Mary Pereira trocou Cuiabá por Ribeirão para fazer curso de pós-graduação; se apaixonou pela cidade, a principal da região administrativa que mais cresceu no Estado. (Foto: F.L.Piton/A Cidade)

Entre São Paulo e Ribeirão Preto, Mary Pereira, 23 anos, preferiu o interior. Quando deixou Cuiabá para cursar a pós-graduação em mídias digitais, pôde escolher entre as duas cidades, que ofereciam o curso pelo Senac. “Fiquei completamente apaixonada por Ribeirão. Está valendo muito a pena”, é o saldo de oito meses por aqui.

Se encantou pela hospitalidade. “As pessoas são muito receptivas, calorosas”. E nem mesmo o calor – reclamação tão constante entre os conterrâneos - atrapalha. “Aqui é quente, mas Cuiabá é muito mais”.

A jovem somou ao número de habitantes que colocou a região de Ribeirão Preto no pódio das áreas com maior crescimento populacional nos últimos cinco anos. De acordo com levantamento da Fundação Seade, divulgado nessa semana, entre 2010 e 2014 a região ganhou 64.302 habitantes. Praticamente uma Batatais inteira. O percentual de crescimento ficou acima do Estado.

“A partir de 90, teve início um processo de migração das metrópoles para o interior. A região de Ribeirão, como polo educacional, de saúde e com forte setor sucroalcooleiro, se destaca”, explica o economista Luciano Nakabashi, pesquisador de Crescimento, Desenvolvimento Econômico e Macroeconomia.

O índice anual de crescimento da região de Ribeirão Preto, que engloba 25 municípios, ficou em 1,27%. A análise leva em conta fecundidade, migração e mortalidade. A Fundação prevê que a população do Estado de São Paulo alcançará, neste mês, 43 milhões de habitantes, um acréscimo de 1,7 milhão de pessoas em relação a 2010.

Ainda assim, a taxa de crescimento populacional do Estado nos últimos cinco anos é inferior às registradas entre 2005 e 2010. A Fundação prevê que, nos próximos anos, essa “desaceleração” deve continuar.

O interior, além de apresentar índice de crescimento maior que o do Estado, é responsável por concentrações populacionais representativas. Neste ano, as cinco regiões com maiores taxas de crescimento – Ribeirão em primeiro lugar – passaram a concentrar 15 milhões de habitantes. A região metropolitana de São Paulo concentra 20,4 milhões.

“Para que o crescimento seja positivo, é preciso que as cidades ofereçam suporte para essa população”, ressalta o economista Edgard Monforte Merlo.

Meliah está à procura de emprego

A administradora financeira Meliah de Lima Correia, de Recife, escolheu Ribeirão para viver com a família. (Foto: F.L.Piton/A Cidade)

Meliah de Lima Correia, 36 anos, escolheu Ribeirão Preto para viver com as filhas. Heloísa veio para cá com apenas um mês. “Ela nasceu e já viemos. É quase daqui”, brinca a mãe. Helena tem cinco anos.
A administradora financeira é de Recife, morou em São Paulo e Campinas, mas tem um carinho especial pela terra ribeirão-pretana. “Apesar do calor, eu gosto da cidade. É organizada”.

O único desafio tem sido encontrar emprego. Desde que se mudaram, em março do ano passado, Meliah procura algo na área. “Essa parte está difícil”. Não gostaria, mas chega a pensar em voltar para São Paulo. “É uma ideia”.

Planejamento é essencial

Para que o crescimento populacional seja positivo, avisam os especialistas, é preciso organização dos órgãos públicos municipais.

“É uma oportunidade, mas precisamos estar preparados. É preciso planejamento, investimento, segurança para receber bem a população maior”, alerta o economista Luciano Nakabashi. Trânsito, criminalidade, saúde, educação: todo o aparato público precisa ser reforçado para atender ao acréscimo populacional, ele avisa.

“É um desafio da gestão: dar suporte ao crescimento”, concorda o economista Edgard Monforte Merlo.
O crescimento de Ribeirão, destaca o economista da Acirp (Associação Comercial de Ribeirão Preto), Fred Guimarães, está ligado a múltiplos aspetos. “Saúde, educação, gastronomia, o turismo: são muitos atrativos”.

Para o comércio, ele aponta, o crescimento só traz benefícios. “Quanto mais população, mais gente para comprar”.

Análise - Ribeirão é referência

A partir de 90, tem ocorrido um processo de migração das regiões metropolitanas para o interior. Em São Paulo, o custo de vida é mais alto, há maior violência, trânsito conturbado. As pessoas começaram a buscar outra qualidade de vida, partindo para o interior, que, por sua vez, tem oferecido oportunidades. As regiões que mais recebem essa população são as que têm mais estrutura.

Ribeirão Preto tem estrutura privilegiada. É referência em saúde, educação, esporte, restaurantes, hotelaria. Em 2010, a região de Ribeirão recebeu alto investimento. O carro flex e a demanda do mercado internacional pelo álcool fizeram com que houvesse grande desenvolvimento do setor sucroalcooleiro.

Esse foi um fato de grande importância. Na medida em que há uma crise, como a de agora, a tendência é frear o crescimento populacional. Mas a crise afeta todas as regiões. (Luciano Nakabashi - Economista)