Sobrevivente fala sobre o acidente que matou mototaxista em Ribeirão Preto

05/05/2015 10:32:00

Cleiton da Silva ainda se recupera do acidente que matou brutalmente Lucas Soares, que o levava para casa após o trabalho

Milena Aurea / A Cidade
Cleiton Rodrigo da Silva teve alta na tarde de ontem e, sem conseguir colocar os pés no chão, não sabe como vai se locomover até a UBS

Faltava menos de dois quilômetros para Cleiton Rodrigo da Silva, 33 anos, chegar em casa. Chefe de bar, ele passou a noite de sexta-feira trabalhando. Saiu perto das 2h30 da madruga e perdeu o ônibus. O próximo só passaria às 4h.

“Eu pensei em ir no posto conversar com uns amigos até dar a hora. Mas como eu estava com muito sono, decidi chamar os meninos. Só pegava moto lá”.

Pegou o mototáxi no Jardim Sumaré. O motociclista fez o caminho habitual. Na avenida Patriarca, próximo ao número 2.474, já pertinho de casa, Cleiton sentiu a pancada. “Eu olhei pra trás e vi aquele farol. Ouvi o carro acelerando, acelerando. Ele não parou de acelerar em nenhum momento. Quando a moto virou, eu fui jogado no chão”.

Cleiton e o mototaxista Lucas Soares Gomes, 22 anos, foram atropelados por uma camionete. A moto foi arrastada por cerca de um quilômetro. Um vídeo mostra a atrocidade. O motorista, João Henrique Garcia da Silva, 27 anos, admitiu ter usado álcool e cocaína. Pouco antes do acidente, ele havia se envolvido em uma confusão com outro carro. Em entrevista ao G1, o pai de Lucas ainda acusou o motorista, que foi preso em flagrante, de ter descido da camionete e socado seu filho até a morte.

Lucas morreu no local. Cleiton renasceu. “Eu nasci de novo. Vou comemorar dois aniversários”, disse ontem, já em alta médica.

Ele se lembra de pouca coisa. “Eu só me lembro de ter escutado alguém dizer: ‘Para com isso. Você está louco’. Isso não sai da minha cabeça. Mas é só”.

Com três costelas quebradas, escoriações pelo corpo todo e uma ferida exposta no tornozelo, ele mal conseguia se mover. “Tudo doía. Eu não via nada. Só fechei o olho e esperei”.

Cleiton passou três dias internado no Hospital das Clínicas de Ribeirão e, apesar da alta, ainda precisará de curativos diários, retorno médico, cirurgia no tornozelo. “Ele deveria ter parado. O que ele fez não se faz. Ainda mais nessa situação: bêbado, drogado”.

Reza pela recuperação. Não só física. “Eu não consegui dormir mais. Não esqueço o que aconteceu. Uma pessoa morreu. Eu também podia ter morrido”.

Câmeras de segurança
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Sem andar, Cleiton precisa de cadeira de rodas

Cleiton pegou 30 dias de afastamento do trabalho e teme precisar de mais tempo. “O médico disse que as costelas não colam em um mês. Além disso, vou precisar de enxerto no tornozelo. Não sei como vou fazer”. 

Sem conseguir colocar o pé no chão, ele precisa de uma cadeira de rodas para conseguir se locomover. Vai precisar ir até a UBS (Unidade Básica de Saúde) todos os dias para curativo no tornozelo. “Como é que eu vou se nem consigo colocar o pé no chão?”. 

A família de João Henrique, que é administrador de empresas, telefonou para o jovem. Eles se comprometeram a pagar medicamentos e o que o jovem precisar. O A Cidade tentou contato, mas eles não quiseram se manifestar. 

Para Cleiton, João Henrique deve permanecer na prisão. Ele diz não sentir raiva do motorista. Entende que é cedo, entretanto, para definir o que sente. “Não parei para pensar sobre isso. Só preciso me recuperar. Bola pra frente”.

 



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