Escolas de Batatais receberam comida nas férias

05/08/2014 09:18:00

Sindicância aponta retirada de alimentos no recesso escolar, prefeitura justifica que creches funcionaram

Milena Aurea / Jornal A Cidade
Prefeito Eduardo Oliveira voltou a negar desvios na merenda. (Foto: Milena Aurea / Jornal A Cidade)

Segundo registros de entrada e saída de comida da Cozinha Piloto de Batatais, alimentos foram retirados com destino a “escolas” três dias depois do início do recesso escolar, quando as crianças estavam de férias.

A descoberta foi feita pela sindicância interna aberta pela própria prefeitura para investigar o caso. No relatório final, que compõe as 1,7 mil páginas do documento, consta que foram retirados alimentos no dia 18 de julho do ano passado - o recesso iniciou no dia 15.

Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Batatais disse ontem que as creches não entram em recesso, e o alimento retirado foi destinado a elas. A justificativa não consta no relatório final da sindicância.

“Estamos investigando isso, vendo qual foi o quantitativo que saiu e se foi realmente destinado às creches”, afirma o vereador Ricardo Mele (DEM), relator da Comissão Especial de Investigação (CEI) aberta pela Câmara.

No sábado (2), o A Cidade revelou que a sindicância apontou “fortes indícios de saídas irregulares do produto que seria destinado à merenda escolar”, que foram distribuídos a eventos e entidades, como igrejas.

O relatório contradisse o que o prefeito Eduardo Oliveira (PTB) afirmou em coletiva na semana passada, quando negou veementemente a existência de desvios da merenda.

Ausência
Segundo relatos colhidos, tanto na sindicância quanto na CEI, as irregularidades da cozinha piloto existem há pelo menos dez anos.

Prefeito de Batatais de 2004 a 2012, José Luiz Romagnoli (PTB) era esperado para prestar depoimento à CEI ontem à noite, mas faltou alegando “compromissos particulares”.

Ele já havia deixado de comparecer na terça-feira passada (29), justificando que não teve acesso aos documentos da investigação.

“Queremos saber como funcionava a Cozinha Piloto durante a sua gestão, mas não temos poder de convocação”, diz Ricardo.

Prefeitura abriu sindicância para apurar em abril

As denúncias de desvios da merenda escolar começaram a ser investigadas pela própria prefeitura em abril deste ano,quando foi aberta sindicância.

Depois, a “farra da merenda”, como ficou conhecida, virou alvo da Câmara, da Polícia Civil e do Ministério Público. Os policiais investigam indícios de materialidade e autoria do crime de peculato, que pode resultar em até oito anos de prisão.

Segundo depoimentos de funcionários, havia a constante retirada de alimentos da Cozinha Piloto, que estocava e produzia a comida, para entidades particulares e eventos, como igrejas, o Batatais Futebol Clube e a Festa do Peão.

O A Cidade mostrou, também, que vereadores faziam pedidos à prefeitura, por meio de ofícios, para que alimentos fossem entregues às entidades a eles vinculadas.



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