Falta proposta e sobra sujeira eleitoral

27/09/2014 17:30:00

Enquete do A Cidade mostra que pior problema apontado pelos eleitores é a falta de propostas dos candidatos

09.10.2012 - Joyce Cury / A Cidade
Eleitores esperam conteúdo dos candidatos e rejeitam os populares santinhos eleitorais (Foto: 09.10.2012 - Joyce Cury / A Cidade)

A falta de propostas ou dificuldade em apresentá-las ao eleitorado são alguns dos maiores desafios dos candidatos que disputam as eleições em 5 de outubro.

A ausência de projetos foi, inclusive, o principal fator de perda de votos apontado pelos leitores em enquete realizada no site do A Cidade, com praticamente metade das 119 participações em 24 horas.

VEJA RESULTADO COMPLETO DA ENQUETE

Para o cientista político e professor da Unesp Maximiliano Martin Vicente, a escassez de propostas afeta principalmente os postulantes a vagas no poder Legislativo.

“Nesse caso, há várias situações: quem realmente não tem projetos, quem tem propostas fantasiosas ou, ainda, aqueles que não conseguem espaço para expor seus argumentos”, afirma.

Para driblar esse último item, a petista e candidata à deputada estadual Raquel Monteiro apostou no corpo a corpo nas ruas. Na televisão, sua propaganda no horário eleitoral conta com escassos oito segundos.

“É impossível expor algo com esse tempo. Então intensifico as reuniões nas casas das pessoas, plenárias com militantes, caminhadas pelo município e a divulgação no meu blog e redes sociais”, afirma.

Também em busca de uma cadeira na Assembleia Legislativa, Samuel Zanferdini (PMDB) define o tempo que cada um tem na televisão como “absurdo”. Ele reclama que os partidos privilegiam alguns integrantes, enquanto outros sequer têm espaço para falar seu número de urna.

“Existem também os candidatos que prometem muita coisa milagrosa, e a população acaba tendo descrédito no político como um todo”, diz.

A falta de esperança da população fica evidente em pesquisa realizada pelos institutos Data Popular e Ideia Inteligência, que ouviu 29,6 mil eleitores e foi divulgada na sexta-feira retrasada (12): 92% não acreditam que os candidatos eleitos farão as mudanças necessárias no Brasil.

Maximiliano explica que mesmo quem possui propostas concretas e consegue um mandato no Legislativo encontra dificuldades para colocá-las em prática.

“Nosso sistema político privilegia o poder Executivo, que pode vigorar imediatamente um projeto baixando uma medida provisória, sem necessidade de votação. Já a proposta de um deputado demora anos, até décadas, tramitando no Congresso”, explica.

Infográficos / A Cidade

 

Eleitores rejeitam ataques

Um dos artifícios utilizados pelos candidatos para se tornar mais conhecido – divulgando ou não as propostas – é a utilização de santinhos. Os leitores do A Cidade, entretanto, rejeitam o despejo de papéis pelo chão: 15% dos participantes da enquete no site disseram que a prática faz os candidatos perderem os votos, colocando o item no terceiro lugar em rejeição.

Em segundo colocado estão os ataques aos adversários, com 16%. “Não gosto que fiquem só criticando, tem que mostrar o que pretende fazer”, diz Dagoberto Oliveira, 34 anos, autônomo.

Os ataques, entretanto, vem se intensificando com a proximidade do dia 5 de outubro, principalmente entre os candidatos a governador e à presidência. A tática muitas vezes funciona: em 2008, Celso Russomano (PRB) lideravas as pesquisas de intenção de voto até a semana das eleições.

Após receber um bombardeio dos adversários, aliado a outros fatores, ele acabou ficando fora inclusive da disputa do segundo turno.

Análise>>>Muitos e pouco tempo

A maior parte dos que concorrem ao Legislativo só dispõem de tempo para apresentar nome e número. Com isso, a única opção que resta é fazer reuniões, distribuir panfletos e utilizar a internet. Temos muitos candidatos para pouco tempo, e o horário eleitoral já é considerado excessivo pela população. A solução é uma reforma política, com diminuição de partidos e candidatos. Apesar da falta de tempo, não são todos os candidatos que possuem propostas. Acredito que pelo menos 60% que concorrem não tem condições de assumir uma vaga no Legislativo. Eles são lançados pelos partidos apenas para preencher espaços vagos e conseguir alguns votos para agregar no consciente eleitoral, ajudando a eleger correligionários. Muitos também prometem que vão fazer coisas, como escolas, sendo que no máximo podem prometer defender o tema. Aliás, o eleitor já não suporta mais o candidato que promete resolver tudo. O ideal é focar em um tema e explorá-lo bem, dentro da realidade.

Alex Freitas
consultor político e eleitoral e membro da Abcop (Associação Brasileira de Consultores Políticos)

Campanha contra lixo eleitoral

Antes da enquete do A Cidade, os eleitores já haviam dado mostras que não toleram mais a sujeira eleitoral e a poluição visual. Uma família da zona Norte de Ribeirão Preto instalou uma lixeira exclusiva para os santinhos dos candidatos. Pela internet ainda existe uma campanha para que cavaletes de candidatos sejam destruídos. A moda pegou e muitos políticos vêm tendo prejuízos com o material, que são alvo de vandalismo. Porém, também existem abusos. Uma fiscalização da Justiça Eleitoral flagrou 28 cavaletes em locais irregulares, na semana passada.



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