Relatório da Polícia Federal mostra casos de 'apadrinhamento' em Ribeirão Preto por parte do vice Marinho Sampaio
Marinho Sampaio (PMDB) utiliza ao menos três comissionados da Coderp para serem seus assessores diretos no Palácio Rio Branco – dois deles recebem salário base de R$ 6,9 mil. As manobras não foram publicadas no Diário Oficial e, segundo especialistas, configuram desvio de função.
A utilização dos funcionários consta em relatório produzido pela Polícia Federal a partir de planilhas apreendidas na sala de Maria Lúcia Pandolfo, ex-gerente da Coderp, na Operação Sevandija.
Marinho afirma não existir “problema administrativo ou moral”. O artifício não é utilizado apenas por ele: a prefeita Dárcy Vera (PSD), também mantinha no seu gabinete ao menos uma assessora que, oficialmente, era comissionada da Coderp como “assessor técnico”, com salário base de R$ 8,2 mil.
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Entre os assessores de Marinho estão duas pessoas que ocupam, ao menos em questão salarial, o alto escalão dos comissionados da Coderp: um “assistente de gerência de tecnologia de informação”, com salário base de R$ 6.994,34, e uma “assistente da superintendência para eventos”, com vencimento base de R$ 6.953,58.
Eles foram nomeados na Coderp, respectivamente, em fevereiro e março de 2009 – logo no primeiro trimestre de Marinho como vice-prefeito.
Nem mesmo a Coderp sabe para que serve a “assistente de eventos”: desde quarta-feira passada (30), a reportagem questiona a empresa sobre a função do cargo, mas não houve resposta.
A assessora de imprensa de Marinho é, também, comissionada da Coderp: foi nomeada como “assistente da superintendência” em 2015, recebendo R$ 5,7 mil.
Outros dois funcionários da Coderp que constam como sendo apadrinhados por Marinho na planilha apreendida exercem outras funções: um “assistente de recursos humanos” trabalha na regional de Bonfim Paulista – base eleitoral do vice-prefeito – e um “assistente da divisão técnica” está lotado na Secretaria de Infraestrutura – que foi comandada por Marinho em 2013.
No Portal de Transparência da Prefeitura de Ribeirão Preto, nenhum dos seis casos de comissionados da Coderp citados na reportagem tem o “empréstimo” ao Palácio Rio Branco formalizado.
Caixa preta
Quando era comandada por Marco Antonio dos Santos, a Coderp se negou, mesmo requerida por meio da Lei de Acesso à Informação, a informar os nomes e salários dos seus funcionários, contrariando decisão do Supremo Tribunal Federal
‘Não há nada de ilegal’
Em entrevista ao A Cidade, Marinho assumiu que três funcionários da Coderp foram nomeados por sua indicação e que, apesar de contratados pela empresa, atuam com ele no Palácio Rio Branco. “Não há nada de ilegal ou imoral nisso”, justifica.
“Todo cargo de confiança é de livre nomeação. Como a Coderp faz parte da prefeitura, não há desvio de função no fato desses funcionários atuarem comigo. É lógico que vou trabalhar com quem tenho confiança, e todos eles trabalham corretamente”, afirmou.
Segundo ele, a utilização de assessores lotados em outros órgãos é comum na administração pública, inclusive no Executivo Estadual e Federal.
“Não fui chamado para depor na Operação Sevandija, justamente porque as nomeações atendiam meu trabalho como vice-prefeito, e não como troca de apoio político”, diz.
‘Desvio de função’
Está caracterizado, nesses casos citados pela reportagem, o desvio de função. A regra é que o funcionário, efetivo ou comissionado, deve realizar as atribuições para o cargo no qual foi concursado ou nomeado. A cessão de funcionários é exceção à regra, e ocorre principalmente do Executivo para o Judiciário, por exemplo: para o funcionamento da Justiça Eleitoral. Toda alteração funcional precisa ser formalizada e justificada, com os motivos que levaram à mudança da designação do funcionário. Esse ato precisa, também, ter publicidade, para que haja o controle social. Caso esses pré-requisitos não sejam cumpridos, pode-se configurar infração político-administrativa, passível de punição pelo Tribunal de Contas. Um dos desafios do próximo prefeito será, inclusive, será realizar o levantamento do número de funcionários cedidos para verificar a situação do funcionalismo.
Marco Aurélio Damião, especialista em administração pública
‘Luxo’ cedido
Na edição de 5 de novembro, A Cidade revelou que o Daerp ‘emprestou’ um motorista de luxo para a Câmara, que em outubro recebeu salário de R$ 11,9 mil pago pela autarquia. O empréstimo é parecido com o realizado pelo Palácio Rio Branco com os comissionados da Coderp: não teve publicação no Diário Oficial ou qualquer tipo de publicidade. Após a publicação da reportagem, o motorista retornou ao Daerp.