A advogada R.C.F.F., 52 anos, está internada há um mês no Hospital São Lucas com botulismo, uma doença bacteriana rara e grave que pode produzir danos graves nos nervos e músculos e até levar o paciente à morte. O diagnóstico da doença, no entanto, só foi divulgado na última segunda-feira (29) pelo Instituto Adolfo Lutz.  

A Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto confirmou o caso e informou que há mais duas suspeitas em investigação. Segundo a pasta, esses últimos pacientes também apresentam alterações neurológicas que podem ser causadas pelo botulismo.  

Segundo a publicitária I.F., 27 anos, a mãe foi internada no dia 2 de janeiro com vertigem, enjoo, fraqueza, fotofobia e dificuldade para engolir. "Inicialmente pensamos que ela tivesse tido uma AVC, mas no hospital, após os exames, o médico descartou o acidente cerebral e já suspeitou de botulismo", diz a filha.  

A advogada foi internada na hora, por volta das 17h30. Às 23h do mesmo dia foi transferida para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde teve uma parada respiratória. No dia seguinte, antes mesmo da divulgação do resultado do exame, a paciente já tomou o soro antibotulínico. 

Contudo, o surgimento de alterações neurológicas no dia 4, fez a equipe médica suspeitar também de que a paciente estivesse com a Síndrome de Guillain-Barré. A doença foi descartada posteriormente.  

R., que ficou internada na UTI por 20 dias, sofreu paralisia nos membros. Ela já está no quarto, onde recupera, aos poucos, os movimentos, mas sem previsão de alta. "Ela ainda respira com a ajuda de aparelhos, mas tem reagido bem. Já consegue abrir os olhos e está consciente", afirma a filha.  

Segundo a filha, a advogada já consegue mexer as mãos e pernas, mudar a posição do corpo e, apesar de ainda não falar devido a uma traqueostomia, se comunica com os filhos por meio da escrita. "Estamos bastante otimistas. A fase de risco da doença já passou e agora é esperar os movimentos voltarem."  

A publicitária elogiou a rápida intervenção médica e o diagnóstico certeiro da equipe do São Lucas. "Como os médicos suspeitaram desde o início que podia ser botulismo e já prescreveram o soro, a chance de plena recuperação é de 100%. Estamos bem otimistas."  

ACidade ON tentou ouvir o neurologista Francisco Coletto, chefe da equipe responsável pelo caso da advogada, mas não conseguiu contatá-lo. Foi deixado recado com a secretária dele em seu consultório particular, mas até a publicação desta reportagem, não houve retorno.  

Vigilância Sanitária  

A publicitária afirmou que a Vigilância Sanitária fez apreensão de leite e um queijo de soja na casa da paciente para tentar descobrir a origem da bactéria causadora da doença.  Segundo a Saúde, o material foi encaminhado ao Adolfo Lutz para análise e ainda aguarda os resultados.  

O botulismo  

Segundo a médica Lúcia Helena Mercuri Granero, coordenadora do Ambulatório de Bloqueio Químico do Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), o botulismo é provocado pela toxina liberada pelas bactérias Clostridium botulinum e Clostridium parabotulinum, que se desenvolvem em enlatados ou em alimentos mal conservados.  

A doença provoca náuseas, mal-estar, vômitos e fraqueza muscular progressiva. Caracteristicamente, as pálpebras caem (ptose palpebral). O comprometimento da contração muscular é responsável pela falta de ar e dificuldade de deglutição que acometem o paciente. Quando a quantidade de toxina é muito grande, a pessoa morre em pouco tempo.