Falta de vacina em farmácia do Estado expõe gestante e bebê a risco

18/01/2018 18:31:00

Isabelli busca há duas semanas a vacina imunoglobulina anti-D; medicamento evita que ela e o bebê sofram complicações no parto

Reprodução WhatsApp
Isabelli tem até esta quinta-feira (18) para tomar a vacina imunoglobulina anti-D (Foto: Reprodução WhatsApp)

 

No relógio de Isabelli Cristina dos Santos Rehder, 25 anos, os ponteiros estão cada vez mais próximos do prazo, e não apenas para dar à luz Larissa Manoela, programada para o começo de março.

A preocupação maior da gestante, agora, é conseguir a vacina imunoglobulina anti-D em Ribeirão Preto. Há duas semanas ela tem procurado o medicamento na Farmácia de Alto Custo do Estado, mas não tem conseguido: "Sempre me dizem que não tem a vacina."

A fórmula é usada como imunização ativa, prescrita em duas doses– a primeira entre as semanas 28 e 34 da gravidez e a segunda logo após o parto – à mãe que possui o sangue com fator Rh negativo, combinado com o fator Rh positivo do pai. Assim como acontece com o casal Isabelli e Kaique.

“O médico que acompanha meu pré-natal pelo SUS receitou essa injeção há duas semanas, e hoje [quinta-feira, 18] é o dia limite. Nesse tempo, fui à farmácia indicada e estava sempre em falta. A única solução, segundo eles, é procurar nas particulares, mas nós não temos condições de comprar”, afirma, em relação ao valor médio, que é de R$ 250. Caso não tome, há o risco de o bebê ter complicações.

Por isso, a mãe, que já passou por outras duas gestações, teme não conseguir o que é dela por direito. “Eu sofro de ansiedade crônica e, somado ao stress da gestação, fico pensando no que pode acontecer com a minha filha. O médico mesmo disse que não posso ficar sem essa aplicação", lamenta Isabelli.

E não pode mesmo. Procurado pela reportagem, o ginecologista João Bosco Meziara disse que, neste caso, a vacina é um protocolo mundial da medicina. “São raras as complicações, mas é importante prevenir para evitar os altos riscos. Após a 32ª semana, o efeito é descartado”, explica.

Isso porque, quando os pais têm fatores Rh opostos, a probabilidade que o bebê herde o tipo sanguíneo do pai é muito grande. “Se no útero houver contato entre o sangue fetal com o materno, o corpo da mãe vai reconhecer isso e desenvolver anticorpos contra ele – isso pode destruir as hemácias do bebê e provocar uma anemia profunda, com risco a transfusão intra-uterina", diz o médico.

Ainda de acordo com o especialista, a vacina previne este risco, antes do período em que a combinação pode acontecer. A segunda dose, aplicada após o parto, fica como precaução para as próximas gestações.

Primeira vez

Além de Larissa Manoela, que está a caminho, Isabelli é mãe de outras duas crianças, de 6 e 4 anos, porém, nunca foi submetida a estas burocracias. Ao ACidade ON, ela disse que nos pré-natais anteriores, as medicações de prevenção necessárias eram feitas no interior do hospital.

Todas as gestações foram acompanhadas por médicos da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Jardim Juliana, localizado na zona Leste da cidade. Contudo, a família mora no Jardim Interlagos.

“Essa foi a única vez que me pediram para ir até outro lugar e buscar um remédio. Não me importaria se fosse para conseguir a imunoglobulina anti-D, mas nem assim foi possível”, finaliza.

Outro lado

Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde informou a vacina é de competência do Estado e que "a paciente, nesta fase da gravidez, deve procurar o serviço à Rua Mal. Deodoro, número 1112, com a devida documentação preenchida pelo médico e retirar a vacina. Em situações diferentes a dessa paciente, a vacina é administrada em hospitais", escreveu, via assessoria de imprensa.

Porém, este processo já foi feito por Isabelli, que espera há duas semanas a chegada do medicamento.

Em nota, a Coordenadoria de Assistência Farmacêutica afirma que a imunoglobulina anti-D é adquirida e distribuída aos Estados pelo Ministério da Saúde. "Porém, o governo federal entregou um quantitativo somente nesta semana, cerca de um mês depois do prazo estabelecido pela legislação federal (20 de dezembro), prejudicando a assistência pelas farmácias estaduais que redistribuem o item", diz a nota.

A coordenadoria também afirma que, para atender os pacientes no primeiro trimestre de 2018, a Secretaria solicitou 69.212 doses. O Ministério aprovou 38.445 e entregou somente 10.109 até o momento, o que equivale a 14,6 % do total solicitado. "Apesar do baixo quantitativo, a pasta está reabastecendo a rede a imunoglubulina estará disponível na farmácia de alto custo de Ribeirão Preto até a próxima semana. A paciente será avisada sobre a disponibilidade", conclui a nota.



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