Ribeirão Preto ganha uma população de 40 mil idosos em 15 anos

24/05/2016 15:13:00

Número de idosos cresceu quase três vezes mais do que a população entre os anos 2000 e 2015

Weber Sian / A Cidade
A costureira Iraci Xavier caminha 12 quilômetros por semana no parque Raya (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

A proporção de idosos em Ribeirão Preto cresceu quase três vezes mais que a população total e deu um de salto de 78% em 15 anos, crescimento maior que o do Estado.

Em 2000, havia na cidade 51.117 pessoas com 60 anos ou mais. Em 2015, a população nessa faixa etária subiu para 91.376 pessoas. Enquanto isso, o número de moradores de Ribeirão cresceu 28,5% no período.

No Estado, o crescimento da população idosa foi de 69,69% - havia 3,3 milhões de idosos em 2000 e, em 2015, o número saltou para 5,6 milhões.

O geriatra Carlos Rodrigues da Silva Filho considera que o crescimento da população idosa é resultado da melhor distribuição de renda, recuperação do salário mínimo e mais acesso aos serviços de saúde e educação – a campanha pública de vacinação contra gripe é um exemplo.

No entanto, Silva Filho destaca que o fato de estarem vivendo mais não significa que os idosos têm hoje mais qualidade de vida do que no passado.

“Muitos deles migraram de um país rural e chegaram à idade avançada agredidos e com doenças acumuladas. Isso gera uma sobrecarga ao Estado, principalmente nos segmentos de saúde e Previdência Social.”

Um dos maiores desafios, destaca, passa pela mudança das regras na Previdência. “Não haverá recursos para todos, então será necessário mexer nas regras para os que chegam ao mercado agora, que devem entender que será cedo se aposentar aos 50 ou 55 anos”, conclui.

Arte / A Cidade

 

Planos

O antropólogo Claudio Bertolli Filho compara a visão do idoso perante a sociedade. “Até os anos 1960, uma pessoa depois dos 50 anos já era considerada velha, se aposentava mais cedo, ficava em casa. Hoje os idosos não abdicam mais de ter planos, de sair de casa”.

Um dos reflexos dessa mudança, explica, é econômico, já que os idosos se tornaram um público consumidor ativo. “Hoje eles têm mais autonomia econômica, muitos recorrem a tratamentos estéticos para parecer mais jovens”.

Por outro lado, Bertolli explica que, quanto mais ativo, maior alvo de preconceito será o idoso. “Será alvo porque aparece mais socialmente, está trabalhando mais, e isso gera certa concorrência com os mais jovens”, conclui.

Sem abrir mão das atividades de lazer, como as viagens, a costureira Iraci Patrocínio Xavier, 70 anos, caminha quatro vezes por semana, cuida da casa e ainda segue trabalhando.

Infográficos / A Cidade

 

Final de concurso é dia 8

A Prefeitura de Ribeirão promove a 6ª Edição do Concurso Miss e Mister Terceira Idade. Neste ano, a final do concurso será realizada no Theatro Pedro II em 8 de junho, às 14h. Nesse dia, a entrada será um quilo de alimento não perecível.

Cada um dos vencedores levará para casa uma viagem com direito a acompanhante para Araxá (MG).

O Mister receberá um relógio e a Miss, um conjunto de colar e brinco. Os segundos e terceiros colocados ganharão prêmios como jantar, almoço, roupas e sapatos. “A iniciativa tem o objetivo de elevar a autoestima e promover a interação entre os idosos”, diz Paulo Picolo, responsável pela Coordenadoria Municipal do Idoso.

A penúltima etapa do concurso, realizada nesta segunda-feira (23), selecionou as dez finalistas ao título de Miss e os dez candidatos ao título de Mister Terceira Idade.

A comissão julgadora analisou os quesitos beleza, simpatia e elegância, com notas que variaram de 5 a 10. Mais informações: 3917-0323 ou 3626-3899.

Exercício, trabalho e lazer: vida feliz

A costureira Iraci Patrocínio Xavier, 70, caminha 12 quilômetros por semana há cerca de dois anos.

“Depois que comecei a caminhar estou mais esperta, mais disposta”, conta.
Iraci concilia trabalho – costura todas as tardes para clientes particulares – com os afazeres de casa.

Além da caminhada, leitura de romances e contato frequente com as duas filhas e os quatro netos garantem uma vida saudável e ativa.

Uma das filhas mora em São Paulo, aonde Iraci e o marido vão ao menos uma vez por mês visitá-la. 

“Passeio bastante, faço viagens curtas quase todo final de semana, temos chácara em Batatais, tenho irmãs em Franca. Uma vez por ano fazemos uma viagem mais longe. A gente precisa trabalhar a cabeça para não entrar coisa ruim nos pensamentos”, ensina.

Weber Sian / A Cidade
Artur reclama da falta de médicos no posto do José Sampaio e cita peregrinação para ser atendido (Foto: Weber Sian / A Cidade)

 

Mecânico reclama de vaivém em postos

O mecânico de produção Artur Higino da Cruz, 67, reclama do vaivém para conseguir ser atendido pela rede pública em 2015.

Diabético e hipertenso, Artur relembra que foi ao posto do José Sampaio (zona Norte) para ser atendido, mas não havia médico. “Fui até a UBDS Central, não me atenderam também e me reencaminharam para o posto do Sampaio de novo”.

Artur está afastado do serviço há quatro anos por um problema no joelho. “Minha esposa tem 84 anos e está com anemia e infecção na urina. Dependemos dos amigos para nos locomover, é duro ficar doente”.

A Secretaria de Saúde explica que o posto não atende demanda espontânea e sim consultas agendadas conforme a gravidade.

Análise>>>Situação exige novos desafios

“A tendência hoje é que a população juvenil caia progressivamente por conta do advento da pílula contraceptiva, da maior igualdade de gêneros e da maior inserção da mulher no mercado – isso implicou em um maior planejamento familiar e, consequentemente, na redução da taxa de fecundidade. Por outro lado, as ações da medicina preventiva e curativa e a melhoria da rede de saneamento básico fizeram aumentar a expectativa de vida da população, situação que exige novos desafios. Ao longo da história, o Brasil sempre foi tido como um País jovem, mas isso mudou. Agora o governo deve priorizar políticas públicas para os idosos, e sempre priorizou ações para crianças e jovens. Mas esse papel não é só do governo. É também das empresas, que devem considerar a grande experiência dos idosos na questão dos empregos, e das famílias, que devem valorizá-los. O Estado deve cuidar dos idosos que não têm família. Já quem tem família deve legalmente ser cuidado pelos familiares”.

Fábio Pacano, sociólogo



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