho mais lágrima para chorar. Se eu solto ele vai me bater ou vão matar ele na rua. Fiz isso para o bem dele”, afirma Maria Rodrigues, enquanto anda de um lado para o outro da casa, mostrando o que sobrou dos móveis, tudo que o filho ainda não conseguiu levar.

Ameaças

Enquanto a equipe de reportagem estava na casa de Maria, Rafael gritava o tempo todo para que a mãe o soltasse, ameaçou socá-la no rosto uma vez e até jogar um copo de vidro cheio de água nela. Detalhe: ela havia acabado de buscar a água que ele mesmo havia pedido.

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Rafael, 20 anos, foi acorrentado pela mãe, em medida desesperada para tirá-lo do vício do crack (Foto: F.L. Piton / A Cidade)

Os vizinhos já conhecem a história da família e se mostram inconformados com as agressões diárias do filho com a mãe. “Ele vendeu até a panela de pressão dela para comprar droga no começo da semana”, afirma Maria Raimunda Magalhães, 53 anos, vizinha de barraco.

Não foram só as panelas. O filho de Maria também vendeu os calçados, computador e tudo de valor que havia na casa de quatro cômodos. Sobraram a geladeira e dois fogões.

A outra filha de Maria, uma moça de 19 anos, saiu de casa depois que o irmão começou também a roubá-la. “Eu não consigo nem trabalhar. Quando eu estava para ser efetivada como faxineira bateram nele e quebraram os dois braços”, afirma.

Amor de mãe

Mesmo sem saber o que fazer com o filho, Maria não deixou de atendê-lo: montou um prato de comida com arroz, feijão, macarrão, carne e batata e entregou para o rapaz. “Cadê a farinha?”, recebeu em resposta.

Em poucos minutos de conversa com o jornal, Rafael diz que gosta de futebol e que, se arrumarem uma escola para ele jogar, se forem buscá-lo e levá-lo de volta para casa, aceita se tratar do vício. Do contrário, não quer nem ouvir falar de internação. “Eu fujo, não consigo ficar preso”, afirma. Ele conta que usou o crack duas vezes na manhã desta quarta e a fome que sentia era por causa isso.

Comad sugere a família recorrer à Defensoria

O Comad (Conselho Municipal de Álcool e Drogas) de Ribeirão Preto - órgão municipal responsável pela elaboração de políticas públicas para a área - informou nesta quarta que a família de Rafael precisa procurar a Defensoria Pública.

No entanto, mesmo que isso ocorra, a demora deve ser grande. “O processo pela Defensoria para internação compulsória é demorado, podendo levar até um ano”, afirma o presidente Luis Damasceno. 

Segundo eles, os programas atualmente existentes, como o Cartão Recomeço e o programa “Crack, É Possível Vencer” são utilizados unicamente para internações voluntárias.

“O Comad só pode interceder se já houver processo. Nesse caso podemos cobrar, tentar apressar. Sem isso fica difícil”, afirma Damasceno.

Mãe tinha hematomas

Nesta quarta, às 13h10, três viaturas da Polícia Militar de Ribeirão Preto chegaram à zona Leste da cidade, depois de o jornal A Cidade ter ligado para o número de emergências 190, informando sobre o caso da avenida Recife.

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Quebra das correntes foi feita por policiais militares (Foto: F.L. Piton / A Cidade)

Ao chegar, os policiais tentaram acalmar a mãe de Rafael. Após algum tempo conseguiram convencê-la a soltar o filho e acompanhá-los até a Central de Flagrantes, na região central da cidade.

No entanto, como ela não conseguia saber qual era a chave correta do cadeado que prendia as correntes, os policiais precisaram usar um alicate para soltar Rafael.

Pelo fato de Maria Rodrigues Pereira estar com os braços e pernas cobertos de hematomas - supostamente causadas pelas agressões do filho, - os policiais iriam tentar tipificá-lo na lei Maria da Penha.

A lei foi sancionada em 2006 e tem como principal objetivo criminalizar as agressões contra mulheres, ocorridas em ambiente doméstico.



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