'Não dá para esquecer minha prima chorando de dor', diz primo de vítima fatal no trânsito

18/03/2018 07:08:00

Primo de vítima fatal no trânsito espera que motorista embriagado continue preso e depois seja condenado


O casal Drielle e Vinícius (na ponta da mesa) em Bueno de Andrada, momentos antes de ser vítima fatal de acidente na Cunha Bueno (Foto: Arquivo pessoal)

O domingo agradável e divertido entre amigos se transformou em tragédia. A funcionária de lotérica Drielle Ferreira Ribeiro, 29, e o companheiro, Vinícius Ferreira, 24, voltavam em grupo de um encontro de motos em Araraquara para Ribeirão Preto quando na rodovia Cunha Bueno, em Guariba, o motorista Josilon Pereira da Silva, 31, invadiu a pista contrária e bateu de frente com a motocicleta. O casal morreu no hospital.  

O teste do bafômetro indicou 0,97 miligramas de álcool por litro de ar expelido pelo motorista, o que configura crime de trânsito.  

"Eu estava logo atrás em outra moto quando, do nada, o carro invadiu a pista contrária e bateu de frente, foi muito rápido. Inacreditável o que aconteceu. Não dá para esquecer minha prima chorando de dor", desabafa Ruan Aparecido Ferreira, 21, primo de Drielle. Hoje faz uma semana que ocorreu o acidente.

Última foto   
O primo de Drielle relembra que um grupo de 13 amigos em oito motos saiu de Araraquara e fez uma parada no distrito de Bueno de Andrada para comer coxinhas no domingo passado. Lá, reunidos, fizeram uma foto mal sabiam que seria o último registro do casal.  

"Minha prima era uma pessoa alegre, brincalhona", lamentou. Drielle deixou uma filha de 12 anos e o companheiro dela, Vinicius, deixou uma filha de 5 anos. Segundo Ruan, ambos estavam juntos havia pelo menos três anos. 

Agora, a luta da família é por justiça. "O fato de o motorista ter sido preso nos dá um pouco de alívio, mas alívio mesmo só iremos ter quando se concretizar a condenação. Muitos acabam soltos", declarou.   

Estatística  
Drielle e o companheiro Vinícius estão entre as quatro vítimas fatais nas rodovias da região em decorrência da embriaguez ao volante, desde o início do ano. O número já é igual ao registrado em todo o ano passado. Em janeiro, um casal morreu após ser atropelado por um motorista embriagado nas margens da rodovia Carlos Tonani, em Sertãozinho.  

Substituição  
O Detran (Departamento Estadual de Trânsito) esclarece que, com a inclusão do artigo 312-A no Código de Trânsito Brasileiro, desde novembro de 2016, se o juiz aplicar a substituição da detenção (seis meses a três anos) por pena restritiva de direitos, o motorista flagrado embriagado deverá prestar serviços relacionados ao atendimento às vítimas de acidentes de trânsito, seja em equipes de resgate, prontos-socorros, clínicas de reabilitação ou demais entidades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de vítimas de acidentes de trânsito.  

Ações
Sobre o tema embriaguez, a Transerp cita a implantação do programa de educação para o trânsito Siga Consciente, que visa a redução de acidentes, com palestras, dinâmicas, blitze, participações em eventos e ações educativas nas instituições de ensino e empresas. Além disso, destaca o programa Habilita Seguro, que foca os novos condutores com uma palestra no último dia de aula nos CFCs (Centros de Formação de Condutores), levando de maneira dinâmica a importância do respeito às leis de trânsito a fim de se evitar mais acidentes.

Grupo para avisar locais de blitze pode configurar crime   
Motoristas que usam aplicativos de mensagens e redes sociais para avisar os locais de blitze de trânsito poderão ser punidos com até cinco anos de cadeia e multa. A condenação tem base no artigo 265 do Código Penal atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviço de água, luz, força ou calor, ou qualquer outro de utilidade pública. 

Em dezembro de 2017, o Judiciário expediu mandados de busca e apreensão para recolher cinco telefones celulares a partir de uma investigação realizada em Vacária, na serra gaúcha. A partir da análise das mensagens, 17 pessoas foram indiciadas. Os motoristas também foram enquadrados por associação criminosa, que prevê prisão de 1 a 3 anos.  

O delegado Anderson Silveira de Lima, que conduziu a investigação, justificou que o principal perigo é criminosos, assaltantes, traficantes participarem desses grupos, se desviarem de blitze e conseguirem, assim, fugir da ação policial.  

Segundo A Cidade apurou, Ribeirão Preto tem pelo menos um grupo nas redes sociais semelhante, com 300 membros e fila de espera para ingresso.  

Número de multas cai em operações no Estado  
O número de motoristas multados por embriaguez ao volante nas operações do programa Direção Segura no Estado caiu proporcionalmente em 2017 na comparação com 2016. 

Segundo dados do Detran, 5.134 condutores foram autuados entre 48.401 testes do bafômetro aplicados em 2016 no Estado em 262 blitze, o que representa 10,6% do total de motoristas avaliados.  

Em 2017, no entanto, os 78.009 testes do bafômetro aplicados no Estado em 280 blitze resultaram em 5.179 autuações por embriaguez, o que representa 6,6% do total de motoristas avaliados.  

"Os números mostram que as autuações e o crime de trânsito estão diminuindo no Estado. Esse é o nosso objetivo. Cada vez mais estamos investindo em educação para o trânsito para mudar essa realidade e salvar vidas", crê Maxwell Vieira, diretor-presidente do Detran.  

As blitze contam com equipes do Detran e das polícias Militar e Civil, com o foco de prevenir e reduzir acidentes e mortes no trânsito causados pelo consumo de álcool combinado com direção. O Detran exlica que a Lei Seca também é fiscalizada nas ações de rotina da Polícia Militar no perímetro urbano e pela Polícia Rodoviária nas estradas.

Dirigir com CNH suspensa pode levar à cassação
Caso o motorista seja flagrado dirigindo ou se for registrada alguma infração em seu nome durante o período de suspensão de um ano da CNH, a carteira de habilitação será cassada por um período de dois anos, conforme o Código de Trânsito Brasileiro. Além disso, o condutor terá de pagar a multa em dobro, ou seja, R$ 5.869,40.  

Quem tiver a CNH cassada terá que requerer a reabilitação e se submeter novamente aos exames médico e psicotécnico, teórico e prático, como se estivesse tirando a carteira de motorista pela primeira vez.  

Ao entregar a carteira para cumprir o período de suspensão que for estipulado, o Detran emitirá um encaminhamento para que o condutor faça um curso de reciclagem. Os estudos são feitos em casa e a prova é marcada a partir de oito dias a partir do cadastro do motorista.  

Depois de cumprir a suspensão, o condutor terá a CNH de volta e poderá voltar a dirigir somente se apresentar o certificado de conclusão do curso. A prova tem 30 questões sobre legislação de trânsito, direção defensiva, noções de primeiros socorros no trânsito e relacionamento interpessoal. O preço do curso em Ribeirão custa de R$ 250 a R$ 350.

Casos recentes
11/3/2018 - 
Drielle Ferreira Ribeiro, 29, e Vinicius Ferreira, 24, trafegavam de moto pela rodovia Cunha Bueno, em Guariba, quando o motorista Josilon Pereira da Silva, 31, teria invadido a pista contrária e batido de frente seu Corsa na motocicleta. Os dois ocupantes da moto morreram. Um dia depois, a Justiça decretou a prisão preventiva de Josilon, por homicídio doloso.

20/1/2018 - Um casal morreu após ser atropelado por um motorista que teve a embriaguez constatada pela Polícia Militar na rodovia Carlos Tonani, próximo ao trevo de Sertãozinho. Dário Ramos Costa e Elizabeth Rodrigues da Costa, ambos de 42 anos, moravam em uma propriedade rural de Barrinha. No momento do acidente, eles esperavam um ônibus nas margens da rodovia.

7/5/2017 - Um idoso de 60 anos morreu após ser atropelado nos Campos Elíseos, zona Norte de Ribeirão. O motorista que causou o acidente disse aos policiais que ingeriu bebida alcoólica de madrugada e voltava para casa, quando dormiu ao volante. A vítima foi atropelada na calçada da avenida Capitão Salomão e teve uma das pernas prensada contra um poste.  

Mudança na lei  
- Começa a valer, no final de abril, a lei federal que prevê pena maior para o motorista bêbado que provocar acidente com morte no trânsito 

- A lei altera o Código de Trânsito Brasileiro para permitir que os infratores sejam enquadrados no crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), com pena de 5 a 8 anos de prisão

- Atualmente, o código estabelece que a pena por homicídio culposo varia de 2 a 4 anos e não faz menção clara ao caso de motoristas embriagados.

- Pela lei atual, penas inferiores a 4 anos permitem que a punição seja convertida em prestação de serviços à comunidade



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