Jovem de 14 anos deixou os estudos 'para trabalhar'

04/09/2015 08:35:00

Em Ribeirão Preto, 23 escolas da rede pública registram taxa de abandono acima da média nacional

Weber Sian / A Cidade
Maicon explica que deixou a escola este ano porque precisou trabalhar: confessou, também, que a escola não o motiva a estudar (foto: Weber Sian / A Cidade)

Um em cada quatro alunos que ingressaram em 2014 no primeiro ano do Ensino Médio na Escola Estadual Vereador Orlando Vitaliano, na zona Norte de Ribeirão Preto, abandonou as aulas ao longo do ano letivo. E o problema não é isolado.

Levantamento feito pelo A Cidade junto ao Ministério da Educação mostra que 23 escolas da rede pública de ensino registraram, no ano passado, taxa de abandono acima da média nacional – a reportagem levou em consideração unidades localizadas na área urbana e excluiu as de ensino particular. A maioria delas está localizada na zona Norte.

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No contexto, Ribeirão não vai mal: a média municipal de abandono dos anos iniciais (1º ao 5º) e finais (6º ao 9º) do Ensino Fundamental e Ensino Médio é inferior à do Brasil. Nos dados globais, entretanto, escolas com indicadores bons acabam camuflando as demais.

“Ter um aluno fora da escola é inaceitável para um país que quer se desenvolver”, alerta Ricardo Falzetta, gerente de conteúdo da ONG Todos Pela Educação.

Com 666 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgada na semana passada, Ribeirão é um dos polos de crescimento do país – proporcionalmente, a cidade com mais de 300 mil moradores que mais cresceu no Estado de São Paulo.

Estado
Das 23 escolas que registraram abandono acima da nacional, 21 são da rede estadual de ensino. A Secretaria de Estado da Educação diz que vem reduzindo os indicadores e lançou, no mês passado, a campanha “Quem Falta Faz Falta”, na qual comunica até a Vara da Infância e Juventude quando os alunos chegam próximo de 20% de ausência nas aulas.

As novas estatísticas incluem Maicon, de 14 anos. Em março, ele deixou de frequentar a 7ª série da Escola Walter Paiva, no bairro Ipiranga. Lá, segundo os dados oficiais, um a cada 13 alunos abandona a escola entre o 6º e 9º ano do Ensino Fundamental. “Tive que trabalhar”, explica.

No ano passado, ele já tinha ficado três meses ausente – mas acabou voltando após o incentivo da mãe. “A escola não me motiva”, justifica.

Confira mapa com as escolas com taxas de abandono superiores às do Brasil

 

Estado lança campanha contra faltas 

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação ressaltou que a taxa de abandono no Ensino Médio em Ribeirão Preto caiu de 7,5% em 2013 para 6,9% no ano passado. Em 2014, segundo levantamento do A Cidade, São Paulo foi o estado com a segunda menor taxa de abandono do país no Ensino Médio da Rede pública, atrás apenas de Pernambuco.

A pasta lançou a campanha “Quem Falta Faz Falta”, com um conjunto de ações para reduzir o abandono. Entre as medidas está comunicar os pais quando o aluno chegar próximo aos 10% de ausência – antes, a medida era tomada com 20%.  Mesmo assim, caso ele atinja 20%, o Conselho Tutelar e a Vara da Infância e Juventude serão acionados.

“Além disso, a administração regional se reunirá com os grêmios estudantis para aproximar os representantes de alunos na ‘força-tarefa’ para evitar o abandono entre seus colegas”, diz a nota.

Segundo a pasta, a Diretoria Regional de Ensino acompanhará o cumprimento das medidas em todas as escolas citadas pelo A Cidade.

A Prefeitura de Ribeirão Preto diz promover “ações que estimulam a presença e participação das famílias no cotidiano escolar dos filhos” para reduzir o abandono.

Análise - Escola deve ser mais atrativa

“Ter aluno fora da escola é inaceitável para um país que quer se desenvolver, mas o Brasil caminha a passos lentos nesse sentido. O abandono [que ocorre com o aluno que começa o ano letivo, mas deixa de frequentar as aulas] pode ser considerado um pontapé para a evasão [quando sequer ocorre a matrícula]. As escolas não estão sintonizadas com o século 21, os alunos não encontram sentido prático entre o conteúdo e sua realidade. São muitas as medidas que devem ser tomadas, como mudança na formação dos docentes, reorganização curricular, transição menos traumática entre as etapas de ensino, valorização econômica e social dos professores, entre outros, para reformular a escola e torná-la mais atrativa.”  Ricardo Falzetta, Membro do Todos Pela Educação.

 



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