Candidata do PSB adota discurso de que governo precisa de medidas para impulsionar setor sucroenergético e arranca aplausos
Na tentativa de se livrar do rótulo de ser contra o agronegócio e ganhar o “apoio” do empresariado do setor sucroenergético, a candidata à Presidência da República, Marina Silva (PSB), apresentou um discurso favorável à recuperação da cadeia produtiva do etanol e culpou o governo do PT pela atual crise que assola a matriz energética.
Maria visitou ontem a Fenasucro (Feira Internacional de Tecnologia Sucroenergética), em Sertãozinho, e depois cumpriu agenda em Ribeirão Preto.
Além de se apresentar como a “solução”, a ex-ministra do Meio Ambiente declarou que manterá, se eleita, as coisas boas implantadas pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao discursar para 200 pessoas, Marina conseguiu arrancar aplausos ao declarar que o setor sucroenergético está altamente prejudicado pelas decisões equivocadas do governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), o que gerou o fechamento de 70 usinas - 40 ainda estão em processo de recuperação judicial.
“Existe perda de milhares de empregos e um prejuízo, não só na produção de álcool, mas também toda a indústria ligada ao setor, que sofre as mesmas consequências”, afirmou.
Caso seja eleita, a candidata do PSB prometeu unir todos os esforços para viabilizar a recuperação do setor sucroenergético por entender a sua importância estratégica do ponto de vista econômico, social e ambiental para o Brasil.
Entre as ações, consta a estratégia de implantar um marco regulatório que possa fortalecer a matriz energética brasileira.
“É uma demanda do setor e que já vem sendo debatido pelos parlamentares, e que está no nosso programa, é a implantação do marco regulatório, com regras claras, que possa ajudar o setor a ter coragem de investir”, disse.
Prêmio contraditório
Segundo a candidata, é preciso de um governo com menos propaganda e mais governança. “Se fosse de mais governança, o setor sucroenergético não estaria na situação que se encontra hoje”, declarou.
Marina disse que os empresários acreditaram no atual governo e ganharam como presente uma crise. “Olha o prêmio que recebe. O governo não é para fazer propaganda. Governo é para assumir compromisso, transformar em realidade, em realidade que requer os investimentos certos”.
‘Aproveitar as coisas boas de Lula e do FHC’
Outra estratégia de Marina para conseguir romper o preconceito e conquistar o voto comum dos eleitores insatisfeitos com o PSDB e o PT ficou mais evidente ao reafirma em seu discurso que aproveitará as coisas boas implantadas pelo ex-presidente Lula e FHC.
“Nós vamos manter. Até porque não se pode continuar com a velha lógica da oposição pela oposição, que só vê defeitos. Da mesma maneira que não se pode continuar com a lógica da situação, que só ver virtudes mesmo com os erros evidentes”, disse aos berros.
Segundo a candidata do PSB, os programas de transferência de renda ajudaram a corrigir a distribuição de renda, mas devem ser aprofundadas. “Não podemos permitir que mães do Bolsa Família gerem filhas do Bolsa Família.
Ao defender a necessidade de mudar os rumos do Brasil, Marina disse que o FHC deu sua contribuição ao criar o plano real. No caso de Lula, ao promover a inclusão social de mais de 30 milhões de brasileiros. “Reconhecemos a contribuição que deram, mas estagnaram”, disse.
ANÁLISE
‘Discurso que o setor está precisando’
Marina está acenando com o discurso mais liberal e que implica um menor uso dos preços de combustíveis para o controle da inflação, evitando criar atrasos nos reajustes de preços, política que o setor está precisando. O governo não faz os reajustes nos derivados de petróleo para evitar pressões inflacionárias e isso acaba impactando o setor de álcool (que acompanha os preços da gasolina), você acaba penalizando o setor, que deixa de ganhar e trava investimentos. Eu avalio que Marina está fazendo um grande esforço para tentar romper a resistência que existe. Ela, pelo menos economicamente, tem se municiado por pessoas de peso. A gente não sabe se ela vai seguir o discurso após ser eleita, mas que de fato ela está fazendo esforço de se atualizar e de entrar em sintonia com o setor sucroenergético, isso está.
Edgard Monforte Merlo
Economista e professor FEA/USP