Cremesp abre processo para apurar conduta de médico

27/07/2016 07:07:00

Após um ano e meio de investigações, conselho considera que há 'indícios' de erro no atendimento

Milena Aurea / A Cidade
Para a família de Fernando, a notícia da abertura traz, ao mesmo tempo, alívio e descrença (Foto: Milena Aurea / A Cidade)

O Cremesp de Ribeirão Preto (Conselho Regional de Medicina) abriu processo ético-profissional para apurar a conduta do médico Manoel Britto Burgos, responsável pelo atendimento de Fernando Garcia na UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

O homem, que tinha 55 anos, morreu em outubro de 2014 por infecção generalizada após procurar atendimento quatro vezes na UPA de Ribeirão recebendo diagnósticos errados: gases, má digestão, pedra no rim e até mesmo crise depressiva. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil de Ribeirão e pelo Cremesp.

A Cidade obteve documento em que o conselho comprova a abertura do processo, após um ano e meio de sindicância.

“Se foi aberto processo, é porque há indícios de erro. Mas a conclusão vai depender das investigações. Não podemos fazer pré-julgamento”, amenizou Eduardo Bin, conselheiro do Cremesp em Ribeirão.

Agora, com a abertura do processo, o caso será investigado por equipe médica em São Paulo. O conselheiro não esconde a demora. “Pode levar de três a cinco anos. Nós temos mais de três mil processos em andamento”, já adianta Bin.

Para a família de Fernando, a notícia da abertura traz, ao mesmo tempo, alívio e descrença.
“É a comprovação de que teve mesmo erro médico e eu nunca tive dúvidas disso. Mas ainda temos um caminho longo para percorrer. A gente espera que o médico seja afastado”, diz Fernando Garcia Filho.

Inquérito sem conclusão

Passados exatamente um ano e nove meses da morte de Fernando, a Polícia Civil não tem conclusões sobre o inquérito que apura o caso. Em maio, ao A Cidade, o delegado José Luis de Meirelles Júnior, da Corregedoria da Polícia de Ribeirão Preto, que apura o caso, informou que precisava que o Cremesp concluísse a sindicância sobre o caso. Agora, com a conclusão, o delegado informou que é necessário o Cremesp envie documentação que explique a decisão de abrir processo. “Já oficiei o conselho e tenho oficiado várias vezes. Precisamos desses documentos”, informou o delegado. Manoel é investigado pela Corregedoria porque atua como médico legista.

Sindicâncias apontam erros

Sindicância da Prefeitura, divulgada em maio, apontou indícios de imprudência e imperícia médica no atendimento dado a Fernando Garcia na UPA. Entre os apontamentos feitos pela sindicância, consta irregularidade nos prontuários e inadequações em relação a conduta médica e encaminhamentos. Em maio de 2014, Gabriela Zafra, que tinha 16 anos, morreu após buscar ajuda cinco vezes em unidades de saúde municipais. Sindicância da Saúde também apontou que houve erros no atendimento da jovem. Muitos deles foram repetidos no atendimento prestado a Fernando, cinco meses depois. O caso de Gabriela foi arquivado pelo Cremesp, mas o advogado da família recorreu da decisão. Processo sobre o caso corre na Justiça.

OUTRO LADO
‘Fiz o melhor’ médico se defende

“Eu tenho consciência de que fiz o melhor pelo paciente”, defendeu-se o médico Manoel Britto Burgos.
Ele disse também que não foi o único profissional a atender Fernando na UPA. “Ele foi atendido por vários médicos. É um paciente que vinha havia mais de dois anos passando por médicos, mas nunca procurou um especialista”, acusou.

Manoel aposentou do cargo que ocupava na prefeitura, mas continua atuando na UPA por meio de convênio com a Unaerp. Ele relatou à polícia que quando atendeu Fernando na UPA, estava em plantão de 36 horas.



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