Câmara de Ribeirão aceitará apenas 'cadastrados' a partir de terça

17/04/2014 00:00:00

Walter Gomes anuncia mais uma medida para 'reforçar' a segurança; manifestantes falam em perseguição

15.abr.2014 - Silva Junior / Especial
Dois homens (ao centro, de camisas listradas) discutiram com manifestantes durante protesto na sessão da Câmara desta terça-feira (Foto: 15.abr.2014 - Silva Junior / Especial)

 

A partir de terça-feira (22), só entrará na Câmara de Ribeirão Preto quem estiver cadastrado e identificado na portaria.

A nova “medida de segurança” foi anunciada nesta quarta-feira (16) pelo presidente Walter Gomes (PR), um dia após o Legislativo ser palco de mais uma manifestação.

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Para quem participa dos protestos, o objetivo é inibir os manifestantes e até persegui-los.
A medida foi definida durante uma reunião com representantes das Polícias Civil e Militar, Guarda Civil Municipal e Comissão de Segurança do Legislativo.

O cadastro consiste na apresentação de um documento pessoal original para que os dados do munícipe fiquem registrados no computador da Câmara. O cidadão também será fotografado por uma webcam.

“Vamos identificar um por um. Tem muita gente que vem à Câmara fazer bagunça e nós não sabemos nem o nome do cidadão”, argumentou Walter.

Para o especialista em Administração Pública Marco Aurélio Damião, o Legislativo precisa ter bom senso e agir dentro do princípio da razoabilidade para preservar a integridade física de todos sem constranger a participação popular.

“Não deve haver radicalismo de nenhuma parte e, pelo que temos acompanhado, me parece que há uma queda de braço entre os manifestantes e a presidência”, avaliou Damião.

Linha-dura

Desde que assumiu a presidência, em janeiro, Walter reativou o detector de metais da porta giratória que fica na recepção da Câmara, instalou um armário para que bolsas e mochilas fiquem guardadas na portaria, determinou a identificação de todos que entram na Casa de Leis - até então sem a aresentação de documento - e autorizou que guardas municipais façam revista pessoal.

Arquivo pessoal
Um dos que discutiu com manifestantes aparece em foto com camisa da escolinha de Walter Gomes (primeiro à esquerda) (Foto: Arquivo pessoal)

O cadastro e agora a identificação com documento devem revoltar ainda mais os manifestantes, que acusam Walter de infiltrar pessoas nos protestos para provocarem confusão.

Na última sessão da Câmara, dois homens discutiram com vários manifestantes. Apesar de negarem vínculo com Walter, eles estavam acompanhados de assessores da presidência.

Nesta quarta, os manifestantes divulgaram fotos da dupla ao lado de Walter - que negou relação.

‘Tentativa de perseguição’

Para Matheus Vieira, integrante do Movimento Jovem Independente, o cadastro anunciado pelo presidente Walter Gomes (PR) tem como objetivo inibir a participação popular e até perseguir os manifestantes.

“Não é por segurança e nem é questão de burocracia, isso é perseguição mesmo e um resquício do sistema coronelista”, criticou.

Além de protestar contra o reajuste no subsídio dos vereadores aprovado no fim de março, os manifestantes também têm comparecido à Câmara para criticar a gestão Walter.

Arquivo pessoal
O outro homem (camisa roxa) fez campanha para o vereador (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo eles, o novo presidente tem se mostrado “muito mais autoritário” que o veterano Cícero Gomes da Silva (PMDB), que enfrentou várias manifestações em 2012 e 2013, mas limitou-se apenas a reforçar o policiamento durante as sessões legislativas.

Walter nega envolvimento

Os manifestantes divulgaram nesta quarta, no Facebook, fotos dos dois homens que discutiram com eles durante a última sessão. Nas imagens, a dupla aparece ao lado de Walter Gomes durante jogos de futebol e até em campanha.

Eles são acusados pelos manifestantes de terem sido “infiltrados” no protesto para provocar confusão.

Questionados pela reportagem, negaram qualquer vínculo político. “Lugar de protestar é na urna, não é aqui”, disse um deles.

Walter negou que tenha relação com as discussões, mas admitiu conhecer os homens, que inclusive estavam acompanhados de assessores da presidência.

“São pessoas que votam em mim que gostam do meu trabalho, mas qualquer ação partiu deles. Pelo que disseram foram vítimas de racismo”, ressaltou.



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