Camelôs 'driblam' Tolerância Zero em Ribeirão Preto

19/10/2017 10:30:00

Fiscalização intensiva da prefeitura não consegue tirar os trabalhadores ambulantes da região central da cidade

Weber Sian / A Cidade
BAIXADA - Banca de camelô com relógios expostos, na rua José Bonifácio, perto da avenida Jerônimo Gonçalves (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

A fiscalização intensiva adotada pela prefeitura desde janeiro para coibir a presença dos trabalhadores ambulantes no Centro não surtiu o efeito de afastar de vez o comércio irregular na região.

Mesmo com a tolerância zero e as blitze frequentes, basta os fiscais darem as costas para os ambulantes reassumirem os postos, expondo os variados produtos nas calçadas ou no Calçadão.

O A Cidade esteve no Centro e flagrou, às 10h45, a Fiscalização Geral fazendo uma blitz no Calçadão da rua General Osório. No momento do percurso feito pelos fiscais, não havia sequer um ambulante trabalhando na via pública.

Menos de uma hora depois, às 11h37, foi realizada uma nova fiscalização na General Osório, quando também não havia qualquer ambulante. Quinze minutos depois, pouco antes do meio-dia, no entanto, quatro ambulantes já estavam com os produtos expostos na rua – brinquedos, DVDs e água.

Diferente

Nas ruas José Bonifácio e São Sebastião, no entanto, a situação foi bem diferente da encontrada no Calçadão. Pouco antes das 11h a reportagem flagrou ao menos dez camelôs espalhados pelas duas vias públicas vendendo um pouco de tudo: frutas, roupas, carregadores de celulares, relógios, óculos, tênis, DVDs, pendrives, entre outros itens.

“Cheguei aqui na rua José Bonifácio na sexta-feira (13) e, até agora, a fiscalização não veio”, diz um camelô, de 29 anos, que trabalhava na produção de uma indústria de frigoríficos no Paraná e veio a Ribeirão tentar melhorar de vida.

Ele, que prefere não se identificar, vende relógios, pulseiras, anéis e alianças. “Deixei dois filhos no Senegal e espero ganhar mais trabalhando como camelô. Na indústria eu ganhava R$ 900, era muito pouco”, declarou.

O camelô está ciente da proibição de atuar no Centro por lei municipal, mas diz “não ter alternativa”. “Por enquanto aqui está compensando, vamos ver como vai ser nos próximos dias”, concluiu. 

‘Tem muito desemprego, não vai acabar’

Uma camelô que trabalha há quatro anos na rua São Sebastião já perdeu as contas de quantas vezes foi alvo do “rapa” feito pelos fiscais. 

“Com certeza foram mais de dez vezes. Há cerca de um ano levaram tudo”, diz a idosa, de 62 anos, vendedora de confecções. Confirmando o que apurou a reportagem, a camelô diz que os fiscais costumam verificar mais o Calçadão do que as ruas São Sebastião e José Bonifácio.

A idosa justifica que trabalha como camelô porque não teria condições de ter um emprego fixo. 

“Meu filho tem esquizofrenia e precisa de mim, então tenho que ter um horário elástico para levá-lo ao médico, comprar remédio, senão dá surto. Ele ganha só R$ 600 de benefício líquido, que não cobre os gastos. A prefeitura deveria considerar por que estamos trabalhando na rua, é uma necessidade”, conclui.

Weber Sian / A Cidade
CALÇADÃO - Ambulantes vendendo produtos, no cruzamento das ruas General Osório com Visconde de Inhaúma (foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Comerciantes citam concorrência desleal

Comerciantes entrevistados pelo A Cidade consideram a presença dos camelôs nas ruas como concorrência desleal, já que os ambulantes não pagam aluguel ou impostos. “Atrapalha, porque eles vendem a mesma mercadoria da sua loja. Enquanto eu vendo por R$ 30, R$ 40, eles vendem por R$ 10. Não tenho nada contra, não quero tirar o pão de ninguém, mas eles deveriam ter um lugar específico”, diz Rosemeire Solbaro, 50, gerente de uma loja de roupas masculinas e femininas.
A gerente sente a diferença negativa quando os camelôs ficam na porta da loja. “Se eu venderia de 5 a 10 camisetas sem os camelôs, consigo vender 3 quando eles estão”, compara. Outro comerciante, que trabalha há 18 anos no Centro e preferiu não se identificar, vai além. “Não é só a questão da concorrência. Eles tiram pilhas dos aparelhos e jogam dentro do bueiro aqui”, conclui.

Análise - Solução exige fiscais

O diretor do Departamento de Fiscalização Geral, Antonio Carlos Muniz, declarou que a solução permanente para a saída dos camelôs do Centro depende do aumento no número de fiscais, além do apoio irrestrito da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal.

Sobre a falta de fiscalização nas ruas José Bonifácio e São Sebastião, Muniz pondera que as ruas possuem um número grande de ambulantes e, por esse motivo, é necessário apoio reforçado da Guarda e da PM, o que nem sempre é possível.

“A Fiscalização Geral visa o patrulhamento de todo o Quadrilátero Central, contudo, por falta de efetivo, é necessário priorizar determinados locais”, frisou.



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