Focos de queimada dobram na região de Ribeirão Preto

12/08/2017 16:30:00

Nos últimos 90 dias, foram registradas 164 ocorrências de incêndio, ante 83 no mesmo período de 2016

Matheus Urenha / A Cidade
Bombeiro trabalha no combate às chamas no dia 24 de julho, em área próximo à Unaerp; veja mais fotos na galeria (foto: Matheus Urenha / A Cidade)

 

A quantidade de focos de queimada deu um salto e foi responsável por 164 ocorrências de incêndio na região de Ribeirão Preto nos últimos 90 dias. No mesmo período do ano passado, foram registrados 83 casos – crescimento de 97,59% neste ano, praticamente o dobro.

O monitoramento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não contabiliza todos os casos, já que os satélites detectam somente os focos com extensão mínima de 30 metros.

Do total das ocorrências de queimada na região nos últimos 90 dias, 69 focos de incêndio (42% do total) foram registrados em canaviais, segundo informações do Corpo de Bombeiros.

VEJA FOTOS DE QUEIMADAS

Os focos de incêndio nas plantações de cana foram responsáveis por atingir uma área de 331 hectares – o equivalente a 331 campos de futebol.

“A umidade baixa e o vento facilitam o início e a propagação das queimadas”, explica Michel Aparecido Monroe, tenente do Corpo de Bombeiros de Ribeirão. A população pode ajudar na prevenção tomando atitudes simples, como, por exemplo, não jogar bituca de cigarro nas ruas.

O ambientalista Paulo Finotti explica que as queimadas não trazem somente danos ao meio ambiente, já que prejudicam a fertilidade do solo. Segundo especialistas, os agravos à saúde são diversos, inclusive em casos mais graves podem causar a morte.

O tempo seco facilita as queimadas e, segundo o Climatempo, a umidade do ar em Ribeirão Preto chegou a 19% às 13h de ontem, o que configura estado de alerta.

De acordo com o instituto de meteorologia, na segunda-feira (14) deve aumentar a nebulosidade e há previsão de chuva em Ribeirão na próxima terça (15). O motivo é a passagem de uma frente fria vinda do Sul do País. Se esse quadro se confirmar, Ribeirão Preto ficará 49 dias sem qualquer gota – o último dia em que choveu foi 26 de junho, mas apenas 2,4 milímetros.

Crime

As queimadas são crime, conforme prevê o artigo 250 do Código Penal. A lei prega que “causar incêndio, expondo a perigo à vida, à integridade física ou ao patrimônio de outrem” prevê pena de três a seis anos de prisão. O difícil é conseguir fazer o flagrante. “É difícil detectar o causador, geralmente ele não está mais no local”, declarou o tenente do Corpo de Bombeiros.

Incêndios danificam o solo

O ambientalista Paulo Finotti explica que os incêndios são danosos ao solo porque prejudicam a fertilidade do terreno. “O fogo resseca, retira a umidade, item principal para o início da produção e importante para a vegetação crescer”, esclarece. Em caso de queimadas na área urbana, os danos podem ser ainda maiores. “Se em um terreno baldio há, por exemplo, uma lata de tinta, mesmo vazia, há resíduos. A tinta contém chumbo que, ao se volatilizar [passar ao estado de gás ou vapor], é muito agressivo ao ser humano se for inalado”, pontua. Entre os efeitos da contaminação por chumbo estão o declínio cognitivo e, em casos mais graves, pode levar ao coma e à morte – as crianças são mais suscetíveis. “Em áreas com fertilizantes e defensivos agrícolas, a queima produz dois compostos orgânicos cancerígenos que aderem às partículas do carvão. Essas substâncias podem irritar as mucosas e chegar ao pulmão ou ao sangue”, conclui.

Mariana Martins / A Cidade
Das 164 ocorrências de incêndios na região de Ribeirão Preto nos últimos 90 dias, 69 foram em canaviais; veja mais fotos na galeria (foto: Mariana Martins / A Cidade - 17.mar.2013)

 

Fuligem prejudica mais que poeira

O pneumologista Álvaro Gradim explica que a fuligem é mais prejudicial à saúde humana que a poeira porque traz consigo partículas pesadas, muitas contidas em fertilizantes. “A fuligem vem com outros produtos químicos. No caso da palha da cana, adubos costumam conter nitrogênio, fósforo e enxofre”, pontua.

O médico esclarece que as doenças respiratórias – asma, sinusite, rinite, bronquite e traqueíte – podem se agravar, principalmente no período da noite, quando a pessoa aspira a fuligem. “A capacidade de inspirar diminui e isso predispõe a infecções virais ou bacterianas.”

Gradim explica que o calor do dia faz o ar poluído se elevar. “À noite, por conta do resfriamento, as partículas de poluição descem, por isso os problemas de saúde podem piorar.” Uma boa dica, segundo ele, é utilizar um pouco de água para limpar  a fuligem, sem varrer. “Por mais devagar que a vassoura seja passada, as partículas vão se elevar”, conclui.

Cidades vão se ajudar no combate

As cidades da região vão se ajudar no combate a incêndios. Em uma reunião realizada no início desta semana no Ministério Público, com a presença de representantes do Corpo de Bombeiros, da Polícia Ambiental e da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado), foi decidido que será feito um mapeamento dos equipamentos que os municípios dispõem. Ao todo, 20 cidades participaram do encontro. A promotora Claudia Habib explicou que a Defesa Civil dos municípios vai se capacitar para atuar preventivamente e também no combate aos incêndios. “Se a cidade de Cajuru, por exemplo, tem um caminhão-pipa, poderá ajudar uma cidade próxima”, explicou. O MP promoveu ontem (11) mais uma reunião, desta vez com concessionárias das rodovias da região e com o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), para tratar sobre a roçada do mato à beira das estradas.

 



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