'Peça-chave' da Odebrecht fez delação em Ribeirão Preto

16/04/2017 15:33:00

Hilberto Mascarenhas, coordenador do 'setor de propinas' da empreiteira prestou depoimentos na sede da Procuradoria da República

De 2006 a 2014, o departamento comandado por Mascarenhas movimentou US$ 3,37 bilhões (Foto: Reprodução)

 

Foi em Ribeirão Preto que boa parte das revelações de corrupção generalizada envolvendo a Odebrecht veio à tona. Peça-chave na delação premiada da empreiteira, Hilberto Mascarenhas, coordenador do Setor de Operações Estruturadas – responsável por abastecer políticos com propina e doações de caixa 2 – prestou os depoimentos na sede da Procuradoria da República do município.

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De 2006 a 2014, o departamento comandado por Mascarenhas movimentou US$ 3,37 bilhões, segundo documento apresentado por ele no acordo de colaboração.

Entre as principais revelações de Mascarenhas em Ribeirão Preto, feitas em dezembro de 2016, está que o irmão de Lula - Frei Chico - recebia uma “mesada” da empreiteira, que Eduardo Cunha recebia “pagamentos em reais feitos em Brasília” por meio de um doleiro e que a Odebrecht utilizava a cervejaria Itaipava para obter recursos em espécie no Brasil.

Mascarenhas também explicou que a planilha “Italiano”, feita a pedido de Marcelo Odebrecht, era um controle de “créditos” para pagamentos ilícitos. O codinome faz menção ao ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da Fazenda e nome forte do PT, Antonio Palocci.

“Eu acredito que ele [Palocci] funcionava como preposto do partido”, diz Mascarenhas em vídeo gravado em Ribeirão Preto, citando pagamentos a marqueteiros de campanha que eram debitados da conta “Italiano”. Segundo o jornal "O Globo", o ex-executivo Fernando Migliaccio afirmou que R$ 120,5 milhões foram pagos por meio da Planilha Italiano.

Os envolvidos

Os depoimentos de Mascarenhas em Ribeirão Preto foram prestados aos procuradores André Menezes e Carlos Roberto Diogo Garcia, ambos da Procuradoria da República do município, e a Gabriel da Rocha, da Procuradoria localizada em Barretos.

Eles serviram de base, em conjunto com o de outros delatores, para a Procuradoria Geral da República pedir investigação sobre 16 fatos ou agentes políticos, conforme consulta feita pelo A Cidade na Edição Extra no Diário da Justiça Eletrônico de 11 de abril de 2017, na qual o Ministro do STF Edson Fachin se manifesta sobre as demandas:

- Senador Humberto Costa (PT), por favorecimento da Odebrecht em um contrato com a Petrobras. Apelidado de “Drácula”, Costa teria recebido R$ 591.999,00 para custear campanhas eleitorais;

- Deputado Federal Paulinho da Força (Solidariedade), por repasse de R$ 1 milhão na campanha de 2014;

- Senador Jorge Viana (PT) e governador do Acre Tião Viana (PT), devido ao repasse de R$ 2 milhões, sendo apenas R$ 500 mil “de modo oficial", na campanha para governador em 2010;

- Procurador Geral do Estado do Maranhão, César Martins de Sousa, por ter solicitado “vantagem indevida ao Grupo Odebrecht para facilitar o pagamento de valores devidos à empresa decorrentes de contrato administrativo”;

- Pagamento de “vantagem indevida no contexto da campanha eleitoral de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, no ano de 2014, no valor de R$ 24 milhões, solicitados pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega;

- Repasses ilícitos aos ministros do Governo Federal Moreira Franco e Eliseu Padilha em nome do PMDB e do presidente Michel Temer;

- Relações ilícitas entre Petrobras, Odebrecht e Braskem;

- Anderson Braga Dorneles, então assessor da presidente Dilma Rousseff, acusado de receber R$ 350 mil;

- Repasses ilícitos a Othon Luiz da Silva Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear, e aos ex-funcionários Luiz Soares, Luiz Messias e José Eduardo Costa Mattos, nos valores de 1,5 milhão de euros e R$ 1,2 milhão;

- Parceria com representantes do Grupo Petrópolis (Cervejaria Itaipava) em operações de “troca” de reais por dólares. As operações teriam ocorrido ao longo de quatro eleições (2008, 2010, 2012 e 2014), totalizando cerca de R$ 120 milhões;

- Destruição de provas, fechamento de contas e de offshores e a saída de pessoas do exterior por parte da Odebrecht durante as investigações da Lava Jato;

- Pagamentos ilícitos ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, condicionados à solução de problemas do Grupo Odebrecht com a Petrobras;

- Pagamento de “vantagens indevidas”, no valor de US$ 12 milhões, para campanha em 2010 do Governador da Bahia Jacques Wagner (PT), em troca de concessão de benefícios fiscais ao Grupo Odebrecht. Em 2014, a campanha de Wagner teria recebido R$ 10 milhões “em razão de dívida da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (CERB)”;

- Ex-deputado Federal Eduardo Cunha (PMDB), por “vantagens indevidas não contabilizadas no âmbito das campanhas nos anos de 2010 e 2014”;

- “Mesada” em favor de José Ferreira da Silva (Frei Chico), irmão do ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva;

- Crimes praticados em relação à obra Refinaria Abreu e Lima relacionados a dois contratos celebrados pela Odebrecht, em consórcio com a OAS e com a Petrobras, ambos em 2009, para serviços nos valores de R$ 3,1 bilhões.

Todos os citados na reportagem, em declarações à imprensa, negam os crimes.



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